A 21 fase da Lava-Jato, a “Passe Livre”, é a que mais aproximou a narrativa da investigação aos fatos
A
21ª fase da Operação Lava-Jato é a que mais aproxima a narrativa criada
pela investigação àquela produzida pela ordem dos fatos. Quem é seu
protagonista — e notem que não vou antecipar aqui juízos condenatórios,
mas apenas expressar estranhamentos?
Trata-se
de José Carlos Bumlai, cuja contribuição mais notável ao país é ser
amigo de Lula. Era um ilustre desconhecido até outro dia. Com fama de
bilionário do agronegócio, era um ilustre desconhecido da categoria, não
participava dos debates do setor, não tinha nenhuma contribuição a dar à
área na qual deveria ser notável.
Não
obstante, o BNDES, um banco que traz no nome as palavras
“desenvolvimento”, “econômico” e “social” lhe emprestou mais de R$ 500
milhões. A ser como diz o Ministério Público, suas empresas eram mais
candidatas à falência do que a receber mais de meio bilhão de reais. Mas
ele recebeu.
Isso ainda
tem de ser devidamente apurado, dizem a Polícia Federal e o Ministério
Público. Parece, no entanto, não restar muita dúvida sobre o empréstimo
de R$ 12,17 milhões que o Banco Schahin fez ao empresário em 2004.
Segundo os próprios emprestadores, Bumlai era só um laranja voluntário
do PT — um laranja de altíssimo nível, mas laranja ainda assim.
O dinheiro
era destinado ao partido. Bumlai só estava lavando a origem. Cinco anos
depois, esse empréstimo foi quitado por intermédio da Petrobras. Com a
interferência de Lula e de João Vaccari, segundo os representantes do
próprio grupo, o Schahin fez um contrato de US$ 1,6 bilhão para operar
um navio-sonda da Petrobras. E se considerou que aquele empréstimo, que
já havia virado R$ 60 milhões, estava pago.
Eis aí:
não pode haver exemplo mais acabado, mais redondo, mais evidente, da
privatização do bem público pela camarilha que passou a circular em
torno de um rei fanfarrão — o que nunca sabe de nada.
A rigor, o
petrolão nada mais é do que a revelação do que ia por baixo da camada
superficial que era o mensalão. Desde sempre, o que se tem é uma
quadrilha assaltando o Estado brasileiro. E, como sempre, Lula está
muito perto do perigo. E, como sempre, homens de sua estrita confiança
são protagonistas do crime.
Eu não
tenho a menor dúvida de que, fosse o PT uma empresa, e Lula o seu
presidente, Sérgio Moro já teria mandado decretar a sua prisão
preventiva, atendendo a um pedido do Ministério Público. Ocorre que Lula
é a autoridade máxima, incontestável, acima de qualquer divergência do
PT — ele, sim, o principal dos beneficiários últimos de todas as
falcatruas.
Ao chegar a
José Carlos Bumlai, pela primeira vez, a Operação Lava-Jato se aproxima
da verdadeira natureza da cadeia criminosa que tomou conta do Estado
brasileiro. Terá o Ministério Público a coragem de avançar? Não sei! Até
agora, chamemos as coisas pelo nome, ele se acovardou quando a
personagem é Lula; ele se acovardou quando a personagem é Dilma.
Nas vinte
fases anteriores da Lava-Jato, tinha-se a impressão de que um escândalo
pantagruélico, o maior do mundo (até onde se sabe), fora perpetrado por
uns vagabundos que estavam na Petrobras e por políticos de segunda
linha. Até ontem, parecia que o principal homem da sujeira era Eduardo
Cunha.
Agora se
chega a Bumlai, que, obviamente, não existe como figura autônoma. É uma
estupidez fazer essa inferência. Ele é peça importante de uma
engrenagem, que expressa um modo de entender o poder. E até os gramados
de Brasília sabem que era — e é — de uma fidelidade canina a Lula. Com a
devida vênia, coloco na categoria do ridículo a suposição de que
pudesse tomar alguma decisão sem o prévio consentimento do poderoso
chefão.
Não sei o que tem faltado a Rodrigo Janot nesse caso: se coragem, se clareza, se as duas coisas.
Até agora,
a narrativa tem muitos pés e braços, mas nenhuma cabeça. A 21ª fase da
Lava-Jato se aproxima da cabeça e do cabeça. Terá o topete de ir
adiante?
Vamos ver. Ou vai, ou terminará como farsa.
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