Assim, presidente da República e presidente da Câmara se asseguram e se seguram no cargo mutuamente, afrontando a legitimidade, a legalidade e a moralidade
“Se
ele tivesse um pouco mais de visão de Brasil renunciaria ao cargo, mas,
não tendo, vai ter que ser renunciado”. A frase é do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso ao comentar a situação de Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara, durante um seminário da Fundação
Teotônio Vilela, ocorrido nesta segunda. Como se nota, FHC faz alusão a
um movimento de deputados, de vários partidos, para que Cunha deixe a
presidência da Casa.
Parlamentares
do PSDB, PPS, DEM, Rede, PSOL e PCdoB planejam esvaziar a Câmara para
impedir votações. Cunha comentou esse esforço de obstrução nesta
segunda. “Eu fui eleito e o momento da minha eleição acabou. Naquele
momento, eu tive maioria absoluta sem o PT, sem o PSOL e o PSDB. Se eles
estão questionando, podem questionar à vontade. Mas a legitimidade da
eleição ninguém pode tirar. Vou continuar exercendo igualzinho o que eu
estava exercendo até agora”.
A resposta
entra naquelas categoria das coisas que nem erradas estão. Ninguém está
questionando a legitimidade da sua eleição, como ninguém questionou até
hoje a de Dilma Rousseff. Ambos chegaram aos respectivos cargos legal e
legitimamente. A questão é saber se continuam como as condições de
garantir o exercício da legalidade e da legitimidade. E a resposta é
obviamente negativa.
O
presidente da Câmara passou, evidentemente, de todos os limites. As
iniciativas a que recorre para impedir o avanço do processo não passam
de chicanas de quinta categoria. O próximo passo será apelar à Comissão
de Constituição e Justiça da Câmara apontando erros formais na condução
do processo no Conselho de Ética.
Até
aliados seus admitem que não há como a coisa não avançar e chegar ao
plenário. Ele vai tentar retardar ao máximo. Sim, ele sabe muito bem que
vai ser cassado — ou será pela Câmara, o que muito provável, ou será,
na prática, pelo STF, onde não há chance de não ser condenado.
Então pra que tudo isso?
Aliás, a
fala de Cunha sobre a sua “legitimidade” explica por que é evidente que
ele vai recusar a denúncia contra a presidente Dilma Rousseff oferecida
pela oposição.
Que coisa,
né? Quando Cunha era apenas o operoso presidente da Câmara, e Dilma não
sentia seu próprio mandato ameaçado, os dois trocavam tapas. Só
passaram a trocar beijos quando ele foi para a bacia das almas, onde com
ela se encontrou.
Assim,
presidente da República e presidente da Câmara se asseguram e se seguram
no cargo mutuamente, afrontando a legitimidade, a legalidade e a
moralidade.
Que momento lindo!
Isso tudo num país cuja economia vai afundar mais de 3% neste ano e mais de 2% no ano que vem.
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