MEDIÇÃO DE TERRA

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Dia das Baianas tem samba, festa e missa em Salvador


Profissão será registrada no Cadastro de Ocupação

por
Albenísio Fonseca
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Dia de Iansã e Xangô, a quarta-feira, 25 de novembro – data dedicada há 25 anos às baianas de acarajé – foi festejada ontem, em Salvador, com celebração de missa de Ação de Graças, pela manhã, na Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, de onde as quituteiras seguiram em cortejo até à Praça da Cruz Caída, na Praça da Sé, local que abriga o Memorial das Baianas.
Para marcar as “bodas de prata do Dia das Baianas”, houve apresentação de grupos de samba de roda e foram servidos 700 pratos de feijoada com acarajé - bolinho de feijão frito no azeite de dendê, cujo tombamento como patrimônio nacional ocorreu há exatos 10 anos. Iansã é o orixá do ofício das baianas de acarajé.
A data que homenageia a importância histórica e cultural da figura da baiana de acarajé – mulheres que se dedicam à produção e venda dessa iguaria típica da Bahia e uma das figuras mais emblemáticas e populares do Brasil – foi comemorada este ano com o engajamento da categoria na luta contra a violência à mulher. Para assinalar o protesto, elas usavam nos turbantes ou torço (Ojá, em Iorubá) faixas na cor laranja que marca a luta contra o machismo.
A missa, celebrada pelo padre Lázaro em clima de festejo e reflexão, foi marcada por cânticos, danças de candomblé e por leituras de textos bíblicos, sinalizando o quanto o sincretismo ainda é presente entre elas. Na homilia, o padre destacou que as baianas de acarajé “têm sido muitas vezes desvalorizadas, do mesmo modo que as mulheres em geral” e dedicou um momento de silêncio “às mulheres mortas pela violência” que ainda se abate contra as representantes do sexo feminino. Pétalas de flores foram lançadas do Coro da Igreja sobre as baianas.
Profissão será registrada no Cadastro de Ocupação
Segundo Danilo Moura, presidente do Instituto Palmares, em Salvador existem 4 mil filiadas à Abam-Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares, que este ano ganhou status de representatividade nacional. Há, ainda, outras 3 mil filiadas em diversos estados do país. Há 10 dias, a entidade conseguiu abrir diálogo com o Ministério do Trabalho visando o reconhecimento da profissão. O primeiro passo para isso será o registro das “baianas” no CBO-Cadastro Brasileiro de Ocupação.
A presidente da entidade, Rita Santos, esteve anteontem em Brasília com o ministro Miguel Rossetto, acompanhada pelo deputado Davidson Magalhães (PCdoB), quando ficou acertado o registro junto ao CBO. A publicação no Diário Oficial da União “estava prevista para ontem, mas deve ocorrer ainda essa semana”, segundo Danilo Moura. Rita dos Santos, que está à frente da Abam há oito anos, não participou das comemorações de ontem em Salvador. Chegou de Brasília e embarcou de madrugada para Porto Alegre (RS), de acordo com Rita Ribeiro, baiana de receptivo filiada à Abam.
Conforme Marcelo Fritz, integrante do Conselho Nacional e organizador da ABAM no Rio de Janeiro, segundo maior em número de baianas no Brasil, o governador carioca, Luiz Fernando Pezão, assinou em outubro o decreto que reconheceu a baiana como patrimônio também naquele estado. Há uma forte mobilização da Abam esse ano para filiar baianas de acarajé que atuam em Brasília (DF), Fortaleza (CE), Porto Alegre e São Paulo (SP), “onde permanecem isoladas, sem dispor de políticas públicas e ações coletivas”.
Segundo Fritz, “a maior luta que travamos nesse momento é pelo reconhecimento da baiana como profissão, mas há, também, o empenho pela preservação das vestes características, que justificaram o título de bem material, para que a cultura não seja deturpada, principalmente por aquelas que, motivadas por outras religiões, passam a denominar a iguaria por ‘acarajé de Jesus’”.
As baianas de acarajé  são consideradas, desde 2004, pelo Iphan-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,  como Patrimônio da Humanidade. Em 2012 as baianas foram reconhecidas como Patrimônio Imaterial da Bahia e Patrimônio Cultural de Salvador. Na capital, a profissão de baiana de acarajé foi oficializada através do decreto de lei municipal, nº 12.175, de 1998.

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