Ou: Todos os adversários de Dilma estão no paredão. Que coincidência, não!?
Ora,
vamos fechar o Congresso Nacional!? O que lhes parece? O Poder
Legislativo passará a ser exercido por Beatriz Catta Preta, Alberto
Youssef e tipos correlatos. Que tal? Se uma advogada diz que desistiu
até da carreira porque se sentiu ameaçada por uma convocação para depor
na CPI da Petrobras, declaremos o Legislativo do Brasil um Poder
criminoso!
Como boa
parte da imprensa não gosta de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da
Câmara, a gente já aproveita e o pendura num guindaste, pelo pescoço,
com se faz no Irã. No guindaste ao lado, estará Renan Calheiros
(PMDB-AL), presidente do Senado. Mais ao fundo, igualmente enforcados,
Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e Vital do Rego, três ministros do TCU
que podem recomendar a rejeição das contas do governo. Reinando sobre
toda coisa viva, Dilma Rousseff. Mas reinando para quê? Ora, pra nada,
como de costume.
Vocês
notaram? Um a um, todos os “inimigos” do Planalto estão na mira, certo?
Agora só falta, deixem-me ver, abater uns dois ou três no TSE, que é a
outra frente que pode criar constrangimentos para a presidente. E aí
estará tudo perfeito.
Confesso-me
algo chocado com a acolhida que teve em certos setores da imprensa a
estupefaciente entrevista concedida por Catta Preta ao Jornal Nacional
na noite de quinta. Nada contra a coisa em si, claro! Se ela queria
falar, o JN deve ouvir. A questão é saber se alguém que apela ao STF
para não ter de dar declarações a uma comissão de inquérito — a OAB o
fez por ela, eu sei — pode apelar ao programa jornalístico de maior
audiência do país para acusar essa mesma comissão de praticar crimes. Ou
não foi isso o que ela fez? Ou ela tratava de um mero sentimento,
assim…, um temor não mais do que subjetivo?
Agora
virou moda. A ordem parece ser mesmo deslegitimar a CPI. Interessa a
quem? Antonio Figueiredo Basto, advogado de Alberto Youssef e de Júlio
Camargo — aquele homem de muitas verdades premiadas — , enviou uma
petição ao juiz Sérgio Moro pedindo o cancelamento da ida do doleiro a
Brasília na semana que vem. A CPI, CORRETAMENTE, DIGA-SE, marcou uma
acareação entre ele e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento.
Sabem o que Basto alegou? Que a integridade física do delator estará em
risco se isso acontecer.
Mas Basto
não parou por aí. Pela segunda vez, ele voltou a desferir um violento
ataque a autoridades do Legislativo — já havia atacado Eduardo Cunha nas
alegações finais em favor de Camargo. Está escrito lá:
“O seu [da CPI] raio de abrangência não pode se perder, para distorcer o instituto com fins de politicagem de ocasião ou propósitos revanchistas. Nestas circunstâncias, o deslocamento de Alberto Youssef à capital federal compromete sua própria segurança, colocando em xeque sua integridade física e moral!”
“O seu [da CPI] raio de abrangência não pode se perder, para distorcer o instituto com fins de politicagem de ocasião ou propósitos revanchistas. Nestas circunstâncias, o deslocamento de Alberto Youssef à capital federal compromete sua própria segurança, colocando em xeque sua integridade física e moral!”
Doutor
Basto diga o que quiser, e não será este jornalista a contestar o
direito de defesa — ao contrário: tenho sido atacado por alguns idiotas
justamente porque não transijo nisso. Mas eu não reconheço o seu direito
de tentar cassar uma prerrogativa do Poder Legislativo. É surrealista o
que está em curso.
Fazendo de
conta que a CPI não tem o poder para convocar seu cliente e já se
antecipando a uma decisão judicial, Basto avança e diz que Youssef “não
vai se submeter ao teatro de horrores de uma CPI notoriamente
comprometida com interesses não republicanos, onde os personagens
protagonizam uma tragicomédia encenada sob o cenário revanchista de
ameaças veladas e vinganças rasteiras”.
Quais
ameaças veladas? Quais vinganças rasteiras? Com a devida vênia, atitudes
como essa de Basto e a da doutora Beatriz é que transformam a questão
numa chanchada macabra. Sim, existem diferenças entre os depoimentos que
precisam ser esclarecidas. Lembro uma: Paulo Roberto diz que Antonio
Palocci lhe pediu R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010 e que o
doleiro liberaria o dinheiro. Este afirma que nunca aconteceu. Um dos
dois está mentindo. Quem?
Que
coincidência notável, não é mesmo!? Uma a uma, as frentes em que Dilma
pode vir a enfrentar problema estão mergulhadas em denúncias e
dificuldades. Que se apure tudo, claro! Que se noticie tudo, claro! Mas
que se diga tudo, claro!
Sei o que
escrevi, e não retiro uma vírgula de nada. Acho que Eduardo Cunha fez um
excelente trabalho na Câmara, e entendo os motivos por que é alvo do
ódio do PT e de outros tantos. Se cometeu crimes, que pague! Mas lembro
que, inicialmente, integrou a “Lista de Janot” em razão de um depoimento
cediço e meio confuso de um policial. Não entendi, então, por que Janot
não incluiu a própria Dilma no rol. A explicação que ele deu à época é
furada, está demonstrado pela Constituição e pela jurisprudência do
Supremo.
Júlio
Camargo, ex-cliente de Beatriz e atual cliente de Basto, entrou na
história, contra Cunha, bem depois. Até porque, já como delator
premiado, negou o pagamento de propina ao deputado. Mais tarde, mudou a
versão — e continuo sem saber se ele mentiu para a sua então defensora
em algum momento ou se os dois mentiram juntos para a Corte. Pedi a ela
que me mandasse uma resposta. Não mandou. A minha dúvida persiste.
Escrevi na minha coluna na Folha , nesta
sexta, que os interlocutores estão desaparecendo. Pululam
irresponsáveis por todo canto. Agora, já não se poupam também as
instituições na busca desesperada para salvar e cortar cabeças.
As ações
de intimidação atingem hoje a Câmara, o Senado, o TCU e a CPI da
Petrobras. E será preciso resistir. Ou, daqui a pouco, será preciso
entregar a “Politeia” aos homens de negro para que, finalmente, a gente
possa ter uma ditadura de virtuosos.
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