Para serem fabricados ou extraídos, os principais produtos exportados
por Minas no ano passado consumiram quase 12 bilhões de metros cúbicos
de água. São 15 itens, que representam 84% do valor das exportações do
Estado, o equivalente a US$ 24 bilhões.
Essa quantidade de água seria suficiente para encher 42 vezes os
reservatórios Serra Azul, Vargem das Flores e Rio Manso, que abastecem a
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para se ter uma ideia do
montante, o volume equivale a 4,6 milhões de piscinas olímpicas cheias
ou 12 trilhões de litros de água.
Em um cenário de crise hídrica, especialistas alertam para a
necessidade de redução da quantidade gasta, por meio da modernização dos
processos produtivos.
Não há uma estimativa do governo do Estado sobre o volume de “água
virtual” exportada. Mas na balança comercial divulgada pelo Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior há o peso, em quilos,
dos produtos que foram vendidos para outros países.
Utilizando estimativas padronizadas de organizações que calculam a
quantidade necessária de água no processo produtivo – como a Unesco, o
Exporta Minas e o Pegada Hídrica –, é possível saber, aproximadamente,
qual o total de água empregada.
Composição
Nesse rol de produtos exportados, a maioria não contém quantidade
significativa de água, mas utiliza o recurso em alguma etapa da
produção. Da lista dos produtos mais exportados, apenas seis contêm água
em sua composição: café, açúcar, soja, celulose e carne de boi e de
frango.
Os outros nove são minério de ferro, ferro liga, ouro, tubo de ferro
fundido, ferro fundido bruto (ferro gusa), semifaturados de ferro ou
aço, laminados planos de ferro ou aço, automóveis (veja retranca) e fio
máquina e de ferro ou aço. Os maiores consumidores estão na Ásia (veja
infografia).
Na conta da exportação de água, não estão incluídos os milhões de
metros cúbicos utilizados para levar o minério de ferro até o litoral
por meio dos minerodutos. O cálculo para o uso da água nesse processo
contabiliza apenas o beneficiamento básico.
Realidade reflete atraso na economia no Estado, avalia consultor em projetos
A grande quantidade de água utilizada na fabricação dos produtos que
Minas Gerais exporta reflete um atraso na economia mineira. É no que
acredita o professor de comércio exterior e consultor em projetos
internacionais, Caio Radicchi.
“Infelizmente, nós somos exportadores de matéria-prima e a pauta de
exportação de Minas depende muito de água. Essa crise hídrica nos pegou
no contrapé. Novas tecnologias deveriam ter sido desenvolvidas para
diminuir o consumo de água”, argumentou.
Procurados para falar sobre o consumo de água pela indústria mineira,
não se manifestaram a Vale, a Federação das Indústrias do Estado de
Minas Gerais (Fiemg) e a Secretaria do Estado de Desenvolvimento
Econômico.
Carros
Fiat afirma ter reduzido em 68%o uso de água na planta industrial de Betim (Foto: Fiat/Divulgação)
De acordo com o Fórum Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
(FBDS), a produção de um carro consume 35 mil litros de água, o que dá
29,17 litros por quilo, se o cálculo for para um carro com 1,2
toneladas.
Na Fiat, em Betim, alguns procedimentos estão sendo implementados para
economizar água. De acordo com o gerente de Meio Ambiente, Saúde e
Segurança do Trabalho da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América
Latina, Cristiano Felix, desde 1994 foi possível reduzir em 68% o
consumo de água na planta industrial de Betim por cada carro produzido.
Felix garante que o consumo da Fiat é bem menor que 35 mil litros por
carro, e a maior parte é recirculada, ou seja, volta para a linha de
produção. Segundo ele, nas últimas semanas, com a intensificação da
crise hídrica em Minas Gerais, foi identificada a possibilidade de
“economizar 10 milhões de litros de água por mês, o equivalente ao
consumo de 71.500 habitantes/dia”.
Atualmente, o índice de recirculação na empresa chega a 99%. Em 1992,
esse índice era de 92%, e R$ 12 milhões foram investidos para diminuir
ainda mais o consumo.
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