Anderson Sotero
A TARDEUm aspecto é unânime: o Carnaval não é estático. Em 2015, diferentes personagens envolvidos acham que há lições importantes a serem levadas para 2016, como o equilíbrio entre os circuitos Dodô (Barra-Ondina) e Osmar (Centro), trios independentes com artistas renomados e garantia de espaço para o folião pipoca.
"O Carnaval é um processo em permanente evolução. Este ano, houve um equilíbrio maior entre a Barra e o Campo Grande, na quantidade de trios e atrações. O Circuito Osmar há anos vinha sofrendo. Tivemos Timbalada e Daniela Mercury sem cordas. Isso tudo foi importante", opina o diretor da Central do Carnaval, Joaquim Nery.
Para ele, a grande diferença deste ano foi a qualidade. "Trio sem cordas sempre existiu. A diferença foi a qualificação das atrações, com gente de peso que arrastou um volume de público muito maior", diz Nery.
Para 2016, ele defende que as "atrações fortes" devem ser mantidas sem cordas. "A mais importante lição foi a participação popular, com mais trios independentes. Acho que isso é uma tendência de formato para o folião pipoca, que marcou território e mostrou que, sem eles, não existe a festa. E ele estar dentro não significa que tem que acabar camarotes e blocos", destaca o cantor Ricardo Chaves.
O músico e compositor Manno Góes diz que o desafio é atrair investimentos para os trios sem cordas: "As pessoas querem brincar, participar, se fantasiar, interagir. O verdadeiro Carnaval não está mais nas cordas dos blocos nem nos figurinos das celebridades. A rua deu grandes sinais este ano".
O pesquisador e jornalista Nelson Cadena diz que o aumento de trios sem cordas é tendência desde 2013. "É uma tendência de momento, de oportunidade política e atende demanda reprimida da sociedade de décadas. Não creio que resulte, como muitos imaginam, no fim das cordas. O problema é que elas tomaram espaço demais, invadindo o da pipoca", observa Cadena.
O pesquisador destaca, ainda, que é importante o investimento do poder público: "Meu único receio é de que o poder público se torne a grande teta, financie os artistas de holofotes e não sobre dinheiro para investir nas atrações menos midiáticas e, muitas vezes, de melhor qualidade musical".
Após a festa, a prefeitura divulgou que terá "obsessão" em aumentar atrações sem corda. "A Vila Infantil, a Gastronômica e o Furdunço no sentido contrário, no domingo antes do Carnaval, são aspectos positivos. Há grande tendência de a gente manter", diz o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington.
Para Antônio Carlos dos Santos, o Vovô, presidente do Ilê Aiyê, o desfile na rua Carlos Gomes deve ser retomado, além da implantação do Afródromo, no Comércio. "Há blocos junto com o Ilê que querem voltar pelo menos um dia para a Carlos Gomes. E achamos válida a ideia do espaço para os blocos afros desfilarem, com arquibancadas", defende Vovô.
Já Nery elogia o desfile do centro em mão única (av. Sete): "Funcionou melhor, foi mais organizado e houve menos atrasos".
Perda
Apesar dos pontos positivos, a Central do Carnaval, responsável pela venda de abadás e camarotes, teve uma perda de 5%, em relação ao ano passado.
"Mas, no fim, o resultado foi bom. Até dezembro tivemos retração, porém a situação melhorou a partir de janeiro. O país está vivendo a maior crise econômica dos últimos 30 anos e o Carnaval não podia ficar fora disso", pondera Joaquim Nery.
Para 2016, ele acredita que as músicas deste ano irão ajudar na venda de abadás. "Isso vai acontecer. A música de Ivete, Pra Frente, é maravilhosa. A de Daniela, Rainha Má, também. Tem ainda a de Claudia Leite, Psirico e a do peixinho [Oito7Nove4]. Isso vai reverberar nos próximos 12 meses e impactará nas vendas de 2016", destaca o empresário.
Mas, para Cadena, a redução de vendas não começou este ano. "Já vinha ocorrendo e se agrava a cada ano com o menor poder aquisitivo do folião em função do custo altíssimo. Isso era mais ou menos jogado para baixo do tapete. Hoje, os empresários já admitem a crise na procura do abadá, que já é antiga".
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