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A TARDEA musicalidade das palmas foi dando lugar a instrumentos como atabaque, ganzá e reco-reco, logo associados à viola e pandeiro, trazidos de Portugal. Dança e poesia entraram na história e a roda estava formada.
É para celebrar este fenômeno que o I Festival de Samba de Roda do Recôncavo foi idealizado pela prefeitura de São Francisco do Conde, localizada na região metropolitana de Salvador.
A festa começa nesta quarta-feira, 27, e dura três dias, reunindo, nas praças da cidade, grupos regionais de 15 cidades baianas. A abertura do evento contará com atrações conhecidas nacionalmente, entre elas Neguinho da Beija-Flor, Edil Pacheco, Nelson Rufino, Juliana Ribeiro, Aloisio Menezes e Jô Teixeira.
Samba-chula
Além do ritmo, o samba de roda é marcado pelas cantigas que, declamadas pelo solista, são seguidas em coro e dançadas pelas sambadeiras e sambadeiros, com passos miudinhos, rentes ao chão.
Segundo a prefeita Rilza Valentim, o festival é uma homenagem ao ritmo tradicional de todo o Recôncavo, mas sobretudo ao samba-chula, variação muito característica da região de São Francisco do Conde.
Nela, a dança só se inicia depois da poesia e a música tem a presença da viola machete, instrumento construído artesanalmente com dez cordas, dispostas em cinco duplas, de tamanho menor e timbre mais agudo do que o violão.
O objeto está praticamente em extinção e dois deles pertencem ao grupo Filhos de Zé de Lelinha, composto por 25 adultos e 12 sambadeiras mirins, que se apresentará na sexta.
Para a representante do grupo, Edineuza Joana dos Reis, conhecida na cidade como Jane Inês, o evento representa uma conquista para a tradição do local, que uniu diversos grupos na organização da festa.
"A minha expectativa é que os nossos visitantes, principalmente dos grupos de outras cidades, sintam-se em casa. Estaremos caracterizadas pra recebê-los, é um sonho que está sendo realizado", contou a sambadeira, em entrevista por telefone.
Incentivo à cultura popular
A Associação Cultural Zé de Lelinha carrega o nome de um dos maiores violeiros do Recôncavo, que faleceu em 2008 e assumiu, durante toda a sua vida, o compromisso de preservar a forma de tocar a viola de machete, através de oficinas destinadas a jovens da comunidade.
Edil Pacheco, músico convidado para participar da abertura do festival, acredita que as leis de incentivo tiveram mais atenção após o tombamento pela Unesco, em 2005, e diz ser gratificante ver prefeituras promovendo este tipo de encontro.
"Não tenho dúvidas de que o ritmo ganhou mais dignidade e popularidade. Hoje, é raro ver algum disco de samba que não tenha o samba de roda incluído. Ele está em tudo", declara o compositor, que cresceu ouvindo o samba nas ruas de Maragojipe, com palmas, garfo e faca, atabaque e pandeiro.
O sambista adianta que os convidados para a abertura estão preparando uma surpresa para o final da apresentação, quando tocarão alguma música juntos, fazendo uma grande roda. "O samba se renova a cada dia. Temos mais é que prestigiar", conclui.
O sambista Neguinho da Beija-Flor também se prepara para chegar à Bahia, e promete no repertório de canções conhecidas pelo público baiano, entre elas Um Sorriso Negro e Minha Rainha.
"A Bahia tem essas iniciativas maravilhosas, a música está sempre para o povo. Os outros estados do Brasil também deveriam ter esse apoio", declara o compositor e intérprete oficial de escola de samba.
Todas as apresentações acontecerão na Praça Maria de Dendê, no centro da cidade, e são gratuitas e abertas à população. O festival tem apoio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e da Casa do Samba do Recôncavo, entidade que reúne todos os grupos que difundem a dança e música tradicionais de toda a região.
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