Regina Borges realiza trabalho com dez cadeirantes em Luziânia, GO.
Iniciativa virou pesquisa acadêmica e fará parte de congresso em SP.
Estudante decidiu estudar os efeitos da dança na vida dos deficientes (Foto: Regina Borges/Arquivo Pessoal)
A estudante de assistência social Regina Borges, 43 anos, pratica dança
cigana há mais de 20 anos e decidiu usar a técnica para melhorar a
qualidade de vida de portadores de deficiência de Luziânia,
no Entorno do Distrito Federal. Ela fundou o grupo “Bailando com a
Vida”, no qual dez cadeirantes participam ativamente das coreografias. O
resultado obtido com o trabalho virou uma pesquisa acadêmica, cujo
resultado será apresentado durante um congresso esta semana em São
Paulo.Regina conta que sempre foi apaixonada pela dança cigana e, quando estava no palco, pensava em como era realizada por poder executar os passos. No começo de 2010, antes de fundar o grupo, ela esteve em um teatro de Brasília, onde assistiu a uma apresentação de pessoas em cadeira de rodas. “Eles dançavam um estilo mais clássico, mas foi tudo muito lindo. Aí eu pensei que a dança cigana se encaixaria muito bem, já que ela exige muitos movimentos com os braços, o que é plenamente possível aos cadeirantes”, lembra.
Projeto científico
A estudante lembra que o trabalho com os deficientes foi iniciado antes de cursar assistência social na Faculdade Anhanguera, em Luziânia. Mas no decorrer dos anos, os colegas foram se interando sobre o grupo de dança. “Aí, em setembro de 2012, um professor conheceu o meu projeto e me convidou para participar da iniciação científica”, conta.
José Raimundo Silva diz que encontrou motivação
no grupo de dança (Foto: Reprodução)
Regina montou, então, um questionário com 16 questões, nos quais os
cadeirantes responderam sobre aspectos que mudaram nas suas vidas após o
grupo de dança. “O estudo apontou uma melhora significativa na
autoestima dos envolvidos e na integração social. A entrada no grupo foi
o agente motivador da mudança”, explica a estudante.no grupo de dança (Foto: Reprodução)
Uma das perguntas feitas ao grupo foi se eles se sentiam inúteis nos grupos sociais a que pertecem. No primeiro questionário, aplicado em janeiro deste ano, 50% dos cadeirantes disseram "sim". A mesma pergunta foi aplicada em julho passado, após a intensificação das atividades de dança, e apenas 10% voltaram a concordar com a realidade. "Isso mostra que houve um avanço muito grande, pois eles puderam enxergar que podem ser inseridos na vida cultural e ter atividades como qualquer pessoa", destacou a estudante.
Os resultados obtidos com a pesquisa serão apresentados no 13º Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic), que será realizado dias 29 e 30 deste mês, na Faculdade Anhanguera, em Campinas (SP), pelo Sindicato das Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp). “A expectativa é muito grande, pois, se aprovado, o projeto poderá servir de modelo para que outras pessoas que trabalham com deficientes possam promover a inclusão social dos mesmos”, ressaltou Regina.
Após a conclusão do curso, prevista para o ano que vem, a goiana pretende fazer uma pós-graduação e ampliar a atuação do Bailando com a Vida. “Agora que sei que a dança cigana pode, sim, ser praticada por pessoas com deficiência, quero desenvolver um projeto para portadores de síndrome de Down, tetraplégicos, déficit mental, entre outros”, ressaltou.
Regina Borges pretende ampliar trabalho com os
deficientes (Foto: Regina Borges/Arquivo Pessoal)
Bailando com a Vidadeficientes (Foto: Regina Borges/Arquivo Pessoal)
Regina explica que o trabalho no grupo basicamente consiste em criar coreografias, nas quais os deficientes estão inseridos. Antes de iniciar, muitos apresentavam quadros de depressão e receio até de sair de casa. “É comum que a gente tenha medo de novas experiências. Imagine para alguém que tenha alguma deficiência e lute todos os dias com as dificuldades cotidianas. Quando começamos o trabalho, todos tinham vergonha de se expor ao público e muitos nem tinham mais expectativa de vida”, conta.
Segundo ela, aos poucos, a realidade dos participantes foi mudando, principalmente em fatores relacionadas à autoestima. “A gente se reúne periodicamente para os ensaios e durante esses encontros eles, além de se exercitar, podem conversar uns com os outros e trocar experiências. Isso foi enriquecendo a vida de cada um e hoje os resultados são incríveis. Um deles era tão tímido que mal saía de casa, mas no grupo conheceu uma pessoa e hoje eles são casados”, lembra a pesquisadora.
O deficiente citado é José Raimundo Silva, 37 anos, que afirma que o Bailando com a Vida lhe trouxe uma nova motivação para seguir em frente. "Participando do grupo, readquiri autoconfiança. Me sinto capaz de realizar funções que as pessoas sem deficiência realizam. A dança me reabilitou para a vida", contou o cadeirante.
Segundo Regina, nestes três anos de existência do grupo, ela pôde comprovar a força da dança como meio importante para devolver a autoestima dos deficientes. “No grupo tínhamos um participante que era alcoólatra e estava se entregando ao vício. Outro apresentava quadro de depressão e fazia o uso de medicamentos para controlar o mal. Hoje, todos eles estão bem e aprenderam a lidar melhor com as dificuldades geradas pela deficiência. O Bailando com a Vida virou uma motivação tanto para eles quanto para mim”, ressalta.
Grupo Bailando com a Vida posa antes de apresentação em Luziânia (Foto: Regina Borges/Arquivo Pessoal)
Apesar da iniciativa que ajuda a melhorar a qualidade de vida dos dez
moradores de Luziânia, o projeto de Regina ainda segue sem apoio
financeiro e tudo é feito de maneira independente. “Eu mesma providencio
as fantasias e agendo as apresentações que iremos fazer. Tudo dá muito
trabalho, mas o resultado é enriquecedor”, afirma.Segundo ela, até o transporte dos dançarinos para os espetáculos é um desafio. “Sempre temos que alugar vans que nos levem aos locais das apresentações, mas nem sempre é fácil encontrar pessoas dispostas a levar um grande número de deficientes e suas cadeiras de rodas.”
E é assim que o grupo realiza o trabalho, com muito esforço e recursos próprios. “Já chegamos a pensar em cobrar pelo show, mas a resistência, infelizmente, ainda é muito grande quando se fala em um grupo de cadeirantes. Mesmo assim, estamos na luta e não vamos desistir de mostrar nosso trabalho”, ressalta Regina.
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