MEDIÇÃO DE TERRA

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sábado, 2 de novembro de 2013

Coveiro mais antigo de Mogi conta 'apuros' dos 40 anos de profissão


José Lourenço da Silva se aposentou nesta quarta-feira (30).
Ele já fez 13 enterros no mesmo dia e já apanhou em sepultamento.

Pedro Carlos Leite Do G1 Mogi das Cruzes e Suzano

Após 40 anos de serviço, o coveiro José Lourenço da Silva vai "pendurar a pá", (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)Após 40 anos de serviço, o coveiro José Lourenço da Silva vai "pendurar a pá" (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Os dias que antecedem o Dia de Finados de 2013 foram especiais para o funcionário público José Lourenço da Silva. Após 40 anos de serviço perto de túmulos, nesta quarta-feira (30) ele fez os últimos ajustes em seu legado: quatro covas recém-abertas por ele junto ao muro do Cemitério da Saudade, em Mogi das Cruzes (SP). O coveiro mais antigo da cidade, conhecido como Zezinho, vai se aposentar na semana mais movimentada do ano ali, mas não deixou de ajudar os companheiros nas mobilizações pelo Dia de Finados. “Carpi as minhas quadras, está tudo limpinho. Também ajudei a limpar os túmulos. Sempre que o pessoal pede eu dou uma mão”.
Aos 63 anos ele comemora as décadas de trabalho praticamente ininterrupto. A única vez em que precisou ficar afastado foi após um acidente durante uma exumação, anos atrás. Ele conta que antigamente as pessoas que morriam de doenças infecciosas eram sepultadas em caixões de zinco para evitar o risco de contaminação. “Bati a picareta no caixão e na hora subiu um vapor muito forte. Queimou meu rosto e a minha perna. Acabei desmaiando e fiquei internado por uns meses”, recorda.
Conhecido por Zezinho, o coveiro diz que nunca teve medo de fantasma, mas já passou apuros em enterros (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)Conhecido por Zezinho, o coveiro diz que nunca teve
medo de fantasma, mas já passou apuros em en-
terros (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Zezinho trabalha no Cemitério da Saudade, em Mogi das Cruzes (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)Zezinho trabalha no Cemitério da Saudade, em Mo-
gi das Cruzes (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Histórias de assombrações e casos estranhos em cemitério não são com ele. Trabalhando entre o Cemitério São Salvador (no Centro) e o Cemitério da Saudade (no distrito de Brás Cubas) - onde está encerrando a carreira - Zezinho sempre pegou o turno do dia, mas não por medo. “Nunca tive essas coisas não, para mim é um trabalho normal”, afirma.
Nem por isso o pacato coveiro deixou de passar por apuros, mas com gente viva. Além de abrir as covas, Zezinho é responsável por descer o caixão em sua última morada. Uma vez o parente de um sepultado ficou o tempo todo em suas costas durante um funeral e quando o coveiro foi pegar o caixão para a descida, o rapaz simplesmente partiu para a agressão. “Ele gritou 'não vai enterrar meu pai não!'. Me deu um soco na orelha e eu caí no chão, me machuquei. Peguei e fui embora, o outro coveiro terminou de fazer o serviço sozinho”.
Duas covas por dia
Um túmulo de granito na quadra 100, lote 58, é especial para o coveiro, mesmo acostumado a circular pelas sepulturas por todo o dia. Ali está enterrada sua esposa Geny, falecida em maio deste ano após 22 anos de união. “Fiz questão de ajudar a descer o caixão dela, bem devagarzinho”. A sepultura já está limpa e pronta para o Dia de Finados. Ele também já sepultou amigos e vizinhos.
No últimos tempos, Zezinho trabalhava principalmente na quadra infantil, abrindo covas de crianças. Era uma média de duas por dia, sempre com um metro de profundidade. “Mas sempre que pedem ajuda para enterrar alguém em outro lugar eu ajudo”, faz questão de dizer. O ritmo do trabalho é inconstante, mas ele não se esquece de um final de semana. "Já cheguei a fazer 13 sepultamentos no mesmo domingo", comenta.
O coveiro cuida do túmulo onde está sepultada a esposa, falecida em maio deste ano (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)O coveiro cuida do túmulo onde está sepultada a esposa, falecida em maio deste ano (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Zezinho não faz muitos planos para os tempos de aposentadoria. “Vou descansar, ficar com minha irmã na Vila Natal, com meu irmão na Vila da Prata. Tem que ocupar a cabeça”.
No cemitério há um sepultado que tem o mesmo nome do coveiro. “Vem ver o meu nome escrito ali. Tem o meu nome mas eu não estou ali não”, diz Zezinho. Perguntado se sua hora ainda está longe de chegar, ele não responde. Dobra o corpo num movimento rápido para tocar as pontas dos pés e mostrar que está em forma.

Um comentário:

  1. eu adoraria trabalhar num cemitério, mas tenho medo de pegar doenças o_O

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