Segundo coveiros, profissão ainda é vista com preconceito por populares.
Entre casos curiosos, viram morte de homem que agendou enterro sem morto.
Queiroz, de 52 anos, é coveiro há 13. Segundo ele, profissão permite ver a vida de forma diferente (Foto: Jamile Alves/G1 AM)
No sábado (2), centenas de pessoas visitam os cemitérios de Manaus em
dedicação ao Dia dos Finados. Para o profissional que atua como coveiro,
esta data não se resume a um único dia do ano. O G1 conversou
com alguns desses profissionais que atuam no Cemitério São João
Batista, o mais antigo da capital, localizado na Zona Centro-Sul de
Manaus. Segundo eles, apesar de ainda serem vistos com grande
preconceito pela sociedade, a profissão permite ver a vida através de
uma nova percepção.Manoel Queiroz, de 52 anos, é coveiro desde 2000. De acordo com ele, exercer a função fazia parte de um desejo antigo, trazido da época em que os avós atuavam como coveiros. Segundo ele, o preconceito sofrido por seu ofício não altera o amor que sente pela profissão. "Eu realmente gosto do que faço. Ser coveiro permite que a gente olhe a vida de outro jeito, pois aqui vivemos a realidade que poucas pessoas enxergam: a de que somos todos iguais no final da vida. Rico ou pobre, aqui nada disso importa. Me sinto importante por conseguir vivenciar isso", contou ao G1.
Em 13 anos com o 'pé na cova', Queiroz contou que já testemunhou acontecimentos curiosos no cemitério. "Há uns oito anos, um homem veio aqui para agilizar a documentação do sobrinho, que já estava em coma há bastante tempo. Ele chegou até a marcar a data do sepultamento, e tudo mais. Quando chegou o dia marcado, nós ficamos esperando, mas ninguém apareceu. Exatamente cinco dias depois, o estranho homem que havia agendado o sepultamento do sobrinho apareceu no cemitério já dentro do caixão. Estava morto e foi enterrado no lugar", afirmou.
Francisco Sidney, de 43 anos, afirmou que espanto de pessoas é comum ao questionar sobre profissão (Foto: Jamile Alves/G1 AM)
Já Francisco Sidney, de 43 anos, afirmou nunca ter presenciado
histórias assombrosas pelo cemitério. Segundo ele, o pré-julgamento da
profissão de coveiro é constante, mesmo após nove anos dedicados ao
trabalho. "Tem muita gente que fica assombrada quando digo o que faço.
Eu estava iniciando um relacionamento com uma moça, e durou até eu
contar para ela onde eu trabalhava. Depois que ela soube que eu mexia
com mortos, terminou comigo no mesmo instante. Assim como existem
médicos e motoristas, existem os coveiros. Alguém precisa fazer esse
tipo de serviço", relatou.Apesar de cavar, prepararem as covas e abaixarem os caixões, os coveiros devem permanecer 'invisíveis' durante um enterro. Segundo Sidney, a frieza é essencial durante o trabalho. "A gente não pode se envolver emocionalmente com os familiares, além de nós já estarmos preparados para ver a dor dos outros todos os dias. Eu mesmo já precisei enterrar quatro pessoas da minha família. A frieza precisa ser companheira do trabalho. Difícil mesmo é quando envolve crianças. A morte delas não é justa, ainda me chateio bastante com isso", falou.
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