"Minha
terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; as aves, que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá". Os famosos versos fazem parte da obra "Canção do
Exílio", escrita em 1843, por Gonçalves Dias. Para comemorar os 200 anos
de nascimento do poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias, acaba de ser
lançada a coletânea "‘A ideia com a paixão’: Gonçalves Dias pela crítica
contemporânea", organizada pelo professor Wilton Marques, de
Departamento de Letras (DL) da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), e pela professora Andréa Sirihal Werkema, da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); a publicação é da editora Alameda.
Além
da "Canção do Exílio", escrita em 1843, Gonçalves Dias é autor de
outras obras célebres da literatura como "I-Juca-Pirama", poema
indianista brasileiro publicado em 1851. De todo modo, "[...] o
surgimento literário de Antônio Gonçalves Dias, que se deu com a
publicação dos 'Primeiros cantos' (1846), foi um acontecimento decisivo
para a afirmação de uma desejada literatura brasileira, sobretudo ao ser
logo reconhecido como um poeta nacional que era essencialmente
romântico", relatam os organizadores na Apresentação da obra
comemorativa.
Com
a participação de pesquisadores e pesquisadoras de diversas
universidades, a intenção do livro que celebra os 200 anos de nascimento
do autor é a de oferecer uma apreciação mais abrangente da obra
gonçalvina, discutindo as múltiplas facetas literárias desse autor
incontornável e, ao mesmo tempo, avaliando o seu legado dentro da
história da literatura brasileira.
"Primeiro
grande poeta romântico, Antônio Gonçalves Dias, maranhense da cidade de
Caxias, nascido a 10 de agosto de 1823, filho de pai português e mãe de
ascendência indígena e negra, ao que tudo indica - fazendo do poeta um
brasileiro que sentiu na pele a sua origem e a ela respondeu da maneira
que lhe foi possível. De maneira poética, diríamos, pois foi a sua
poesia a responsável por fixar o indianismo romântico como uma
alternativa brasileira, para bem ou para mal. No entanto, a obra de
Gonçalves Dias se faz mais ampla do que sua poesia indianista, de alto
nível, sem dúvida, mas apenas uma das formas visitadas pelo poeta,
dramaturgo, etnógrafo, jornalista, historiador...", afirmam os
organizadores na obra.
No
trabalho, os pesquisadores detalham que a poesia de Gonçalves Dias foi
fundamental para o delineamento de um nacionalismo propriamente
literário. "Ressaltamos ainda que, como membro ativo do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, o poeta também realizou várias
pesquisas sobre o universo indígena [...]. No entanto, convém não
perdermos de vista que a sua produção poética não se restringiu apenas e
tão somente à vertente indianista, que, aliás, é numericamente pequena,
pois, na maior parte de sua obra, o poeta maranhense dialogou com
outros temas inerentes à estética romântica, como o amor, a saudade, a
relação com a natureza, a religiosidade etc.", explicam.
Segundo
eles, o melhor testemunho (e ainda atual) sobre importância de
Gonçalves Dias para a literatura brasileira seja, talvez, o de Machado
de Assis, que, ao discursar na inauguração do busto do poeta no Passeio
Público do Rio de Janeiro, em 2 de junho de 1901, referindo-se à poesia
gonçalvina e mais notadamente à "Canção de Exílio", chancelou que "a
canção está em todos nós, como os outros cantos que ele veio espalhando
pela vida e pelo mundo, [...] tudo o que os velhos ouviram na mocidade,
depois os mais jovens, e daqui em diante ouvirão outros e outros,
enquanto a língua que falamos for a língua de nossos destinos".
Lançamento
A
obra será oficialmente lançada no evento "Gonçalves Dias: 200 anos", no
dia 28 de novembro, a partir das 14 horas, no Instituto de Letras da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Confira a programação
completa no link https://bit.ly/3R8AbOY. O livro pode ser adquirido
através do site da editora Alameda, em www.alamedaeditorial.com.br.
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