A
presença de jovens, militantes e representantes de comunidades
tradicionais vem sendo visivelmente crescente nas Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas. Apesar de não fazerem parte das
negociações diretas, sua presença simboliza suas lutas e exerce pressão
sobre as autoridades. Muitos, no entanto, chegam lá e se deparam com
discussões, sobretudo técnicas, dificultando a efetiva participação
dessas pessoas, como uma barreira invisível. Para a delegação de
representantes de comunidades tradicionais brasileiras do Fundo Casa
Socioambiental, a COP-28, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro
de 2023, na Expo City, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, não será
assim.
Com
o intuito de encurtar a distância entre as pontas que separam os
acordos mundiais e a realidade daqueles que vivem o dia a dia de
projetos e associações de base comunitária, o Fundo Casa Socioambiental
iniciou, em 2022, um projeto que busca promover o intercâmbio de
experiências e informações com lideranças que atuam por sustentabilidade
socioambiental e pela integridade de seus territórios, bem como a
compreensão de fatores relacionados à implementação de acordos
multilaterais e políticas públicas.
Para
a ativista quilombola Selma Dealdina, membro da Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e
vice-presidente do Conselho do Fundo Casa Socioambiental, é preciso
maior representatividade para tornar a COP mais popular e acessível. “É
preciso oportunidade e acesso e, por isso, a capacitação foi importante
para aquecer os participantes, preparando-os para participar da tomada
de decisões que impactam a vida das pessoas que estão na base, vivendo e
atuando em comunidades tradicionais como guardiões das florestas. É
preciso explicar às pessoas o que significa a COP, o que ela representa a
fim de popularizar o debate sobre o clima”, aponta.
A
COP é um espaço de construção no qual pode haver divergências, mas
precisa ser coletiva. “Precisamos estar presentes nestes espaços para
que não discutam sobre nós sem nós. É preciso que esse debate e esses
encontros sejam mais democráticos e coletivos. Hoje, a COP ainda não é
um espaço para quem trabalha pela preservação na ponta e, no Brasil, a
conferência pode ter uma participação popular abrindo espaço para o
debate sobre a distribuição e a destinação dos recursos”, acrescenta
Selma.
Com
palestras online e presenciais, as oficinas foram ministradas durante
um período de seis meses, motivando o debate acerca do uso do solo,
restauração de ecossistemas, emergência climática, mercado de carbono,
filantropia, financiamento climático, entre outros temas que serão
discutidos durante o evento.
Para
Cristina Orpheo, diretora executiva do Fundo Casa Socioambiental,
“existe um desafio global no campo do financiamento para fazer os
recursos chegarem às comunidades tradicionais e locais e, por isso,
propiciar a essas lideranças estar nesses espaços de tomada de decisão e
participar das discussões é amplificar vozes e fortalecer as lideranças
que atuam na defesa pela preservação de seus territórios”, explica.
Ao
todo, 63 pessoas de diferentes organizações participaram das formações
oferecidas pelo Fundo Casa em 2022 e 2023, representando 15 estados
brasileiros, além de representantes de outros sete países. Este ano, a
delegação oficial do Fundo Casa é formada por 17 pessoas, entre membros
da equipe e parceiros estratégicos, que representarão comunidades
ribeirinhas, povos indígenas, extrativistas e quilombolas. A
participação de lideranças comunitárias tem sido crescente nas COPs, uma
vez que, além das discussões entre governos e seus negociadores, as
conferências contam com um espaço destinado à sociedade civil.
“Partimos
de uma realidade da Amazônia brasileira em que os desafios vão desde
assegurar os direitos da natureza em sua integralidade, incluindo os
direitos dos povos, até garantir a proteção da vida de defensores das
causas socioambientais, culturais e religiosas e, particularmente, o
enfrentamento a projetos que ampliam as mudanças climáticas na região,
como a construção de hidrelétricas, hidrovias, assim como a expansão da
exploração do petróleo em rios e na foz do Amazonas", destaca Iremar
Ferreira, coordenador do Instituto Madeira Vivo e membro do Fórum
Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, um dos integrantes da
delegação composta pelo Fundo Casa.
Sobre o Fundo Casa Socioambiental
O
Fundo Casa Socioambiental é uma organização que busca promover a
conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos
direitos socioambientais e a justiça social por meio do apoio
financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade
civil.
Desde
sua fundação em 2005, o Fundo Casa já apoiou mais de 3.200 projetos,
totalizando cerca de R$80 milhões em apoios diretos aos principais
guardiões dos biomas Sul-Americanos, se consolidando como um dos
principais apoiadores de populações tradicionais em toda sua
diversidade.
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