Detecção
precoce, tratamentos mais eficazes e métodos de preservação da
fertilidade têm proporcionado esperança para mulheres diagnosticadas com
câncer ginecológico e que desejam ser mães
O
sonho da maternidade, por meio da gestação, está a cada dia mais
possível de ser realizado por pacientes com câncer ginecológico. Grande
parte das mulheres diagnosticadas com esse tipo de câncer enfrenta
problemas de fertilidade devido ao tratamento. No entanto, além dos
avanços na detecção precoce dos tumores, novas técnicas estão sendo
desenvolvidas para preservar a fertilidade antes e durante o tratamento.
“A paciente com câncer deve ser vista de maneira integral. O
oncologista precisa considerar tanto a saúde física, quanto a
psicológica e as prioridades da mulher em idade reprodutiva”, diz
Angélica Nogueira-Rodrigues, oncologista com foco em câncer feminino.
Segundo
a médica, há perspectivas promissoras para as pacientes que desejam ser
mães e estão enfrentando o tratamento contra o câncer. “Com os avanços
da medicina e os protocolos de saúde atuais, é possível detectar tumores
femininos de forma mais precoce. Quanto mais cedo o câncer for
detectado e tratado, melhor será a qualidade de vida e maior a sobrevida
da paciente.”
Embora
o foco dos profissionais de saúde seja a cura da paciente, é importante
ampliar a abordagem durante o planejamento do tratamento, levando em
consideração o desejo futuro da paciente em relação à fertilidade. O
subtipo e a intensidade dos medicamentos usados na quimioterapia e
radioterapia podem afetar os ovários e causar menopausa precoce. “Além
dos tratamentos de quimio ou radioterapia, cirurgias realizadas podem
afetar o útero e os ovários, dependendo da doença e do estágio em que se
encontra. Por isso, é fundamental discutir a estratégia terapêutica em
conjunto com a paciente , apresentar os riscos de infertilidade e
discutir estratégias existentes para preservação de fertilidade. Esta
discussão idealmente deve ser feita ao diagnóstico, antes do início do
tratamento ”, explica Angélica.
O
mesmo cuidado deve ser aplicado quando a paciente já está grávida e
exames indicam a presença de carcinoma do colo do útero, por exemplo. As
decisões sobre o tratamento podem variar de acordo com o tipo de
câncer, a idade gestacional e também o desejo da paciente.
Cânceres ginecológicos
Os
cânceres ginecológicos abrangem diversas neoplasias, sendo o câncer de
colo de útero o mais incidente entre eles. No Brasil, são estimados mais
de 17 mil novos casos desse tipo de câncer, representando um risco de
13,25 casos a cada 100 mil mulheres. Além do câncer de colo de útero,
compõem este grupo os cânceres de ovário, corpo do útero (endométrio),
vagina e vulva, estes últimos menos prevalentes, de acordo com dados do
INCA (Instituto Nacional do Câncer).
Preservação da fertilidade em pacientes com câncer
A
fim de abordar a questão de forma interdisciplinar, combinando os
conhecimentos da oncologia com as estratégias de preservação da
fertilidade, surgiu a área médica de oncofertilidade. Nesse campo, a
medicina reprodutiva trabalha em conjunto com o tratamento do câncer em
mulheres. Um dos conceitos-chave na oncofertilidade é o planejamento
terapêutico, utilizando tratamentos menos agressivos à fertilidade da
mulher, mas mantendo as mesmas chances de cura dos tratamentos mais
radicais.
“Além
de novos tratamentos menos agressivos quanto à fertilidade da mulher,
pacientes em idade reprodutiva também podem considerar outros métodos,
como o congelamento de óvulos, assim como de embriões ou de tecido
ovariano (este último ainda não indicado rotineiramente) ou até mesmo
optar pela supressão ovariana durante a quimioterapia citotóxica, na
qual o tratamento é feito por hormonioterapia”, afirma a oncologista
Angélica Nogueira-Rodrigues.
Apesar
das opções para a preservação da fertilidade feminina, muitas vezes uma
futura gestação não é debatida antes do início do tratamento de câncer.
“O diagnóstico da doença levar a paciente a esquecer seus planos
anteriores e focar apenas na cura do câncer. No entanto, esta discussão
deve ser feita antes de iniciar o tratamento”, diz a médica.
Pacientes
com plano de saúde têm o direito à congelamento de óvulos protegido
pelo Código de Defesa do Consumidor. Além da saúde suplementar, no
Sistema Único de Saúde (SUS) também são oferecidos, em alguns hospitais
universitários, acesso à preservação de oócitos ou de embrião, no
entanto este acesso “infelizmente é difícil e a maioria das mulheres
tratadas na rede pública não consegue este acesso em prazo oportuno”,
afirma a médica Angélica Nogueira-Rodrigues.
Assunto em pauta em Brasília
O
tema da conscientização sobre infertilidade e oncofertilidade foi
discutido recentemente em Brasília. Neste mês, foi aprovado o
requerimento do deputado federal Pedro Westphalen apresentado na
Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados solicitando a realização de
audiência pública para discussão do assunto. Segundo o requerimento, o
objetivo da reunião é conscientizar e divulgar para o maior número de
pessoas, informações sobre a infertilidade e suas repercussões sobre a
saúde física, mental e emocional, mobilizar os profissionais da área e
áreas afins, para que atentem o mais precocemente possível para a saúde
reprodutiva das pacientes.
Sobre Dra. Angélica Nogueira-Rodrigues
Angélica
Nogueira-Rodrigues é MD-PhD em oncologia clínica. Possui pós-doutorado
em oncologia pelo MGH/Harvard University, Doutorado em Oncologia pelo
Instituto Nacional de Câncer, Mestrado em Saúde da Mulher pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Possui Fellow em Pesquisa Clínica
pelo Instituto Nacional de Câncer. Pesquisadora e professora adjunta da
Faculdade de Medicina da UFMG. Desenvolve atividades didáticas na
graduação, residência médica em Oncologia e pós-graduação sensu stricto.
Idealizadora, membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores
Ginecológicos (EVA). Diretora SBOC nacional gestão 19-20 e 21-23. Chair
Gynecologic Oncology LACOG. Membro permanente da Câmara Técnica de
Medicamento - CATEME-ANVISA. Idealizadora do Movimento Brasil sem Câncer
do Colo do Útero. Membro da câmara técnica Ministério da Saúde para
estratégias de eliminação do câncer do colo do útero.
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