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Bolsonaro precisa de Tarcísio porque o governador é atualmente seu aliado político mais poderoso. Diogo Schelp para a Gazeta do Povo:
A
aprovação na Câmara dos Deputados da primeira fase da reforma
tributária, a que versa sobre o consumo, na semana passada, marcou a
primeira derrota política de Jair Bolsonaro como líder inelegível da
oposição ao governo Lula. Mesmo com a orientação do ex-presidente para
que os deputados do seu partido, o PL, votassem contra a PEC (Proposta
de Emenda à Constituição) dos tributos, duas dezenas deles acabaram
votando a favor. Mais ainda: antes da votação, Bolsonaro enfrentou a
divergência de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e seu
afilhado político, em relação ao tema. Mas esse ainda não foi o momento
do racha decisivo entre os dois. Pois, por enquanto, Tarcísio precisa de
Bolsonaro e Bolsonaro precisa de Tarcísio.
Bolsonaro
errou ao contaminar a discussão técnica sobre votar ou não a favor da
reforma tributária com toques de vingança pessoal. Havia um argumento
contrário à votação apressada, sem uma análise aprofundada de mudanças
na lei feitas de última hora. Isso foi mencionado por Bolsonaro e por
outros que se opuseram à PEC, mas ficou em segundo plano diante da
postura intransigente do ex-presidente e da nota que ele divulgou antes
do encontro com Tarcísio no PL.
A
tal nota começa dizendo: "Não à Reforma Tributária do PT: Lula se reúne
com o Foro de SP (criado em 1990 por Fidel, FARC, ...), diz ter orgulho de ser comunista,
que na Venezuela impera a democracia, é amigo de Ortega que prende
padres e expulsa freiras e seu partido comemorou a minha
inelegibilidade. Só por isso, caso fosse deputado, votaria ao longo de
todo o meu mandato contra tudo que viesse do PT."
Ou
seja, antes de qualquer outro argumento, Bolsonaro defende votar contra
qualquer projeto defendido pelo governo Lula por revanchismo político
ou por divergências ideológicas que nada têm a ver com o tema em debate.
Lula defende ditadores de esquerda e isso merece todo o repúdio. Mas
isso justifica votar contra projetos de interesse do país? A reforma
tributária não é um projeto só do governo, é uma agenda de Estado. Os
textos que lhe serviram de base, inclusive, foram elaborados em
discussões parlamentares ocorridas no governo anterior, de ninguém menos
que o próprio Bolsonaro.
O
argumento de Tarcísio na reunião, e que lhe rendeu a vaia de alguns
deputados, é que estava correto. Pragmático, o governador lembrou que se
o PL votasse em bloco contra a reforma, o partido ficaria marcado como
aquele que tentou barrar uma pauta importantíssima para o
desenvolvimento do país, simplificando os impostos e aperfeiçoando o
capitalismo brasileiro. Perderia, então, a "narrativa" de oposição
responsável, que busca o bem do país. Oposição destrutiva foi o que o PT
fez durante o governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo.
Inaceitável repetir o mesmo, com o sinal trocado.
Depois
da votação da reforma tributária na Câmara, Bolsonaro modulou o
discurso e afirmou que defende um debate aprofundado sobre o tema no
Senado, para onde o projeto seguiu. E procurou Tarcísio para reduzir as tensões — intensificadas entre outros fatores por postagens bastante agressivas de gente muito próxima de Bolsonaro nas redes sociais.
Tarcísio
tem afirmado que uma candidatura à presidência em 2026 não está no seu
radar. Ele trabalha para fazer uma gestão exemplar em São Paulo e buscar
uma reeleição fácil, para completar o ciclo e deixar um legado para o
estado. Para essa tarefa, ele precisa de Bolsonaro, pelo menos por
enquanto.
Primeiro,
por uma questão de governabilidade. Os deputados estaduais
bolsonaristas têm sido o fiel da balança em votações na Assembleia
Legislativa, principalmente em temas nos quais partidos que se declaram
independentes, como a federação PSDB-Cidadania, se colocam contra os
interesses do governo.
Segundo,
porque seria ruim para Tarcísio enfrentar o desgaste de ataques vindos
de figuras influentes da direita, como os filhos de Bolsonaro e Ricardo
Salles (PL-SP), deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente. Salles
não parece disposto a balançar a bandeira branca para Tarcísio,
acusando-o de fingir ser de direita e de ter um secretariado quase todo de esquerda.
É evidente que, para Tarcísio, seja qual for o seu projeto eleitoral
para 2026 (presidência ou governo do estado), é fundamental manter uma
forte base de apoio à direita. Esse é o nicho eleitoral que ele precisa
manter, e enfrentar atritos com expoentes desse grupo desde já por óbvio
não lhe interessa.
Bolsonaro,
em entrevista à Jovem Pan News depois da votação da reforma tributária
na Câmara, desautorizou as críticas feitas por Salles e minimizou o
desentendimento com Tarcísio. Disse que ele o governador é "técnico",
mas politicamente inexperiente.
Bolsonaro
precisa de Tarcísio porque o governador é atualmente seu aliado
político mais poderoso. E Bolsonaro necessita de aliados. Inelegível por
decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-presidente precisa
se manter relevante politicamente e reforçar seu papel no PL, onde ocupa
um cargo de presidente de honra e um salário polpudo. Os desafios de
Bolsonaro na Justiça não acabaram. A possibilidade de prisão, como
defendem alguns esquerdistas mais empolgados, é remota, mas ainda há o
risco de ele perder os direitos políticos por causa de uma ação que
corre no TCU (Tribunal de Contas da União). Isso impediria Bolsonaro de
atuar inclusive como liderança partidária. Diante de um cenário de
incerteza como esse, tudo o que o ex-presidente não pode se permitir é
se isolar politicamente.
Bolsonaro,
por enquanto, também precisa ceder ao jogo de Valdemar Costa Neto,
cacique do PL, que nutre o sonho de atrair Tarcísio, filiado ao
Republicanos, para o seu partido — antevendo a possibilidade de que, em
2026, o governador será de fato o nome mais forte para a presidência,
carregando consigo o eleitorado fiel a Bolsonaro, que não poderá se
candidatar.
Em
algum momento, porém, o ex-presidente precisará optar entre apoiar para
a presidência um nome de seu círculo de alianças, como Tarcísio ou o
governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ou alguém de dentro de casa,
como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Se a opção for pelo segundo
caminho, manter a aliança com Tarcísio também será importante — seja
para influenciar na sua decisão de buscar a reeleição a governador, seja
para acusá-lo de traição e desidratar sua base eleitoral caso tente
alçar um voo solo rumo à presidência.
No
final do ano passado, já eleito governador de São Paulo, Tarcísio
declarou em uma entrevista que não era um "bolsonarista raiz". Foi
criticado e atacado por seguidores de Bolsonaro. Para reafirmar o
vínculo entre os dois, Tarcísio visitou então presidente e publicou nas
redes sociais a foto que ilustra este artigo, acompanhada da seguinte
declaração de fidelidade:
"Se
estou hoje aqui, é porque Jair Bolsonaro confiou em mim e no trabalho
de um técnico que em 2018 ninguém conhecia. Ele tem minha eterna
admiração e gratidão." Mesmo com os solavancos da semana passada, a
confiança do padrinho e a gratidão do afilhado político perduram. Por
enquanto.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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