BLOG ORLANDO TAMBOSI
Editorial do Estadão vai na jugular: ir a um estádio implica risco de morte. O Poder público e os clubes de futebol devem agir para acabar com a barbárie:
Estádios
de futebol se tornaram zonas de guerra. Hoje, assistir aos jogos in
loco implica risco de morte. É vergonhoso que o País tenha chegado a
esse estado de barbárie sob o beneplácito do poder público e a leniência
dos clubes. Só neste ano, oito pessoas já morreram em decorrência da
pulsão homicida de indivíduos que apenas se transvestem como torcedores
para escamotear sua verdadeira índole criminosa.
A
vítima mais recente dessa guerra entre gangues foi a palmeirense
Gabriela Anelli, de 23 anos. A jovem foi atingida por um estilhaço de
uma garrafa de vidro arremessada por um torcedor do Flamengo contra
torcedores do Palmeiras no entorno do Allianz Parque, na noite de sábado
passado. Gabriela iria assistir ao jogo entre os dois times, válido
pelo Brasileirão, mas nem sequer teve tempo de entrar no estádio,
apanhada pela confusão nos arredores.
A
Polícia Militar de São Paulo agiu rapidamente nesse caso e prendeu o
suspeito de atingir Gabriela em flagrante. Por determinação da Justiça,
Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, está preso preventivamente.
Mas, em geral, nesses episódios de violência no futebol, cada vez mais
frequentes e brutais, prevalecem a impunidade e o esquecimento – a não
ser, é claro, para as famílias das vítimas e seus amigos enlutados.
O
Estado já foi leniente demais com tanta barbaridade. Há muito o poder
público tem deixado de adotar medidas mais severas do que simplesmente
proibir, por exemplo, que duas torcidas rivais frequentem o mesmo
estádio, a bem da verdade um atestado de sua incompetência para garantir
a segurança dos torcedores. Igualmente, nada adianta, como se viu no
Allianz Parque, erguer barreiras físicas para separar as hordas de
bárbaros que saem às ruas dispostas a matar ou morrer supostamente em
nome de seus clubes.
É
tempo de punições duras e exemplares contra criminosos que apenas
fingem ser torcedores e contra os clubes de futebol, que não raro mantêm
relações umbilicais com as torcidas organizadas, muitas das quais
verdadeiras quadrilhas que servem mais de guarida para delinquentes do
que agremiações de apoio aos times.
O
futebol, como já dissemos neste espaço a propósito de reiteradas
manifestações de racismo nos estádios, não é um mundo à parte; as
emoções suscitadas pelo esporte nem remotamente autorizam comportamentos
tipificados como crime em qualquer país civilizado.
É
dever do Estado ser incisivo na aplicação das leis, punindo
exemplarmente os envolvidos em casos de violência, desde o banimento dos
estádios até a prisão. Os clubes, por sua vez, também devem assumir sua
parcela de responsabilidade e colaborar na identificação e exclusão de
indivíduos violentos que integram suas torcidas, sob pena de multa,
perda de pontos e até exclusão de campeonatos, com todos os reveses
esportivos e financeiros que isso implica. Somente assim será possível
reverter um quadro marcado pelo medo e pela desesperança.
Estado
e sociedade precisam se unir para fazer dos estádios novamente locais
de celebração e confraternização, onde impere a rivalidade saudável do
futebol, não a barbárie.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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