BLOG ORLANDO TAMBOSI
É difícil acreditar que o governo russo irá manter-se intacto após a conclusão do conflito com a Ucrânia. A verdadeira questão é: até que ponto a Federação Russa será alterada? Ricardo Filipe para o Observador:
Com
a recente tentativa de golpe de estado por parte dos mercenários do
grupo Wagner, tornou-se clara a instabilidade interna do estado russo.
Apesar de o líder destes mercenários,Yevgeny Prigozhin, menos de 24
horas após ter declarado rebelião, ter chegado a um acordo com o
Kremlin, retornando as suas tropas às posições pré-revolta e exilando-se
na Bielorrússia, foram expostas inúmeras ruturas no estado russo.
Associando esta situação com os eventos que decorreram desde a invasão
de Fevereiro de 2022, que escalou a proporção da guerra Russo-Ucraniana,
surge uma questão: Qual será o destino da Federação russa após a
guerra?
Para
oferecer uma resposta a esta questão é necessário analisar três
fatores: o estado do conflito, as consequências económicas das sanções
sobre a Rússia e a situação política da Federação Russa.
O
conflito decorrente na Ucrânia não se demonstra favorável ao estado
russo, tendo as suas previsões e expectativas sido subvertidas pela
competência e determinação das forças ucranianas, transformando um plano
de “blitzkrieg” numa desastrosa campanha que decorre há cerca de ano e
meio. No decorrer desta invasão, as forças russas têm visto as suas
tropas reduzidas maioritariamente a conscritos equipados com equipamento
desatualizado, perdendo uma grande parte do seu equipamento moderno e
soldados veteranos, reforçadas por mercenários de várias empresas
pró-russas, os quais se demonstraram das poucas forças capazes de
defrontar as tropas ucranianas através de táticas e estratégias
desumanas, a lealdade dos quais foi comprovada com a recente revolta.
Em
contraste, contrariando as suposições russas, as forças ucranianas
encontram-se motivadas, cada vez melhor equipadas e treinadas devido ao
suporte ocidental, infligindo derrota atrás de derrota sobre as forças
russas. Atualmente, os soldados ucranianos encontram-se numa nova
ofensiva contra as posições russas, a qual, caso tome a trajetória
esperada e consiga quebrar as fortificações russas no sul da Ucrânia,
ameaçam cercar a península da Crimeia, ameaçando retomar o território
capturado em 2014. Esta vantagem é ainda fortificada pela existência de
grupos paramilitares russos anti-Kremlin e pró-ucranianos, cujas
incursões em Belgorod pressionam a logística do exército russo.
Uma
análise económica da Rússia mostra-se igualmente negativa para o
Kremlin. Apesar de a informação disponível se encontrar restrita devido à
censura implementada no inicio da guerra, a fuga de milhares de russos
para a Finlândia e para em Geórgia em 2022, o abandono de acordos
estabelecidos com outras nações do OPEP (organização de países
exportadores de petróleo), inundando o mercado internacional com um
elevado número de produtos petrolíferos russos, e a falha no cumprimento
de contratos de militares, tanto de segurança, tornada clara durante o
recente conflito entre a Arménia e o Azerbaijão, como de fornecimento de
meios militares, tendo o contrato de fornecimento de meios militares
com a Índia entrado em incumprimento por parte dos russos.
Contabilizando estas situações, é razoável presumir que a economia russa
foi fortemente prejudicada pelas sanções ocidentais.
Seguindo
a tendência dos campos anteriores, a situação política russa
demonstra-se igualmente instável. O conflito o entre o estado russo e
grupo Wagner quebrou a ilusão de controlo do primeiro, desestabilizado o
poder de Putin e dos seus aliados.
As
novas acusações de “extremismo” lançadas contra Alexei Naviny, suportam
a decadência do controlo político do Kremlin, uma vez que estas
condenarão o líder da oposição russa a uma pena mais pesada, numa prisão
de segurança máxima. Este ato contra um homem encarcerado, demonstram o
pavor por parte do governo russo de qualquer potencial movimento
dissidente.
Tendo
em conta esta análise, é difícil acreditar que o governo russo irá
manter-se intacto após a conclusão do conflito com a Ucrânia. A
verdadeira questão será: até que ponto a Federação Russa será alterada?
O
cenário mais favorável ao atual regime será a perpetuação de Putin e
dos seus apoiantes, um cenário que necessitará de uma eficaz supressão
dos elementos ultra-nacionalistas que criticam as ações durante a
invasão da Ucrânia, assim como de qualquer movimento pró-democrático.
Historicamente,
este não é o cenário mais provável, sendo que tanto após a prestação
desastrosa do Império Russo na 1ª Guerra Mundial e o desastre no
Afeganistão da União Soviética, ambas as vezes o regime atual colapsou,
apesar deste colapso ter tomado formas distintas.
Assim
sendo, o mais provável será o colapso do regime atual, seguido ou por
um conflito entre forças divergentes ou por uma transição democrática de
poder, onde a maioria do povo demonstra o seu apoio a um novo regime.
Esta situação irá potencialmente levar à restauração do território em
estados invadidos, como é o caso da Geórgia, e a proclamação de
independência de novos estados, normalmente em regiões com uma forte
identidade cultural própria. No seu extremo, este cenário poderá levar
ao colapso da Federação Russa em dezenas de estados.
Assim
sendo, que papel podemos desempenhar nós, como indivíduos e cidadãos
europeus? Como ocorreu no pós 2ª Guerra Mundial, a UE deve demonstrar-se
capaz e incentivada a estender a tocha da liberdade e fraternidade aos
cidadãos russos, incentivando que qualquer alteração de regime na Rússia
tome uma face democrática e respeitadora dos direitos humanos. Apenas
desta forma podemos ajudar a Rússia a depor os grilhões do autoritarismo
e imperialismo que emprega à séculos.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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