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A autodeterminação é um direito fundamental. O direito à eutanásia não deve ser referendado. A sua legalização deve ser decidida pelo parlamento, com base na lei fundamental e nos valores do país. Rui Salgueiro para o Observador:
Na
sequência de mais um chumbo do Tribunal Constitucional à proposta de
legalização da eutanásia, vale a pena voltar a abordar este assunto. Não
sendo eu um constitucionalista, não pretendo pronunciar-me sobre a
decisão do TC, até porque, embora os argumentos utilizados sejam do foro
da semântica, me parece evidente que a decisão está subjacente a
motivos de ordem política. Prefiro, portanto, voltar ao cerne da questão
e apresentar argumentos a favor da legalização da eutanásia pelo
parlamento, sem recurso a referendo popular, sob uma perspetiva liberal.
Argumentos a favor da Eutanásia
A
eutanásia, também conhecida por morte medicamente assistida, é um
assunto muito delicado e controverso. Ao debater a legalização da
eutanásia, aspetos éticos e potencial para abusos devem ser
considerados, mas também devem ser levados em conta os direitos humanos,
autonomia e autodeterminação do indivíduo, valores importantes numa
sociedade liberal. Aqui, apresentam-se alguns argumentos a favor da sua
legalização:
Liberdade
de escolha. As pessoas devem ter o direito de decidir sobre o seu corpo
e sobre as suas próprias vidas. Se uma pessoa sofre de uma doença
terminal e deseja pôr fim ao seu sofrimento, deve poder fazê-lo
voluntária e conscientemente, de forma digna e indolor.
Alívio
do sofrimento. A eutanásia pode pôr fim ao sofrimento insuportável de
uma pessoa com doença incurável, especialmente para pessoas em fase
final da sua doença que sentem dores ou desconforto insuportáveis.
Morrer
com dignidade. A eutanásia permite que as pessoas morram com dignidade,
em vez de serem sujeitas a sofrimento prolongado e a procedimentos
médicos. Isto pode ser importante para preservar a dignidade e autonomia
de indivíduos em fase terminal de doença.
Referendo, Sim ou Não?
Há
aqueles que argumentam que a legalização da eutanásia é uma decisão que
afeta a sociedade como um todo e, por conseguinte, deve ser consultada a
opinião geral da população. Isso asseguraria uma base democrática para a
sua legalização, apoiada pela vontade coletiva da sociedade portuguesa.
Outros
argumentam, porém, que os direitos fundamentais não devem ser
referendados, ou seja, submetidos a votação popular, porque são direitos
universais e inalienáveis, protegidos por leis e tratados
internacionais de direitos humanos. A votação popular não é uma forma
adequada de proteger tais direitos, pois pode resultar em decisões
injustas e discriminatórias.
A
questão, portanto, parece ser se o direito à morte é ou não um direito
fundamental. Direitos fundamentais são aqueles que são considerados
essenciais para a dignidade humana e vida em sociedade, como o direito à
vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade.
Por
um lado, o direito à vida, tal como estabelecido na Declaração
Universal dos Direitos do Homem, sugere (por omissão) que a eutanásia
não é um direito fundamental. Por outro, o direito à autodeterminação,
tal como estabelecido no Pacto Internacional sobre os Direitos
Económicos, Sociais e Culturais, sugere o contrário. Ou seja, no caso da
eutanásia, o direito à liberdade de escolha pode entrar em conflito com
o direito à vida.
Para
um liberal, no entanto, a resposta a esta questão parece clara. A
autodeterminação, ou o direito à liberdade de escolha, é também um
direito fundamental e, portanto, o direito à eutanásia não deve ser
referendado. A sua legalização deve ser decidida pelo parlamento, com
base na lei fundamental e nos valores do país.
Em
suma, apesar da complexidade e sensibilidade do assunto, é importante
levar em consideração os direitos e desejos dos indivíduos doentes
terminais e os argumentos a favor da eutanásia. É fundamental equilibrar
os valores da autonomia com considerações éticas e implementar
salvaguardas legais para evitar abusos, especialmente sobre indivíduos
em situação vulnerável. Desta forma, podemos assegurar que os indivíduos
possam ser capazes de tomar decisões informadas sobre as suas próprias
vidas e sobre quando e como desejam morrer.
É, em última análise, uma decisão que deve ser da responsabilidade de cada indivíduo.
Postado há 10 hours ago por Orlando Tambosi
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