Se para o CDS as eleições serão uma espécie de derradeira oportunidade para a sobrevivência, uma vitória clara nas europeias será fundamental para o PSD tentar estancar o crescimento de CH e IL. André Azevedo Alves para o Observador:
Falta
ainda mais de um ano para as próximas eleições europeias, mas face à
possibilidade de estas poderem despoletar eleições legislativas
antecipadas importa desde já reflectir sobre as mesmas, em especial no
contexto à direita do PS. De facto, à direita, as próximas eleições
europeias realizar-se-ão num contexto muito diferente das de 2019: nessa
altura, o espaço à direita do PS era ainda dominado por PSD e CDS, com
CH e IL à procura de uma oportunidade para romper com o status quo. Essa
oportunidade, previsivelmente, não se concretizou nas europeias mas
acabou por se concretizar nas legislativas desse mesmo ano, nas quais
tanto IL como CH conseguiram fazer eleger um deputado por Lisboa.
Chegados
a 2023, o panorama à direita é substancialmente diferente: o CDS
desapareceu do mapa parlamentar enquanto o PSD luta para resistir como
principal alternativa de governação ao PS num contexto de crescimento de
IL e CH. Mudanças que podem estar a ir de encontro às dinâmicas já
verificadas em outros países europeus, nos quais os partidos
tradicionais do centro-direita perderam espaço e novas forças emergiram.
No caso português, as eleições europeias serão um momento importante
para aferir se esta dinâmica de reconfiguração da direita se confirma e
acentua. Conforme escrevi aqui em Abril de 2022:
“(…)
será prudente pelo menos colocar a hipótese de o desaparecimento
parlamentar do CDS e a crise do PSD poderem ser o início de uma mudança
mais estrutural à direita, em linha com o que vem acontecendo noutros
países europeus. Muito vai depender, naturalmente, da reacção do PSD à
sua crise interna e da capacidade da nova liderança laranja para
reconstruir e reposicionar o partido de forma que lhe possibilite
continuar a ser a clara alternativa de governação à direita do PS.”
Se
para o CDS, que ainda tem Nuno Melo como deputado europeu, as eleições
serão uma espécie de derradeira oportunidade para tentar a
sobrevivência, uma vitória clara nas europeias será fundamental para o
PSD tentar estancar o crescimento de CH e IL. Serão eleições muito
difíceis para o PSD, que sofre também danos colaterais associados ao
desgaste do PS e à crescente desconfiança com os partidos centrais do
regime. Danos esses que poderão ser agravados pela maior propensão ao
voto de protesto em eleições europeias.
Uma
inclinação para o voto de protesto que tem tudo para beneficiar o CH.
Com um crescente sentimento de insatisfação no eleitorado e a percepção
de que pouco está em jogo, as eleições europeias deverão apresentar um
contexto favorável para a mensagem anti-sistema do CH. A opção pela
filiação no grupo europeu ID – do qual fazem parte vários dos políticos
europeus mais próximos de Putin – pode trazer alguns incómodos ao CH mas
o carácter recente do partido permitiu-lhe evitar acumular episódios
potencialmente comprometedores de proximidade com o regime russo como os
que penalizaram Salvini em Itália.
A
(expectável) elevada abstenção deverá também favorecer o CH e
potencialmente também a IL, desde que ambos consigam ter uma campanha
mobilizadora. Para a IL, no entanto, o desafio das europeias poderá ser
mais complexo do que para o CH. Sendo certo que a filiação no grupo dos
liberais europeus – ALDE – não levanta problemas relativamente a
relações perigosas com a Rússia, essa pertença também significa que em
matéria europeia pouco haverá para distinguir a IL de PSD e PS. A aposta
poderá ser no voto de protesto interno contra o PS ou em temas caros
aos liberais como a defesa da privacidade e a promoção do comércio
livre, mas é provável que no campo do voto de protesto o CH seja mais
apelativo à direita.
Por
todas estas razões, estaremos assim nas próximas eleições europeias
perante um cenário particularmente desafiador para os partidos à direita
do PS. O que faz com que nesse espaço a escolha dos candidatos – e em
particular dos cabeças de lista – seja um factor especialmente
importante nas próximas eleições europeias. Mas esse será um tema para
um próximo artigo.
Postado há 10 hours ago por Orlando Tambosi
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