A PEC dos combustíveis e o pré-programa do PT são maus sinais sobre futuro da política econômica no Brasil. Fernando Dantas para o Estadão:
Os
dias não estão bons para quem defende uma política econômica liberal e
não populista. À medida que o ano eleitoral vai transcorrendo, e o
favoritismo de Lula vai se consolidando, a candidatura petista dá
seguidos sinais de heterodoxia e intervencionismo, enquanto Bolsonaro se
entrega à irresponsabilidade populista desesperada.
A proposta de PEC
para zerar o ICMS do diesel e GLP (com ressarcimento da União aos
Estados) e zerar PIS/Cofins/Cide da gasolina e do etanol foi defendida
por Guedes com o discurso de que, se há teto de gastos, deve haver
também “teto de impostos”.
A
ideia por detrás desse raciocínio é que, diante da forte e inesperada
alta da arrecadação neste e no ano passado, o governo deveria reduzir
alíquotas ou eliminar impostos.
Embora
os cortes da PEC sejam até o fim do ano, o acerto defendido pelo
governo inclui a aprovação no Senado (já foi na Câmara) do Projeto de
Lei Complementar (PLP) 18, que limita em 17% a alíquota do ICMS de
combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo.
Adicionalmente,
como observa Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, “se
o petróleo continuar caro, a pressão para renovar o subsídio [após o
fim do ano] seria grande”.
Em
seu perfil do Twitter, em que usa a alcunha de “Drunkeynesian”, uma
brincadeira com o nome do grande economista britânico John Mainard
Keynes, Sobral escreveu hoje [terça, 7/6] que “a ideia de ‘excesso de arrecadação’, propagandeada pelo Paulo Guedes e prontamente comprada pelos políticos, é um desastre”.
Segundo
o economista da Neo Investimentos, parte do “excesso” pode ser
transitório, derivado da alta das commodities, da reabertura da economia
pós-Covid e da inflação muito alta.
Além
disso, a ideia do teto de gastos é justamente a de fazer com que
aumentos da arrecadação reforcem o primário e melhorem a dinâmica da
dívida pública, compensando os períodos em que ocorre o oposto – baixo
crescimento, arrecadação fraca e resultado primário menor.
Ele
lembra ainda que cortar impostos é muito mais fácil do que o contrário,
e as medidas propostas pelo governo dificultam estabilizar a dívida
pública.
Para
Sobral, este governo aparentemente propõe deixar duas bombas – uma
fiscal e outra de inflação, quando os subsídios aos combustíveis forem
revertidos – para o próximo, o que talvez indique que Bolsonaro de fato
contemple a possibilidade de ser derrotado.
Se
o populismo e a irresponsabilidade campeiam no atual governo em ano
eleitoral, não dá para tirar muito consolo na seara econômica da
provável hipótese de que, a partir de 2023, o País seja gerido por Lula e
o PT.
No documento “Diretrizes para o Programa de Reconstrução do Brasil 2023-2016”,
divulgado ontem, e tido como uma espécie de pré-programa de Lula,
abundam evidências de que o candidato tirou muito poucas lições da
recessão 2014-16 em termos de autocrítica à gestão econômica do PT.
O
documento defende a revogação da reforma trabalhista e a retomada da
política de valorização do salário mínimo – no contexto da referência ao
assunto, tudo indica que se trata de aumento em termos reais –, sem
nenhuma preocupação em restringi-la ao mercado de trabalho.
O
objetivo é a recuperação do poder de compra não só dos trabalhadores,
mas também dos “beneficiários de políticas previdenciárias e
assistenciais”. Trata-se de reeditar – a depender da ambição do aumento
real – o principal fator do crescimento das despesas primárias da União
em termos reais a um ritmo anual médio de 6% por vários anos. Esse
processo, por sua vez, foi a principal causa do desmoronamento fiscal
estrutural do Brasil na década passada.
O
documento também prevê a revogação do teto de gastos, mas colocando no
lugar um novo regime fiscal cuja descrição, com boa vontade, pode
indicar que o objetivo merece o benefício da dúvida.
Na
seara de inflação e preço de combustíveis, a mensagem sugere
interferência em preços de mercado, assim como a disposição de “reduzir a
volatilidade da moeda brasileira por meio da política cambial” tem
cheiro de heterodoxias da era Dilma que não deixaram saudade.
O
programa apresenta uma lista de desejos – aumento do investimento
público e privado, reindustrialização – sem um plano coerente e crível
para satisfazê-los.
A
oposição à privatização de Petrobrás, Eletrobrás e Correios é de praxe
para o PT e até compreensível em termos ideológicos. Por outro lado, o
“fortalecimento” de BB, CEF, BNDES, BNB, BASA e FINEP para a missão de
fomento ao desenvolvimento econômico, social e ambiental é um pouco mais
preocupante tendo em vista o experimento malsucedido de jogar centenas
de bilhões de reais no BNDES para alavancar a economia no governo Dilma.
Como
é bem sabido, essa política de excessos parafiscais fez parte das
causas da crise das contas públicas cujo momento mais agudo foi a virada
de 2015 para 2016.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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