Já escolhi até algumas citações perfeitas para atrair potenciais clientes que precisem muito ser desmotivados. Ruy Goiaba via Crusoé:
Tenho
zero espírito empreendedor, o que absolutamente não me orgulha. Mas
posso listar, como argumento em meu favor, todas as contribuições que
dei à sociedade com os negócios que NÃO abri: nunca tive paleteria
mexicana, nem academia de crossfit, nem food truck, nem barbearia
hipster, nem doceria especializada em banoffee, nem quadra de beach
tennis. Aliás, a moda das paletas mexicanas em São Paulo é hoje mais
antiga que o primeiro espartilho da Sarah Bernhardt, e não deve demorar
muito para que o beach tennis siga o rumo do limbo das modas passadas.
De todo modo, não tenho timing para essas coisas nem antena para captar
“tendências” — ao contrário, tendo a fugir delas.
Um
amigo que frequenta lugares barra-pesada e insalubres como o LinkedIn,
porém, diz que a rede social profissional tem hoje mais influenciadores
digitais do que dentistas. Fiquei encantado com o senso de prioridade —
claro, é muito mais importante influenciar e ser influenciado
digitalmente do que não ter dentes podres — e intrigado com as
possibilidades financeiras do negócio. Como é que a gente faz para virar
influencer? Tem concurso? Aceitam velho de mais de 50 anos na profissão
(influencer sênior, talvez)? Qual é o mínimo de pessoas que precisamos
influenciar para sermos considerados influenciadores? Logo lembrei que
não consigo influenciar nem minha namorada e desisti do empreendimento.
“Desistir”:
essa palavrinha mágica acendeu uma luz aqui, como aquela lâmpada que
aparece ao lado de um personagem de quadrinhos quando ele tem alguma
ideia luminosa. Como é que um país como o Brasil, cheio de gente muito
proativa que só faz besteira — burros com iniciativa, na feliz expressão
desse grande brasileiro que é Paulo Maluf —, ainda não tem um mercado
de coaches desmotivacionais bombando? Alguém que ensine às pessoas que
nunca é cedo demais para desistir e que não sair da cama é mil vezes
melhor do que “encarar o mundo aí fora”, fazendo uma burrada atrás da
outra. Com muitos memes (“não sabendo que era impossível, foi lá e se
ferrou”) e exemplos concretos das virtudes da desistência (“vejam, se o
Brasil tivesse se empenhado mais em perder do Chile na Copa de 2014, não
levaria aquele 7 a 1 da Alemanha lá na frente”).
Já
escolhi até algumas citações perfeitas para atrair potenciais clientes
que precisem muito ser desmotivados. Para o pessoal mais cultão, temos
este trecho da Clarice Lispector, lembrado por uma querida amiga: “A
insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se
chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de
poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha.
Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro
instante humano. (…) A desistência é uma revelação”. Para quem for mais
pop, é só exibir aquele trecho da série Friends com o seguinte diálogo
entre Rachel Green e (o sábio) Joey Tribbiani: “Greens não desistem
nunca!” “Bom, eu sou um Tribbiani, e os Tribbianis desistem.”
Find
a need and fill it, como dizia Ruth Stafford Peale, mulher de Norman
Vincent Peale, aquele de O Poder do Pensamento Positivo: na ausência do
Ministério do Vai Dar Merda, medida urgente e sempre adiada no Bananão,
precisamos de uma cultura do coach desmotivacional. Um campeão da
desmotivação não faria como Pablo Marçal, cujo currículo inclui se
perder com 32 pessoas no Pico dos Marins e, depois disso, virar
pré-candidato à Presidência pelo PROS — ao contrário, evitaria que as
pessoas entrassem nesse tipo de roubada premium. O problema é que, para
dar o exemplo e seguir fielmente meu próprio conselho, terei que
desistir de ser coach. Quem sabe eu escreva um livro sobre as vantagens
da procrastinação. Mas não hoje: como dizia Santo Agostinho antes de
renunciar ao pecado, “dai-me a castidade e a continência, mas não para
já”.
***
A GOIABICE DA SEMANA
Escrevo
esta coluna no fim de semana, antes de fugir do Bananão por uns dias,
mas já arrisco dizer que o Troféu Goiaba da semana vai para José Luiz
Datena. No sábado (4), o apresentador, que lidera as pesquisas para o
Senado em São Paulo, indicou que deixaria a disputa — como em 2016,
quando desistiu de se candidatar a prefeito, em 2018, quando desistiu de
disputar o Senado, e em 2020, quando desistiu de ser vice na chapa de
Bruno Covas. A cada uma delas, o apresentador mudou de partido, mas
jamais abandonou seu compromisso com desistir. Não resta a menor dúvida:
Datena é nosso grande herói da desistência.

Datena: o nosso grande herói da resistência
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