O que acontece em todos os lugares em que leis super-restritivas foram aplicadas é que o cidadão obediente à lei acaba se desarmando para não cair na ilegalidade, enquanto o criminoso não tem o menor pudor de comprar armas ilegais. Flavio Quintela para a Gazeta do Povo:
Como
sempre acontece depois de tragédias envolvendo armas de fogo nos
Estados Unidos, a de Uvalde foi seguida por um ataque direto do
presidente Joe Biden, que se pronunciou publicamente na noite de 2 de
junho. Entre outras coisas, Biden conclamou o Legislativo federal a
aprovar leis que restrinjam de alguma forma a venda de armas no país.
Mais especificamente, ele sugeriu que seja proibida a venda das chamadas
“armas de assalto” e que, caso isso não seja possível, que pelo menos
seja aumentada a idade mínima para sua compra, de 18 para 21 anos.
Também sugeriu a proibição da venda e uso de carregadores de alta
capacidade, uma maior abrangência das verificações de antecedentes e a
criação de leis que estabeleçam as red flags, ordenamentos que permitem o
confisco das armas de uma pessoa que se encaixe em um perfil
predeterminado.
As
medidas sugeridas por Biden não passam de um compilado de tentativas
ineficientes de conter a violência, comprovadamente ineficazes – todas
já foram implementadas anteriormente, em outros países. A razão pela
qual essas medidas não funcionam é a mesma razão pela qual nenhuma
restrição à posse e porte de armas funciona: criminosos são pessoas
dispostas a desrespeitar quaisquer leis. Imagine a cena: o bandido
planeja sua próxima ação, que é composta em sua totalidade de atos
ilegais, mas desiste de ir adiante porque não quer descumprir a lei de
restrição de armas. Não faz sentido e não acontece na vida real. O que
acontece – e que aconteceu em todos os lugares em que leis
super-restritivas foram aplicadas – é que o cidadão obediente à lei
acaba se desarmando para não cair na ilegalidade, enquanto o criminoso
não tem o menor pudor de comprar armas ilegais, contrabandeadas,
roubadas etc.
O
debate sobre armas de assalto também não faz sentido. Os opositores da
compra e uso de fuzis por civis dizem que essas armas foram projetadas
para guerras e que não têm lugar entre as pessoas comuns. Ora, as
guerras de um passado não tão remoto foram lutadas com muitas pistolas e
revólveres, e nem por isso esses armamentos são chamados de pistolas ou
revólveres de guerra. Descarregar um AR-15 é tão fácil como descarregar
uma pistola semiautomática. Na verdade, a pistola é mais fácil de
recarregar e mais prática de se manusear.
Os
líderes políticos – pelo menos grande parte deles – não querem discutir
o que precisa ser discutido para tentar evitar que tragédias como a de
Uvalde continuem acontecendo. Ninguém quer falar sobre a crise de saúde
mental que assola os países desenvolvidos e que está produzindo um
exército de jovens perturbados a ponto de cometer tais atrocidades. O
conceito é antiquíssimo, mas nem por isso menos verdadeiro: armas não
matam ninguém a não ser que estejam nas mãos de alguém disposto a matar.
E
o que dizer das gun free zones, aqueles locais publicamente denominados
como “livres de armas”? Quem as inventou foi certamente um dos culpados
pelas tragédias que nos têm acometido nos últimos anos. Quase a
totalidade dos tiroteios com múltiplos mortos acontece em zonas livres
de armas. E não é necessária uma inteligência acima da média para
entender que um criminoso armado se sentirá muito mais à vontade para
atirar em um lugar onde somente ele possui uma arma, ou seja, um lugar
em que ele tem certeza de que ninguém o poderá deter até que a polícia
seja chamada e chegue ao local. Por outro lado, se em vez de uma placa
dizendo “Zona Livre de Armas” o criminoso se deparar com uma placa
dizendo “Qualquer ameaça armada será respondida com força letal”, o mais
provável é que ele não escolha aquele lugar para perpetrar seu crime.
A
mídia americana de esquerda segue e tenta dar sustentação a Biden em
sua cruzada antiarmas. São dezenas de matérias trazendo especialistas
obscuros para tentar corroborar sua agenda. Ocorre que a imprensa atual
tem baixíssima credibilidade, por sua única e exclusiva culpa. As
pessoas não acreditam mais no que diz a grande mídia. Prova disso foi a
divulgação recente de uma pesquisa do Instituto Rasmussen mostrando que
mais da metade dos americanos acredita que houve algum tipo de fraude
nas eleições de 2020, incluindo um terço dos respondentes que se
identificaram como democratas. Na questão das armas, a mesma coisa. No
mesmo dia em que Biden fez o apelo por mais controle sobre as armas, a
CNN exibiu uma pesquisa on-line em seu noticiário, mostrando que 54% dos
respondentes estão satisfeitos com as leis atuais ou que as acham
restritivas demais, e apenas 36% querem leis que restrinjam ainda mais a
posse e o porte de armas de fogo.
É
pouco provável que as duas casas legislativas aprovem leis muito
restritivas às armas de fogo. Os congressistas, principalmente os
senadores, sabem que seus eleitores não querem isso. Nos Legislativos de
metade dos estados americanos, o chamado “porte constitucional” já foi
aprovado e está em vigência. Isso significa que, em metade dos estados,
qualquer pessoa que pode ter uma arma pode também portá-la. E o número
deve crescer nos próximos meses, mostrando que o americano médio não tem
a menor intenção de dar ao governo mais poder sobre suas armas.
Some-se
a tudo isso o fato de que, todas as vezes em que um presidente
democrata fala publicamente em confiscar, banir ou regular armas, o povo
corre e compra todo o estoque das lojas. Foi assim quando Obama o fez,
será assim com Biden. Não existe vendedor de armas melhor que um
presidente democrata. E as notícias vindas do vizinho, o Canadá, colocam
ainda mais receio nas pessoas que não querem o Estado controlando suas
vidas. O que Trudeau fez por lá tem ares de pesadelo apocalíptico para a
grande maioria dos americanos.
As
vítimas dos tiroteios e suas famílias não merecem a politização de suas
tragédias. Elas merecem que o poder público busque de forma autêntica e
ética a solução e os métodos de prevenção de tais ataques. A de Uvalde
poderia ter sido evitada – ou pelo menos sido muito menor em número de
mortos – caso a tragédia anterior, de Parkland, tivesse sido estudada e
usada para o aprendizado das forças policiais e para a elaboração de
políticas públicas que tratassem das reais causas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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