Da espiral da dependência de conteúdos pornográficos brotam terríveis patologias sociais: violência, abuso sexual, pedofilia. Carlos Alberto Di Franco para o Estadão:
A
pornografia é um negócio poderoso e devastador. Causa dependência,
desestrutura a afetividade, desestabiliza a família e passa uma pesada
conta no campo da saúde mental. Mas o mais grave, de longe, é a
estratégia de “mesmitificação” do material pornográfico. Eliminou-se o
carimbo de proibido. Deu-se ao conteúdo pornográfico um toque de leveza,
de algo sexy e divertido. Na prática, no entanto, a pornografia tem a
garra da adicção e as consequências psicológicas, afetivas e sociais da
dependência mais cruel. Joga o usuário num labirinto sombrio. Na era da
internet, a pornografia invadiu computadores, implodiu relacionamentos e
algemou muita gente. A pornografia produz uma imagem cínica do amor e
transmite uma visão da sexualidade como puro domínio do outro.
Norman
Doidge, importante psiquiatra canadense, tem tratado do tema com
clareza e realismo. Mostrou, por exemplo, o que acontece no cérebro do
consumidor assíduo de pornografia. A repugnância inicial aos conteúdos
pornográficos, fruto dos naturais filtros morais, vai cedendo espaço ao
acostumamento. O usuário demanda uma dose cada vez maior e mais
“sofisticada” para obter os mesmos resultados. É a espiral da
dependência. E dela brotam terríveis patologias sociais: violência,
abuso sexual, pedofilia.
Frequentes
denúncias de pedofilia na internet demonstram que a rede está se
transformando no principal meio de aliciamento e exploração sexual de
crianças. Apesar de proibidas pelas legislações, imagens de crianças em
cenas de sexo pipocam constantemente na internet.
Abusadores
criminosos põem à disposição do público arquivos com fotos
pornográficas. Depois de localizadas, elas passam a circular entre
usuários da rede e até em locais que poderiam ser considerados públicos.
A crescente presença da pornografia infantil tem chocado a sociedade.
O
problema, independentemente da justa indignação da opinião pública, não
é de fácil solução. Envolve, de fato, inúmeras dificuldades de caráter
político e operacional. Um mundo que não é capaz de estabelecer uma
política unitária no combate às drogas dificilmente conseguirá desenhar
uma plataforma comum na guerra à pornografia.
Na
verdade, medidas preventivas são bastante limitadas. Policiar um
sistema tão vasto e com tantos recursos técnicos seria uma tarefa
extremamente cara e de resultados incertos. Embora seja possível
bloquear o acesso aos sites publicamente conhecidos como pornográficos,
os programas de filtros, apresentados como uma alternativa para impedir o
acesso às páginas inconvenientes, diminuem o problema, mas não
bloqueiam a perversa criatividade dos delinquentes do ciberespaço.
Algumas
medidas, no entanto, podem e devem ser adotadas. A Polícia Federal tem
feito um trabalho excelente, responsável e competente. A frequente
identificação e prisão de predadores da internet é alentadora. Os
responsáveis pela divulgação de pornografia infantil, racismo,
publicidade de drogas ou outros crimes devem ser rigorosamente punidos.
Denunciar é um dever.
Afinal, a rede mundial não pode ser transformada num instrumento da patologia e do crime.
Mas
a raiz do problema, independentemente da irritação que eu possa
despertar em certas falanges politicamente corretas, está na onda de
baixaria e vulgaridade que tomou conta do ambiente nacional. Hoje,
diariamente, na televisão, nos outdoors, nas mensagens publicitárias, o
sexo foi guindado à condição de produto de primeira necessidade.
Atualmente,
graças ao impacto da TV e da internet, qualquer criança sabe mais sobre
sexo, violência e aberrações do que qualquer adulto de um passado não
tão remoto. Não é preciso ser psicólogo para que se possam prever as
distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação
precoce. Com o apoio das próprias mães, fascinadas com a perspectiva de
um bom cachê, inúmeras crianças estão sendo prematuramente condenadas a
uma vida “adulta” e sórdida. Promovidas a modelos e privadas da
infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo e falando como
adultos. A inocência infantil está sendo impiedosamente banida. Por
isso, a multiplicação de descobertas de redes de pedofilia não deve
surpreender ninguém. Trata-se, na verdade, das consequências criminosas
da escalada de erotização infantil promovida por alguns setores do
negócio do entretenimento.
Os
problemas levantados pelo mau uso da internet, embora gravíssimos, são
infinitamente menores que os benefícios trazidos por este notável canal
de aproximação dos povos, de democratização dos conhecimentos e de
globalização da solidariedade. Seus desvios não serão resolvidos por
meio de ineficazes tutelas governamentais. Você, e só você, pode
defender sua família.
Chegou
para a família a hora do diálogo, da formação e do protagonismo
responsável. A educação para o exercício da liberdade é o grande desafio
dos nossos dias. A aventura da liberdade responsável, desguarnecida de
ilusórias intervenções do Estado, acabará gerando uma sociedade mais
consciente e amadurecida.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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