Então, são os movimentos identitários um esquema de pirâmide? Já provaremos. Alexandre Soares Silva via Crusoé:
O identitarismo é o mais bem-sucedido esquema de pirâmide da história, depois do marxismo.
Esta
semana o caso do Faraó de Cabo Frio me fez pensar em esquemas de
pirâmide. Para quem não sabe, o Faraó de Cabo Frio, pessoa com nome de
vilão da Marvel, também conhecido como Faraó dos Bitcoins, era um garçom
que abriu uma empresa de investimentos com um formato que (visto de
longe, talvez) lembrava um pouco um famoso tipo de monumento funerário
egípcio. Ficou milionário em seis anos, e foi preso agora pela Polícia
Federal. A imprensa está falando de outras três empresas de investimento
em Cabo Frio que funcionavam em esquema de pirâmide; tudo isso
aparentemente fez a região ficar conhecida como Novo Egito.
Muito
bem. Mas senhores, olhem à sua volta: não estamos todos no Novo Egito?
Não estamos todos rodeados de pirâmides financeiras de todas as
espécies? O que faz com que pensemos que somos melhores que os pobres e
gananciosos cabofrienses? Não somos todos continuamente engabelados por
ex-garçons milionários com vários tipos de picaretagens pra vender?
Talvez
um dia apareça um filósofo político que defenda com argumentos
bem-elencados o que eu agora só intuo e digo sem provas: que todas as
formas de governo são esquemas de pirâmide. Mas por enquanto vou ser
mais modesto, e me limitar a dizer que o identitarismo é um esquema de
pirâmide.
Segundo
o texto mal-ajambrado da Wikipedia, um esquema em pirâmide é “um modelo
comercial previsivelmente não sustentável que depende basicamente do
recrutamento progressivo de outras pessoas para o esquema, a níveis
insustentáveis. (…) A falha fundamental é que (…) somente o idealizador
do golpe (ou, na melhor das hipóteses, umas poucas pessoas) ganham
trapaceando os seus seguidores”.
Então, são os movimentos identitários um esquema de pirâmide? Já provaremos.
Como
em todo esquema de pirâmide, eles falam em jargão (“racismo
estrutural”, “corpos negros”, “branquitude” etc); como em todo esquema
de pirâmide, a hierarquia é constantemente enfatizada (“lugar de fala”);
como em todo esquema de pirâmide, se as coisas não estão dando certo
pra você, você não está se esforçando o suficiente (“não basta não ser
racista”, “seu silêncio é uma violência” etc.)
No
topo da pirâmide estão os bilionários de sempre, que é até monótono
listar, Zuckerberg, Jack Dorsey, Jeff Bezos, o cantor Fagner etc.
(incluí o Fagner só para ser surpreendente, desculpe).
Um
degrau mais abaixo está gente como a fundadora marxista do Black Lives
Matter, Patrisse Cullors, que tem várias casas de luxo (uma delas
valendo 1,4 milhões de dólares) e está sendo investigada pelo imposto de
renda americano por desvio de fundos de uma das suas fundações; Barack e
Michelle Obama, com seus contratos milionários de livros e palestras
sobre racismo, e consultoria para séries da Netflix; e outras
celebridades que lucram com o assunto.
No
degrau intermediário está gente como Ibram X. Kendi, ativista
“antirracismo” que recebeu vários prêmios via fundações, o último sendo o
Macarthur “Genius” Award deste ano, no valor de 625 mil dólares, e
todas as milhares de pessoas que ganham dinheiro escrevendo livros sobre
o assunto, dando palestras e principalmente dando os cursos
obrigatórios de sensitização racial e de gênero em grandes corporações —
um mercado que movimenta não milhões, mas bilhões de dólares no mundo
todo.
Um
grau abaixo estão membros de ONGs e de grupos identitários que ganham a
vida orientando canais de televisão sobre como fazer séries sobre temas
raciais e de gênero, e editoras como editar os livros sobre racismo e
gênero. Disse “orientando”, mas já que não é mais possível dispensar a
presença desses grupos, talvez “ordenando” seja um verbo mais preciso.
Nesse grau da pirâmide também estão roteiristas e escritores que são
colocados por esses movimentos dentro das salas de roteiro e das
editoras. Esse grau da pirâmide age a meio-caminho de um sindicato
tradicional e de uma boa e velha máfia siciliana de proteção.
No
degrau abaixo estão pessoas como a chef argentina Paola Carosella e o
comediante Fabio Porchat, que se declaram racistas publicamente,
tentando vender a ideia de que toda a sociedade é racista; tudo o que
conseguem pela venda do produto é o benefício psicológico duvidoso de se
sentirem, momentaneamente, boas pessoas.
Um
degrau mais abaixo, o prêmio é que você vai conseguir manter o seu
emprego — e isso só talvez, se você ou a sua empresa continuar comprando
os cursos de sensitização racial e de gênero ministrados pelas pessoas
de níveis acima do seu.
Na
parte mais baixa da pirâmide estão, bom, os seus filhos, e todas as
pessoas que estão nascendo tarde demais para lucrarem nesse vasto
esquema de pirâmide ideológica.
“Mentira!
O sistema funciona! A bonança durará para sempre! É só continuar
recrutando! CONTINUEM RECRUTANDO!”, dirão os piramidistas.
Mas
não sei. Prefiro investir o meu pequeno capital emocional em coisas
mais sólidas, como teorias de conspiração envolvendo alienígenas no
Kremlin.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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