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O problema de rir dos políticos palhaços é que o alvo da piada (o inglês butt of the joke é muito mais eloquente) somos nós, contribuintes que subsidiam a palhaçada. Ruy Goiaba para a Crusoé:
Todo
mundo viu — você também, certo? — aquele vídeo em que o humorista André
Marinho imita Jair Bolsonaro em um jantar na casa de Naji Nahas, o
Bernie Madoff brasileiro (nesse caso, “brasileiro” significa “nascido
num país em que gente rica não fica em cana por muito tempo”), para as
gargalhadas de Michel Temer e outros presentes, na maioria brimos
endinheirados. A imitação de Bolsonaro, ótima, rendeu muita “discussão
política” sobre a chacota com o presidente e ainda mais sociologia
freestyle de má qualidade, como na perspicaz observação de que a mesa do
jantar era quase toda composta de “homens brancos velhos”. Claro:
faltou Lula, que além de jovem é mulher trans e negrx (e já foi aliado
de praticamente todos os políticos que aparecem no vídeo).
Dias
antes, Marcelo Adnet, que compete com André Marinho pelo prêmio de
melhor imitador presidencial — acho o texto do Adnet melhor, mas Marinho
está mais próximo da tosqueira do original —, tinha respondido àquele
áudio verdadeiro de Bolsonaro, no qual os caminhoneiros não acreditaram, com
seu “Bolsonaro fake” convocando os manifestantes da categoria a deixar a
boleia dos seus caminhões e dançar a Macarena de madrugada. Quem segue
Marinho e Adnet nas redes sociais já sabe disso faz tempo — e certamente
já riu muitas vezes com as imitações que os dois fazem de um grande
elenco de políticos.
O
que o leitor talvez não saiba é que os próprios políticos estão
entrando nessa seara humorística. Reportagem do site Metrópoles traz um
vídeo em que Fábio Faria, ministro das Comunicações e genro de Silvio
Santos, imita o sogrão para fazer piada com o dólar. “Você está fazendo o
Show do Milhão porque o dólar está 6 reais. Se estivesse 2 reais, quem
faria era eu e a Patrícia [Abravanel, filha de Silvio e mulher de
Faria]. Você sabe que 1 milhão de reais não vale nada, Celso”, brinca
Faria ao lado de Celso Portiolli, o atual apresentador do Show do
Milhão.
Certo,
o Patrão é Imitação 101 — até eu consigo fazer um Silvio Santos
passável (ma oe!). O problema é que, no Bananão, a política não se
limita a isso; pelo contrário, empenha-se numa concorrência
deslealíssima com os humoristas profissionais. O presidente não imita
ninguém — faltam a ele talento e neurônios para a tarefa —, mas o que
são as aparições dele diante dos “apoiadores” no Alvorada se não o
stand-up do Bolsonaro, com claque fiel e tudo? Ele até já levou um
palhaço profissional, o Carioca do Pânico, para responder a perguntas
desagradáveis de jornalistas sobre o PIB. Outro palhaço por profissão,
Tiririca, já foi o deputado federal mais votado do Brasil: naquela época
(2010), o Bananão quis variar um pouquinho, mas depois seguiu elegendo
palhaços amadores.
Não
queria repetir o que já escrevi várias vezes sobre a “ala ideológica”
do governo substituindo o globalismo pelo SBTismo, nem sobre a distância
sanitária necessária para que a comédia funcione — ou seja, não
funciona (e não é comédia) se você estiver DENTRO dela. Mas o problema
de rir dos políticos palhaços é que o alvo da piada (o inglês butt of
the joke é muito mais eloquente) somos nós, contribuintes que subsidiam a
palhaçada. Na verdade, estamos mais para o garoto do filme It que é
puxado para o bueiro e tem o braço arrancado pelo palhaço Pennywise;
ainda assim, seguimos rindo. Afinal, o Brasil é como os tubarões das
praias de Pernambuco: você dá a mão e eles querem logo o braço.
(Como
a crise é também estética, solicito aos brasileirinhos que me leem: por
favor, evitem ser literais e protestar por aí com nariz de palhaço. É
uma cafonice prima-irmã daquele olho verde-e-amarelo chorando e me dá
ganas de virar eu mesmo o Pennywise e arrancar o braço de quem faz. Pela
atenção, obrigado.)
***
A GOIABICE DA SEMANA
O
flop bem flopadinho das manifestações de 12 de setembro — a Secretaria
de Segurança Pública de São Paulo contou 6.000 pessoas na Paulista, o
que é mais ou menos equivalente ao público de um Portuguesa x Juventus
no Canindé, naquela remota época em que havia público nos estádios — é
mais uma prova de que esses petistas que ficam nas redes sociais
gritando “Bolsonaro fascista, genocida, vai dar o golpe” etc. só querem
mesmo sinalizar virtude: se acreditassem de fato nisso, não se dariam ao
luxo de escolher companhias nas manifestações para tirar o sujeito de
lá. Pelo visto, o fascismo não é tão ruim assim — dá para esperar mais
um ano até colocar o Painho lá de volta.

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