MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Um país de palhaços

 

blog  orlando  tambosi

O problema de rir dos políticos palhaços é que o alvo da piada (o inglês butt of the joke é muito mais eloquente) somos nós, contribuintes que subsidiam a palhaçada. Ruy Goiaba para a Crusoé:


Todo mundo viu — você também, certo? — aquele vídeo em que o humorista André Marinho imita Jair Bolsonaro em um jantar na casa de Naji Nahas, o Bernie Madoff brasileiro (nesse caso, “brasileiro” significa “nascido num país em que gente rica não fica em cana por muito tempo”), para as gargalhadas de Michel Temer e outros presentes, na maioria brimos endinheirados. A imitação de Bolsonaro, ótima, rendeu muita “discussão política” sobre a chacota com o presidente e ainda mais sociologia freestyle de má qualidade, como na perspicaz observação de que a mesa do jantar era quase toda composta de “homens brancos velhos”. Claro: faltou Lula, que além de jovem é mulher trans e negrx (e já foi aliado de praticamente todos os políticos que aparecem no vídeo).

Dias antes, Marcelo Adnet, que compete com André Marinho pelo prêmio de melhor imitador presidencial — acho o texto do Adnet melhor, mas Marinho está mais próximo da tosqueira do original —, tinha respondido àquele áudio verdadeiro de Bolsonaro, no qual os caminhoneiros não acreditaram, com seu “Bolsonaro fake” convocando os manifestantes da categoria a deixar a boleia dos seus caminhões e dançar a Macarena de madrugada. Quem segue Marinho e Adnet nas redes sociais já sabe disso faz tempo — e certamente já riu muitas vezes com as imitações que os dois fazem de um grande elenco de políticos.

O que o leitor talvez não saiba é que os próprios políticos estão entrando nessa seara humorística. Reportagem do site Metrópoles traz um vídeo em que Fábio Faria, ministro das Comunicações e genro de Silvio Santos, imita o sogrão para fazer piada com o dólar. “Você está fazendo o Show do Milhão porque o dólar está 6 reais. Se estivesse 2 reais, quem faria era eu e a Patrícia [Abravanel, filha de Silvio e mulher de Faria]. Você sabe que 1 milhão de reais não vale nada, Celso”, brinca Faria ao lado de Celso Portiolli, o atual apresentador do Show do Milhão.

Certo, o Patrão é Imitação 101 — até eu consigo fazer um Silvio Santos passável (ma oe!). O problema é que, no Bananão, a política não se limita a isso; pelo contrário, empenha-se numa concorrência deslealíssima com os humoristas profissionais. O presidente não imita ninguém — faltam a ele talento e neurônios para a tarefa —, mas o que são as aparições dele diante dos “apoiadores” no Alvorada se não o stand-up do Bolsonaro, com claque fiel e tudo? Ele até já levou um palhaço profissional, o Carioca do Pânico, para responder a perguntas desagradáveis de jornalistas sobre o PIB. Outro palhaço por profissão, Tiririca, já foi o deputado federal mais votado do Brasil: naquela época (2010), o Bananão quis variar um pouquinho, mas depois seguiu elegendo palhaços amadores.

Não queria repetir o que já escrevi várias vezes sobre a “ala ideológica” do governo substituindo o globalismo pelo SBTismo, nem sobre a distância sanitária necessária para que a comédia funcione — ou seja, não funciona (e não é comédia) se você estiver DENTRO dela. Mas o problema de rir dos políticos palhaços é que o alvo da piada (o inglês butt of the joke é muito mais eloquente) somos nós, contribuintes que subsidiam a palhaçada. Na verdade, estamos mais para o garoto do filme It que é puxado para o bueiro e tem o braço arrancado pelo palhaço Pennywise; ainda assim, seguimos rindo. Afinal, o Brasil é como os tubarões das praias de Pernambuco: você dá a mão e eles querem logo o braço.

(Como a crise é também estética, solicito aos brasileirinhos que me leem: por favor, evitem ser literais e protestar por aí com nariz de palhaço. É uma cafonice prima-irmã daquele olho verde-e-amarelo chorando e me dá ganas de virar eu mesmo o Pennywise e arrancar o braço de quem faz. Pela atenção, obrigado.)

***

A GOIABICE DA SEMANA

O flop bem flopadinho das manifestações de 12 de setembro — a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo contou 6.000 pessoas na Paulista, o que é mais ou menos equivalente ao público de um Portuguesa x Juventus no Canindé, naquela remota época em que havia público nos estádios — é mais uma prova de que esses petistas que ficam nas redes sociais gritando “Bolsonaro fascista, genocida, vai dar o golpe” etc. só querem mesmo sinalizar virtude: se acreditassem de fato nisso, não se dariam ao luxo de escolher companhias nas manifestações para tirar o sujeito de lá. Pelo visto, o fascismo não é tão ruim assim — dá para esperar mais um ano até colocar o Painho lá de volta.

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