Perdi a paciência para com os doidos. Afinal, é graças à cumplicidade deles que somos esmagados e enxovalhados e assaltados e até atropelados por Costas, Marcelos, Ferros, Cabritas, Rios e o que calha. Via Observador, a crônica semanal de Alberto Gonçalves:
Parece
que na passada quinta-feira entrou em vigor a Lei da Censura, perdão, a
Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, que diz combater a
“desinformação”. Não se nota. Ao que me contam, as televisões continuam
a receber governantes e “especialistas” empenhados em espalhar mentiras
acerca da Covid. Para cúmulo, as mentiras, que antes tentavam fingir-se
alinhadas com a ortodoxia internacional na matéria, são cada vez mais
descaradas e exóticas. Julgo que em nenhum outro lugar do mundo há
“autoridades” a garantir que a vacina não protege da infecção nem reduz a
possibilidade de contágio.
Aqui
há. Aqui há de tudo. Aqui até há tempo de antena, sem contraditório,
para médicos que descrevem o “caos” nos hospitais onde trabalham, embora
alguns estejam às moscas no que toca a internamentos motivados pelo
vírus chinês. Aqui há entidades oficiais que empreendem uma gigantesca
campanha de vacinação sem assumir, ao contrário do que acontece com as
suas congéneres no resto do planeta, uma única consequência positiva
para as pessoas que aceitam a injecção, ou são empurradas para ela. Aqui
há um primeiro-ministro que, para inspirar subjugação, simula estar em
“isolamento profilático” após alegadamente se ter vacinado, observado as
“regras” e testado negativo. Aqui há charlatães que puxam dos
pergaminhos em medicina, matemática ou pólo aquático a explicar que a
atitude do dr. Costa faz sentido. Os charlatães afirmam que temos de nos
vacinar, testar, distanciar e usar um farrapo nas trombas porque se não
nos vacinarmos, testarmos, distanciarmos e usarmos um farrapo nas
trombas podemos adoecer e contaminar o próximo, e que se nos vacinarmos,
testarmos, distanciarmos e usarmos um farrapo nas trombas podemos na
mesma adoecer e contaminar o próximo. A lógica disto é irrefutável:
entrámos no manicómio. Naturalmente, os malucos, que aparentam ser uma
vasta parte da população, batem palmas.
O
engraçado, se não fôssemos vítimas, é que isto é perpetrado em nome da
“ciência”. Há quase 200 anos, o velho Proudhon lançou o conceito de
“socialismo científico”, e desde então andamos a descobrir o que sucede
quando essa contradição em termos vem ao de cima. Misturar a cegueira
com a busca do conhecimento não é apenas impossível: é desastroso. No
desastre vigente, limitamo-nos a pagar o preço por deixar um assunto de
saúde pública nas mãos de fanáticos, oportunistas e demagogos sem
escrúpulos e com ambição. Claro que a culpa é partilhada pelos “media”
tradicionais, que têm na loucura “pandémica” o alívio provisório do seu
fatal anacronismo. E por uma oposição castrada. E por “peritos” que
repetem delírios para esticar a inesperada popularidade de que começaram
a desfrutar. Porém, em penúltima instância, a culpa é de quem manda. Em
última, é de quem percebe a prepotência e se resigna à prepotência.
Duas
ou três considerações. A Covid provocou em toda a parte reacções a
princípio desorientadas e, depressa se notou, exageradas. É talvez um
sinal dos tempos, tempos de maior conforto e menor discernimento: em
1958 e 1968, as gripes Asiática e de Hong Kong, respectivamente, mataram
quantidades similares à Covid sem um milésimo da balbúrdia e dos danos
“secundários”. De qualquer modo, em 2021 existe a vacina. A vacina, ao
que se constata, funciona (e numa percentagem significativa para todas
as “variantes”, incluindo a Delta Plus, a Delta Ultimate e a Delta Mega
Force). Nas nações democráticas, a eficácia da vacina é um argumento
para o regresso ao normal, descontados certos resíduos autoritários que
conviria erradicar em breve. Em Portugal, regressar ao normal não é
hipótese.
Em
Portugal, a Covid é um pretexto, e já não uma ameaça. Há um partido,
com um projecto muito adiantado de conquista do poder, que se foi
apercebendo das portas que a Covid lhe abria. Não é difícil reinar
arbitrariamente sobre uma sociedade primitiva, fechada à realidade e
aberta à crendice e à dependência. Se lhe acrescentarmos o medo, leia-se
um pavor irracional da morte alimentado por “noticiários” de fancaria, a
conquista fica consumada. Por isso o governo e os seus serviçais teimam
na estratégia do susto, à revelia da ciência de facto: uma sociedade
embrutecida, temerosa e decorrentemente doida facilita a empreitada.
Doidos
não faltam. Os doidos despejam babugem nas mãos de dez em dez minutos,
ainda que o risco de apanhar o vírus em superfícies seja comprovadamente
ínfimo. Os doidos usam máscara ao ar livre e nos próprios carros. Os
doidos são incapazes de ponderar riscos banais. Os doidos tomam a vacina
e não acreditam que a vacina os defenda. Os doidos, que apreciam
salário seguro e Netflix, exigem confinamentos para prevenir calamidades
imaginárias e suscitar calamidades certas. Os doidos levam a sério a
propaganda alucinada (Ai, o R(t)! Ai, a “incidência”! Ai, a estirpe
Omega!) e desprezam a evidência de que a Covid, enquanto doença mortal e
enquanto vigorar a função das vacinas, praticamente sumiu. Os doidos,
que em Janeiro comparavam as mortes “de” e “com” Covid à queda diária de
um avião, não fazem comparações com o acidente diário de um Smart. Os
doidos não entendem que a discrepância entre o aumento de “casos” e o
número de mortes é uma óptima notícia e não um truque para violar a
Constituição, decretar “obrigações” ilegais, arrasar o pouquíssimo que
sobra da economia e reforçar o domínio. Os doidos são a prova de que a
Covid produz estragos duradouros no cérebro, incluindo antes da
infecção.
Algures
neste ano e meio, perdi a paciência para com os doidos. Afinal, é
graças à cumplicidade deles que somos esmagados e enxovalhados e
assaltados e até atropelados por Costas, Marcelos, Ferros, Cabritas,
Martas, Gracinhas, Pedros Nunos, Salgados, Vieiras da Silva, Mortáguas,
Medinas, Césares, Louçãs, Rios e o que calha. A doideira não é atenuante
para o mal que causam. Os taradinhos da Covid que se entretenham a
cumprir “regras” e ler gráficos insultuosos, como os antigos liam as
entranhas das perdizes para decidir se desposavam a vizinha ou
cultivavam cevada. Embora tardiamente e aos poucos, a generalidade dos
países reduziu a Covid a um problema que importa ultrapassar. Os
portugueses que gostam de mandar e os portugueses que gostam de obedecer
vêem na Covid uma benesse permanente. É com eles.
Aos
demais, os raros portugueses que prezam a liberdade, cabe rir das
restrições, dos cercos, das multas, dos políticos, das polícias, dos
“peritos” e dos patetas – e viver a vida. Eu, pelo menos, só tenho uma.
E, aqui ou em paragens civilizadas, não tenciono desperdiçá-la na
veneração de pânicos falsos e bandidos verdadeiros. (E agora, enfim,
chega o divertido momento em que o chalupa da aldeia consulta os astros e
o boletim da DGS, desce a máscara ao queixo, aponta o dedinho a pingar
álcool-gel e, transido, acusa-me: “Negacionista”. Mas se lhe atiramos
alho ou um espirro ele foge).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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