O ex-presidente Lula não é o candidato do PT, mas do STF, o partido mais poderoso do país. J. R. Guzzo via Estadão:
O Supremo Tribunal Federal,
após anos e anos de trabalho conduzido ora em público, ora em segredo e
sempre em circunstâncias tão obscuras que é melhor nem mexer com essa
parte da história, acaba de conseguir o que queria desde que a casa de Lula caiu
e ele acabou condenado por corrupção e lavagem de dinheiro: concluiu
oficialmente, com todos os seus agravos, embargos e demais papelada, a
maior obra da falsificação jamais registrada na história da Justiça
brasileira.
Através
dessa fraude, executada em câmera lenta e com repetidos acessos de
grosseria na malversação da lei, os 11 ministros do STF transformaram em
candidato à Presidência da República um réu condenado em terceira e
última instância, com provas, testemunhas e confissões voluntárias, por
nove juízes diferentes – e há pouco saído de quase 600 dias no xadrez.
O
STF vive de suicídio em suicídio, tornando incompreensível para o
público, a cada sentença, a ideia de que lei e moral devem andar juntas –
não há nenhuma surpresa, portanto, em mais esse comportamento
aberrante, quando se leva em conta que as suas decisões, cada vez mais,
conduzem à negação permanente da justiça neste país. O que importa,
agora, é que o STF ocupa abertamente o governo do Brasil – e está
dizendo a todo mundo que tem, sim, um candidato próprio à Presidência da
República em outubro de 2022.
Esqueçam
o PT, a manada de anões que sobrevivem às custas do fundo partidário, a
pasta disforme de governadores e aventureiros que querem, como sempre,
montar num cavalo que os carregue para dentro da máquina estatal, sempre
tão lucrativa para eles. Esses estão sempre ali, sentados na porta do
chefe, na esperança de receberem uma ordem para obedecer.
Lula,
agora e em 2022, não é o candidato deles. É o candidato do Supremo.
Lula não é bobo, claro – não vai querer que o tratem assim, porque não é
diretor da OAB, não é bispo e não é intelectual orgânico que vai em
mesa redonda de televisão debater ciência política com comunicadores
sociais. Ele sabe muitíssimo bem o que é o STF, sabe perfeitamente o que
povo brasileiro pensa do STF e vai dar graças a Deus se puder ir do
começo ao fim da campanha eleitoral inteira sem falar as letras “S”, “T”
e “F”.
Lula
vai querer o STF – tão elogiado no Brasil civilizado, equilibrado,
democrático, de “centro esquerda”, “liberal”, etc. etc. etc. – a 1.000
quilômetros de distância do seu palanque. Aqui não, pelo amor de Deus.
Já imaginaram se Lula tivesse de atravessar o Viaduto do Chá, de ponta a
ponta, com Gilmar Mendes a seu lado, sorrindo para a galera? Se for
assim, ele nem sai candidato. Mas isso não vai acontecer, porque não há a
menor necessidade que aconteça.
Quem
salvou Lula? Foi o STF, sim, mas o ex-presidente não precisa ficar
agradecendo o tempo todo e atraindo ódio para cima de si mesmo; ele
nunca foi bom, por sinal, no quesito “solidariedade”. Lula e o STF são
um amor a ser vivido a distância. Ele pode não querer muito o STF, mas é
ele quem o STF quer; vão arranjar rapidinho um esquema mutuamente
proveitoso de convívio, e têm tudo para iniciar uma “longa amizade”,
como no filme Casablanca.
A
má notícia aí é para os outros, que ficaram sonhando pelo pacto
STF-Lula, na crença de que isso ia provocar um terremoto no governo, e
quando acordaram viram que estavam na chuva – e põe chuva nisso. A
anulação das quatro ações penais contra Lula, desgraçadamente para todos
eles, teve também o efeito imediato de anular cada uma das suas
candidaturas.
Imaginava-se uma resposta culta, moderna e desinfetada para Jair Bolsonaro: com a decisão do Supremo viraram subitamente um grande zero. É onde estamos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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