Que fique claro para quem sonha com o Palácio do Planalto: quem não mostrar a que veio e em que é radicalmente diferente de Lula e Bolsonaro, apenas oferecendo o próprio rosto num jogo de cartas marcadas, está trilhando o caminho mais curto para a derrota. Alexandre Borges para a Gazeta do Povo:
No
cenário otimista que prevê eleições em outubro de 2022, o Brasil terá
que decidir se continua mentalmente preso entre Lula e Bolsonaro ou se
está aberto a alternativas. Um segundo turno que repete os nomes
dominantes na política nacional desde o impeachment de Dilma Rousseff
será um recado claro: nossa imaginação, assustada, embotada e
infantilizada, só aceita brincar no cercadinho de casa. O medo não
costuma ser um bom conselheiro.
A
culpa deste segundo turno “do fim do mundo” não é só do eleitor, mas
também da classe política oportunista, calculista e alienada do país que
se recusa a fazer política. Mesmo faltando mais de 500 dias para o
primeiro turno das eleições do ano que vem, as discussões continuam
girando em torno de nomes e não de projetos, ideias e propostas
inovadoras, ousadas e desafiantes para o Brasil. Não é à toa que, neste
reality show macabro, os personagens mais conhecidos e lembrados levam
vantagem.
Quais
são as novas ideias da chamada “terceira via”? Ela nega Lula e
Bolsonaro e o legado de ambos? O que estes pretendentes ao cargo mais
alto do executivo oferecem de tão novo que justifique a troca do “mal
conhecido” pela alternativa, a despeito do risco do salto no escuro? O
eleitor, ao colocar dois presidentes no topo da preferência, deixa claro
que ainda não se convenceu de que mudar é melhor, mesmo com o desastre
sanitário, político e econômico que vivemos. No mínimo, um puxão de
orelha nos que sonham destronar os líderes atuais das pesquisas.
Este
é um ano sem eleições em que a última discussão deveria ser sobre
nomes. Se um ano e meio antes das eleições não há debate sobre as
grandes questões do país, quando haverá? Que fique claro para quem sonha
com o Palácio do Planalto: quem não mostrar a que veio e em que é
radicalmente diferente de Lula e Bolsonaro, apenas oferecendo o próprio
rosto num jogo de cartas marcadas, está trilhando o caminho mais curto
para a derrota.
Segundo
a última pesquisa PoderData 360, amplamente analisada em artigo e vídeo
neste espaço, Bolsonaro está 18 pontos atrás do ex-presidiário na
simulação de segundo turno e perde para o insosso apresentador Luciano
Huck que sequer admite abertamente ser candidato. O presidente não vence
um único adversário e aparece com 56% de rejeição. Uma derrota de
goleada contra ninguém.
O
resultado não poderia ser mais convidativo para outros nomes entrarem
na disputa. O eleitor está na janela de casa, insatisfeito com os
pretendentes atuais e suspirando para que novos nomes venham cortejar
seu coração. Não há desculpa para que as campanhas da “terceira via”
sejam tão personalistas, tímidas e desprovidas de ideias, ousadia,
coragem, criatividade e poder de sedução. Para o eleitor, antes mal
casado do que só.
Há
tempo suficiente para que partidos e políticos acordem do torpor e
apatia que estão imersos e partam para o confronto democrático que
caracteriza a política com “p” maiúsculo. Quase metade dos eleitores,
segundo a mesma pesquisa citada acima, sequer desaprovam a atual
condução da vacinação no país pelo governo federal. Se a oposição não
consegue mostrar o caos na gestão do combate à pandemia para o eleitor e
colar mais de 350 mil cadáveres no governo, já perdeu a disputa antes
mesmo de começar.
Não
há desculpa para tamanha timidez, inação e falta de arrojo, ânimo e
audácia. Alguém sinceramente acha que o eleitor vai mudar seu voto por
conta de lives e entrevistas esporádicas com pré-candidatos que não vão
além de platitudes ou muxoxos contra o governo sem apresentar críticas
contundentes, persuasivas e inteligíveis, sem inovar nas propostas e
promessas? Você sabe a resposta.
Há
todo espaço possível para que 2022 não repita 2018, como as pesquisas
deixam claro e cristalino. Se Lula e Bolsonaro ainda lideram, não se
pode culpar o eleitor. Como dizia Margaret Thatcher, “primeiro vença a
discussão, depois conquiste o voto”. É hora dos políticos fazerem a boa
política, sem menosprezar a inteligência e a sensibilidade do eleitor.
Antes tarde do que nunca.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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