MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 29 de agosto de 2020

O uso vergonhoso que a esquerda faz da "ciência"


As descobertas das ciências sociais se baseiam em estudos com motivações políticas, usados para amparar narrativas sociais de militantes ideológicos. Artigo do médico britânico Rob Sutton publicado pela Spiked e traduzido para revista Oeste desta semana:

Muita gente na esquerda hoje vende a narrativa de ser mais voltada para a ciência do que aqueles à direita. Essas pessoas se apresentam como os herdeiros dos ideais do Iluminismo — razão, progresso e verdade —, enquanto expõem a direita ao ridículo como uma coleção de criacionistas, negacionistas da mudança climática e da antivacinação.

A narrativa é falsa, cada vez mais falsa.
Mas é uma ficção útil, entretanto. Permite que a esquerda adorne suas visões moral e política como científicas. Questioná-las, portanto, é questionar a autoridade da ciência. É equivalente à heresia secular. Quando os democratas nos Estados Unidos se apresentam como “o partido da ciência”, eles na verdade estão dizendo “não nos questionem”.

Esquerdistas costumavam invocar a autoridade da ciência principalmente para justificar suas opiniões sobre como deveríamos reagir à mudança climática. Mas a esquerda usa cada vez mais a mesma autoridade moral e científica para justificar ideias sobre uma gama de questões em permanente crescimento — de raça a gênero.

Parte do problema aqui se deve à abrangência com que usamos o termo “ciência”. Tradicionalmente, ele se refere aos campos das ciências naturais, que dependem fortemente de métodos quantitativos e têm um patamar excepcionalmente alto para a entrada de novas ideias no consenso.

No entanto, a autoridade da “ciência” foi agora apropriada pelas ciências sociais — um campo acadêmico dominado por esquerdistas. Isso significa que as visões de esquerda de cientistas sociais sobre classe, raça e gênero são basicamente tratadas como, digamos, a compreensão do DNA por biólogos — isto é, como qualificadas, objetivas e verdadeiras.

Mas isso é enganoso. A ciência se baseia no método científico, que é intencionalmente muito limitado acerca do que pode dizer sobre o mundo. Fora da estrutura lógica da matemática, não podemos “provar” de maneira conclusiva nenhuma lei natural (até mesmo dentro da matemática a coisa fica um pouco vaga). Hipóteses devem ser apresentadas e testadas sob um leque de métodos experimentais.

Se a hipótese não é refutada nessas condições, dizemos que as descobertas são compatíveis com a nossa hipótese. Com o tempo e as múltiplas repetições de um experimento para validar uma ideia, passamos a aceitar uma hipótese como verdadeira (ainda que, é importante ressaltar, nunca provemos que ela é verdade; só não conseguimos provar que é falsa).

E, se a hipótese prevê um fenômeno até então não observado que é finalmente observado, trata-se de um bônus. Esse padrão alto significa que apenas as hipóteses mais fortes sobrevivem. É o darwinismo aplicado ao discurso intelectual.

Hipóteses sociais sobre classe, raça, gênero e hierarquia não podem ser testadas nem refutadas com rigor da mesma forma que uma hipótese, por exemplo, sobre o modelo-padrão da física das partículas. Não podemos forçar as pessoas a participar de experimentos como fazemos com quarks. As ciências sociais são afligidas por essas limitações fundamentais e fraquezas metodológicas.

Assim, elas assumiram a autoridade de “ciência” sem a seriedade do método. Além do mais, a ausência de diversidade política no meio incrivelmente esquerdista das ciências sociais significa que visões discordantes sofrem resistência, enquanto visões conformistas são aceitas.

As descobertas das ciências sociais se baseiam em estudos com motivações políticas, produzidas por uma academia ideologicamente não representativa, para amparar as narrativas sociais de colegas que partilham as mesmas opiniões. A busca não é pela verdade objetiva, mas pelo que corrobore crenças preexistentes. Busque, e encontrará um patriarcado capitalista opressor.

O número de disciplinas em que certas linhas de pesquisa acadêmica são consideradas inaceitáveis é cada vez maior. Pesquisas em estudos de gênero são aceitáveis contanto que não concluam que variações nos resultados entre homens e mulheres podem ser consequência de diferenças inatas entre eles. Psicólogos sociais foram ferozes em sua luta para banir a psicologia evolutiva, que sugere que nem todos os pecados do homem podem ser resultado da influência corruptora da sociedade. E a pesquisa de QI acerta em cheio o dogma de que somos todos criados iguais.

Questionar essas narrativas correria o risco de desestabilizar as suposições sobre as quais os movimentos “progressistas” estão construídos. Então, os esquerdistas se envolvem nesses jogos de dissimulação intelectual.
As tendências políticas são movidas por incentivos perversos tanto na academia quanto na mídia. Assim, em campos em que os colegas de alguém são esmagadoramente de uma posição política específica, existe um grande incentivo para não bagunçar o coreto, sob o risco de prejudicar os avanços na carreira.

Existe também um equívoco de que a pesquisa é um relato imparcial de descobertas factuais. Mas não é o caso. Cientistas sociais, cujos leitores principais (e muitas vezes únicos) são outros cientistas sociais, acreditam que um artigo que chega a conclusões ambiciosas sobre uma narrativa estabelecida tem mais chance de ser apoiado e citado.

Veículos de mídia podem então recorrer a essas pesquisas para fornecer à sua visão política uma aura de legitimidade científica e acadêmica. Veículos de esquerda, em especial, agem como se propostas políticas se seguissem naturalmente a estudos acadêmicos, que são eles próprios irrepreensíveis.

Isso significa que mídias esquerdistas, ao obter sua autoridade de cientistas sociais de esquerda, agem como se sua visão política viesse de uma fonte da verdade. The Guardian descreve a si mesmo como “livre de inclinações políticas e comerciais” e engajado na “luta por verdade, humanidade e justiça”, como se as três devessem invariavelmente se alinhar com o discurso da esquerda. O Washington Post adotou o slogan absurdamente histriônico Democracy Dies in Darkness (“a democracia morre na escuridão”, em tradução livre) em 2017, como se a eleição de Donald Trump sinalizasse uma crise constitucional, em vez de ser apenas politicamente intragável.

A implicação, claro, é que as mídias de direita são pouco mais do que máquinas de fake news cientificamente iletradas. São as mídias de esquerda as guardiãs do conhecimento e as protetoras da verdade científica (e moral). Isso apesar do fato de não terem menos inclinação a exagerar notícias relacionadas à literatura científica em busca de cliques.

A esquerda tenta há décadas expandir a alçada do conhecimento científico sem aceitar as limitações do método científico. Ela agora fica totalmente confortável deixando de lado verdades inconvenientes que desafiam suas crenças a priori.

A ciência é empunhada pelas pessoas da esquerda como uma vara para golpear aqueles que fazem perguntas razoáveis. Elas optaram pela conveniência em detrimento da seriedade intelectual. Ao fazê-lo, encorajam a politização do conhecimento científico e a cientifização da moralidade. Ao abusar da ciência, a esquerda está destruindo o debate político.

Rob Sutton é médico-assistente e recém-formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Oxford. Siga-o no Twitter: @DrRobSutton
 
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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