As descobertas das ciências sociais se baseiam em estudos com motivações
políticas, usados para amparar narrativas sociais de militantes
ideológicos. Artigo do médico britânico Rob Sutton publicado pela Spiked
e traduzido para revista Oeste desta semana:
Muita gente na esquerda hoje vende a narrativa de ser mais voltada
para a ciência do que aqueles à direita. Essas pessoas se apresentam
como os herdeiros dos ideais do Iluminismo — razão, progresso e verdade
—, enquanto expõem a direita ao ridículo como uma coleção de
criacionistas, negacionistas da mudança climática e da antivacinação.
A narrativa é falsa, cada vez mais falsa.
Mas é uma ficção útil, entretanto. Permite que a esquerda adorne suas
visões moral e política como científicas. Questioná-las, portanto, é
questionar a autoridade da ciência. É equivalente à heresia secular.
Quando os democratas nos Estados Unidos se apresentam como “o partido da
ciência”, eles na verdade estão dizendo “não nos questionem”.
Esquerdistas costumavam invocar a autoridade da ciência
principalmente para justificar suas opiniões sobre como deveríamos
reagir à mudança climática. Mas a esquerda usa cada vez mais a mesma
autoridade moral e científica para justificar ideias sobre uma gama de
questões em permanente crescimento — de raça a gênero.
Parte do problema aqui se deve à abrangência com que usamos o termo
“ciência”. Tradicionalmente, ele se refere aos campos das ciências
naturais, que dependem fortemente de métodos quantitativos e têm um
patamar excepcionalmente alto para a entrada de novas ideias no
consenso.
No entanto, a autoridade da “ciência” foi agora apropriada pelas
ciências sociais — um campo acadêmico dominado por esquerdistas. Isso
significa que as visões de esquerda de cientistas sociais sobre classe,
raça e gênero são basicamente tratadas como, digamos, a compreensão do
DNA por biólogos — isto é, como qualificadas, objetivas e verdadeiras.
Mas isso é enganoso. A ciência se baseia no método científico, que é
intencionalmente muito limitado acerca do que pode dizer sobre o mundo.
Fora da estrutura lógica da matemática, não podemos “provar” de maneira
conclusiva nenhuma lei natural (até mesmo dentro da matemática a coisa
fica um pouco vaga). Hipóteses devem ser apresentadas e testadas sob um
leque de métodos experimentais.
Se a hipótese não é refutada nessas condições, dizemos que as
descobertas são compatíveis com a nossa hipótese. Com o tempo e as
múltiplas repetições de um experimento para validar uma ideia, passamos a
aceitar uma hipótese como verdadeira (ainda que, é importante
ressaltar, nunca provemos que ela é verdade; só não conseguimos provar
que é falsa).
E, se a hipótese prevê um fenômeno até então não observado que é
finalmente observado, trata-se de um bônus. Esse padrão alto significa
que apenas as hipóteses mais fortes sobrevivem. É o darwinismo aplicado
ao discurso intelectual.
Hipóteses sociais sobre classe, raça, gênero e hierarquia não podem
ser testadas nem refutadas com rigor da mesma forma que uma hipótese,
por exemplo, sobre o modelo-padrão da física das partículas. Não podemos
forçar as pessoas a participar de experimentos como fazemos com quarks.
As ciências sociais são afligidas por essas limitações fundamentais e
fraquezas metodológicas.
Assim, elas assumiram a autoridade de “ciência” sem a seriedade do
método. Além do mais, a ausência de diversidade política no meio
incrivelmente esquerdista das ciências sociais significa que visões
discordantes sofrem resistência, enquanto visões conformistas são
aceitas.
As descobertas das ciências sociais se baseiam em estudos com
motivações políticas, produzidas por uma academia ideologicamente não
representativa, para amparar as narrativas sociais de colegas que
partilham as mesmas opiniões. A busca não é pela verdade objetiva, mas
pelo que corrobore crenças preexistentes. Busque, e encontrará um
patriarcado capitalista opressor.
O número de disciplinas em que certas linhas de pesquisa acadêmica
são consideradas inaceitáveis é cada vez maior. Pesquisas em estudos de
gênero são aceitáveis contanto que não concluam que variações nos
resultados entre homens e mulheres podem ser consequência de diferenças
inatas entre eles. Psicólogos sociais foram ferozes em sua luta para
banir a psicologia evolutiva, que sugere que nem todos os pecados do
homem podem ser resultado da influência corruptora da sociedade. E a
pesquisa de QI acerta em cheio o dogma de que somos todos criados
iguais.
Questionar essas narrativas correria o risco de desestabilizar as
suposições sobre as quais os movimentos “progressistas” estão
construídos. Então, os esquerdistas se envolvem nesses jogos de
dissimulação intelectual.
As tendências políticas são movidas por incentivos perversos tanto na
academia quanto na mídia. Assim, em campos em que os colegas de alguém
são esmagadoramente de uma posição política específica, existe um grande
incentivo para não bagunçar o coreto, sob o risco de prejudicar os
avanços na carreira.
Existe também um equívoco de que a pesquisa é um relato imparcial de
descobertas factuais. Mas não é o caso. Cientistas sociais, cujos
leitores principais (e muitas vezes únicos) são outros cientistas
sociais, acreditam que um artigo que chega a conclusões ambiciosas sobre
uma narrativa estabelecida tem mais chance de ser apoiado e citado.
Veículos de mídia podem então recorrer a essas pesquisas para
fornecer à sua visão política uma aura de legitimidade científica e
acadêmica. Veículos de esquerda, em especial, agem como se propostas
políticas se seguissem naturalmente a estudos acadêmicos, que são eles
próprios irrepreensíveis.
Isso significa que mídias esquerdistas, ao obter sua autoridade de
cientistas sociais de esquerda, agem como se sua visão política viesse
de uma fonte da verdade. The Guardian descreve a si mesmo como “livre de
inclinações políticas e comerciais” e engajado na “luta por verdade,
humanidade e justiça”, como se as três devessem invariavelmente se
alinhar com o discurso da esquerda. O Washington Post adotou o slogan
absurdamente histriônico Democracy Dies in Darkness (“a democracia morre
na escuridão”, em tradução livre) em 2017, como se a eleição de Donald
Trump sinalizasse uma crise constitucional, em vez de ser apenas
politicamente intragável.
A implicação, claro, é que as mídias de direita são pouco mais do que
máquinas de fake news cientificamente iletradas. São as mídias de
esquerda as guardiãs do conhecimento e as protetoras da verdade
científica (e moral). Isso apesar do fato de não terem menos inclinação a
exagerar notícias relacionadas à literatura científica em busca de
cliques.
A esquerda tenta há décadas expandir a alçada do conhecimento
científico sem aceitar as limitações do método científico. Ela agora
fica totalmente confortável deixando de lado verdades inconvenientes que
desafiam suas crenças a priori.
A ciência é empunhada pelas pessoas da esquerda como uma vara para
golpear aqueles que fazem perguntas razoáveis. Elas optaram pela
conveniência em detrimento da seriedade intelectual. Ao fazê-lo,
encorajam a politização do conhecimento científico e a cientifização da
moralidade. Ao abusar da ciência, a esquerda está destruindo o debate
político.
Rob Sutton é médico-assistente e
recém-formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Oxford.
Siga-o no Twitter: @DrRobSutton
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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