Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
1- Aquilo que começou com uma manobra contra Bolsonaro, os R$ 600
mensais de auxílio a quem não tinha como sobreviver, foi bom para ele:
sua popularidade decolou, está forte até para, se quiser, detonar o
Posto Ipiranga, e sabe que boa parte de sua força deriva do auxílio
oficial a quem nada tem.
2- Bolsonaro, que nisso está absolutamente certo, disse que não se
deve tirar dinheiro dos pobres para dar aos paupérrimos. Dinheiro para a
Renda Brasil tem de surgir de outro lugar e o Orçamento está no limite,
sem folga.
3 - Dos ricos, como sabemos todos, ninguém vai tirar dinheiro, não.
4 - Ninguém vai reduzir as despesas do Governo. O Centrão não deixa.
Se não há dinheiro no Orçamento, se não vão tirar dinheiro dos pobres
(o que seria a solução para Paulo Guedes), se não vão tirar dinheiro
dos ricos e o presidente precisa do Renda Brasil, o caro leitor que se
prepare: é do seu inesgotável bolso que vai sair o dinheiro. Tudo será,
como sempre, muito bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes: os
bancos precisam ter bons lucros, para evitar “riscos sistêmicos”, os
muito ricos precisam ser poupados para investir e gerar empregos, sobra a
classe média para ordenhar. A nova CPMF atinge pouco os mais pobres,
que quase não usam bancos; será compensada com desonerações e benefícios
tributários para os que podem investir. Quem recebe salário e paga
contas pelos bancos? Portanto, prepare-se.
Mas um dia, promete Paulo Guedes, o Governo gastará menos. Então, tá.
Ministro quer ficar
O Ministério da Economia divulgou nota oficial negando que o ministro
esteja pensando em deixar o cargo. Aliás, nem haveria motivo: o Imposto
Ipiranga já mostrou que continuará usando seu conhecimento
universitário para apoiar tudo o que o presidente quiser que ele apoie.
Mas, num governo que afastou 183 colaboradores de primeiro ou segundo
escalão em 20 meses, nunca se sabe (o levantamento é de O Globo, e não
conta aquele ministro da Educação que caiu antes de tomar posse). Paulo
Guedes, não esqueçamos, é um liberal extremado. É tão liberal que chega a
ser permissivo.
E está prestigiado
O vice-presidente, general Mourão, disse que, em sua opinião, “o
Guedes está firme”. Quem acompanha futebol sabe o que acontece logo
depois que algum dirigente diz que o técnico está prestigiado: cai fora
em poucos dias. Fazendo as contas de outro jeito, este Governo se livra
de um colaborador do primeiro ou segundo escalão de três em três dias.
Tudo errado
O ministro do Supremo é um cidadão e tem direito a ter opinião, mas
nem sempre de expressá-la. Deve evitar exprimir opiniões sobre casos e
pessoas a quem possa ter de julgar um dia. Por isso o ministro Luís
Roberto Barroso não deveria ter criticado o presidente Bolsonaro,
lembrando que ele já louvou a ditadura e a tortura. É verdade; mas isso,
no caso, não importa. Ministro do Supremo deve resguardar-se para dar
seu veredito nos autos de um processo. Além do mais, está dando palpite
sobre o que ocorre no Executivo, um outro Poder da República – um caso
típico de intromissão.
Outro ministro do STF, Marco Aurélio, rebateu Barroso, mas rebateu
errado: disse que Bolsonaro foi eleito e é presidente de todos os
brasileiros. É verdade; mas Barroso tinha dito a mesma coisa, que,
apesar de tudo ninguém defendeu solução diferente da legalidade
constitucional. O general Augusto Heleno também errou o tom: para ele,
não adianta que parte da nação queira derrubar o presidente. É verdade –
só que não leram direito para ele o que Barroso realmente disse.
Falam demais
Toda essa cascata surgiu porque Barroso esqueceu as limitações que
lhe impõe a liturgia do cargo. Falou demais, ouviu demais. Tudo
desnecessário. Ainda mais sabendo que Barroso é dos ministros mais
moderados do STF.
Meu Brasil brasileiro
Como lembra a jornalista, escritora e assídua leitora Regina Helena
de Paiva Ramos, neste país lindo e trigueiro, terra do samba e pandeiro,
Brasil!
1 - A pastora Flordelis, acusada de mandante do assassínio de seu
marido, continua sendo deputada federal. Não deveria pelo menos ser
imediatamente suspensa da Câmara, até que houvesse o julgamento?
2 - O presidente só fala se a frase contiver palavrões.
3 - Paulo Guedes quer taxar livros e acabar com a Farmácia Popular.
4 - Os tribunais agora inocentam quem foi condenado por Sérgio Moro.
5 - O juiz que andava sem máscara, desacatou o guarda e rasgou a
multa já foi punido: fica sem trabalhar e recebe salário integral, R$ 33
mil por mês.
Regina Helena só esqueceu de dizer que, por ordem do ministro Edson
Fachin, do STF, a Polícia está proibida de operar nas favelas do Rio
enquanto durar a pandemia (deve haver, creio, alguma relação entre
operações policiais e a Covid).
Já bandos armados podem operar à vontade e nesta semana andaram impondo o terror a todos enquanto guerreavam entre si.
BLG ORLANDO TAMBOSI
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