domingo, 30 de agosto de 2020

Costas na parede, zíper no bolso.


Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:

1- Aquilo que começou com uma manobra contra Bolsonaro, os R$ 600 mensais de auxílio a quem não tinha como sobreviver, foi bom para ele: sua popularidade decolou, está forte até para, se quiser, detonar o Posto Ipiranga, e sabe que boa parte de sua força deriva do auxílio oficial a quem nada tem.

2- Bolsonaro, que nisso está absolutamente certo, disse que não se deve tirar dinheiro dos pobres para dar aos paupérrimos. Dinheiro para a Renda Brasil tem de surgir de outro lugar e o Orçamento está no limite, sem folga.

3 - Dos ricos, como sabemos todos, ninguém vai tirar dinheiro, não.

4 - Ninguém vai reduzir as despesas do Governo. O Centrão não deixa.

Se não há dinheiro no Orçamento, se não vão tirar dinheiro dos pobres (o que seria a solução para Paulo Guedes), se não vão tirar dinheiro dos ricos e o presidente precisa do Renda Brasil, o caro leitor que se prepare: é do seu inesgotável bolso que vai sair o dinheiro. Tudo será, como sempre, muito bem explicadinho, nos seus mínimos detalhes: os bancos precisam ter bons lucros, para evitar “riscos sistêmicos”, os muito ricos precisam ser poupados para investir e gerar empregos, sobra a classe média para ordenhar. A nova CPMF atinge pouco os mais pobres, que quase não usam bancos; será compensada com desonerações e benefícios tributários para os que podem investir. Quem recebe salário e paga contas pelos bancos? Portanto, prepare-se.

Mas um dia, promete Paulo Guedes, o Governo gastará menos. Então, tá.

Ministro quer ficar

O Ministério da Economia divulgou nota oficial negando que o ministro esteja pensando em deixar o cargo. Aliás, nem haveria motivo: o Imposto Ipiranga já mostrou que continuará usando seu conhecimento universitário para apoiar tudo o que o presidente quiser que ele apoie. Mas, num governo que afastou 183 colaboradores de primeiro ou segundo escalão em 20 meses, nunca se sabe (o levantamento é de O Globo, e não conta aquele ministro da Educação que caiu antes de tomar posse). Paulo Guedes, não esqueçamos, é um liberal extremado. É tão liberal que chega a ser permissivo.

E está prestigiado

O vice-presidente, general Mourão, disse que, em sua opinião, “o Guedes está firme”. Quem acompanha futebol sabe o que acontece logo depois que algum dirigente diz que o técnico está prestigiado: cai fora em poucos dias. Fazendo as contas de outro jeito, este Governo se livra de um colaborador do primeiro ou segundo escalão de três em três dias.

Tudo errado

O ministro do Supremo é um cidadão e tem direito a ter opinião, mas nem sempre de expressá-la. Deve evitar exprimir opiniões sobre casos e pessoas a quem possa ter de julgar um dia. Por isso o ministro Luís Roberto Barroso não deveria ter criticado o presidente Bolsonaro, lembrando que ele já louvou a ditadura e a tortura. É verdade; mas isso, no caso, não importa. Ministro do Supremo deve resguardar-se para dar seu veredito nos autos de um processo. Além do mais, está dando palpite sobre o que ocorre no Executivo, um outro Poder da República – um caso típico de intromissão.

Outro ministro do STF, Marco Aurélio, rebateu Barroso, mas rebateu errado: disse que Bolsonaro foi eleito e é presidente de todos os brasileiros. É verdade; mas Barroso tinha dito a mesma coisa, que, apesar de tudo ninguém defendeu solução diferente da legalidade constitucional. O general Augusto Heleno também errou o tom: para ele, não adianta que parte da nação queira derrubar o presidente. É verdade – só que não leram direito para ele o que Barroso realmente disse.

Falam demais

Toda essa cascata surgiu porque Barroso esqueceu as limitações que lhe impõe a liturgia do cargo. Falou demais, ouviu demais. Tudo desnecessário. Ainda mais sabendo que Barroso é dos ministros mais moderados do STF.

Meu Brasil brasileiro

Como lembra a jornalista, escritora e assídua leitora Regina Helena de Paiva Ramos, neste país lindo e trigueiro, terra do samba e pandeiro, Brasil!

1 - A pastora Flordelis, acusada de mandante do assassínio de seu marido, continua sendo deputada federal. Não deveria pelo menos ser imediatamente suspensa da Câmara, até que houvesse o julgamento?

2 - O presidente só fala se a frase contiver palavrões.

3 - Paulo Guedes quer taxar livros e acabar com a Farmácia Popular.

4 - Os tribunais agora inocentam quem foi condenado por Sérgio Moro.

5 - O juiz que andava sem máscara, desacatou o guarda e rasgou a multa já foi punido: fica sem trabalhar e recebe salário integral, R$ 33 mil por mês.

Regina Helena só esqueceu de dizer que, por ordem do ministro Edson Fachin, do STF, a Polícia está proibida de operar nas favelas do Rio enquanto durar a pandemia (deve haver, creio, alguma relação entre operações policiais e a Covid).

Já bandos armados podem operar à vontade e nesta semana andaram impondo o terror a todos enquanto guerreavam entre si.
 
BLG  ORLANDO  TAMBOSI

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