Folha
Apresentado pelos advogados de defesa do ex-presidente Lula como um empresário de sucesso, pecuarista e investidor, o engenheiro Glaucos da Costamarques é um poço de dívidas. Ele responde a 14 ações na Justiça sob acusação de não ter pago R$ 1,2 milhão.
Costamarques é o dono de um apartamento ao lado daquele em que Lula vive em São Bernardo do Campo (SP) e se tornou personagem-chave em uma ação penal em que o ex-presidente é acusado de ter-se beneficiado do imóvel sem pagar aluguel.
Segundo Costamarques, não houve pagamento e os 26 recibos apresentados pela defesa de Lula ao juiz Sergio Moro foram assinados num único dia, em 2015, quando ele estava hospitalizado, conforme revelado por “O Globo” e “Valor Econômico”. Os comprovantes do aluguel cobrem o período entre agosto de 2011 e novembro de 2015.
14 PROCESSOS – Há cobrança de dívidas de vários tipos nos 14 processos que o empresário responde nas esferas estadual e federal da Justiça de Campo Grande (MS), onde mora. O banco Santander, por exemplo, cobra R$ 242,5 mil em ação aberta em fevereiro deste ano.
A Receita Federal ingressou com uma ação em setembro do ano passado na qual pleiteia R$ 119,9 mil por supostas omissões no Imposto de Renda de Pessoa Física.
A maioria dos processos, no entanto, é de execução fiscal por falta de pagamento de impostos da prefeitura de Campo Grande. Os débitos fiscais somam R$ 490 mil em 11 ações que correm ou correram na Justiça estadual. O empresário tem negócios imobiliários em Campo Grande, como loteamentos, e cria gado na região do Pantanal.
COMPRAS PARA LULA – Costamarques fez duas compras que teriam beneficiado Lula, segundo acusação dos procuradores da Lava Jato que foi aceita pela Justiça. Além de ter comprado o apartamento vizinho ao de Lula por R$ 504 mil em 2010, ele adquiriu uma área para o Instituto Lula por R$ 6 milhões – a defesa do ex-presidente nega que esse terreno seria para a sede do instituto. Costamarques também emprestou o endereço de uma empresa que foi sua, a Bill Maker, para um dos filhos de Lula, Fábio Luís.
Em acordo de delação, a Odebrecht disse ter repassado R$ 12,4 milhões para essas duas operações.
Engenheiro aposentado da Rede Ferroviária Federal, Costamarques, 77, é primo de terceiro grau de José Carlos Bumlai, empresário e pecuarista também de Campo Grande, que se tornou amigo de Lula e iniciou a reforma no sítio em Atibaia que foi finalizada pela OAS e Odebrecht.
VERSÕES DIFERENTES – Costamarques já disse a procuradores da força-tarefa da Lava Jato que foi Bumlai quem o introduziu no círculo de Lula e, sobretudo, do advogado Roberto Teixeira, advogado e amigo de Lula.
Ele já apresentou versões diferentes para os negócios que fez. No começo, disse que comprou o apartamento vizinho ao de Lula a pedido de Bumlai. Depois afirmou que foi Teixeira quem recomendara o negócio. Já contou que abatera o valor do aluguel dos negócios que mantinha com Teixeira. Neste mês relatou que só recebera o montante dos aluguéis depois da prisão de Bumlai, em 2015.
Procurado, Costamarques não ligou de volta. A Folha não conseguiu contato com os advogados dele em Campo Grande. O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, não quis se pronunciar.
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