Um
conjunto de mensagens telefônicas de texto recolhidas pela Lava Jato
mostra a proximidade do ex-presidente da empreiteira OAS José Adelmário
Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, com importantes nomes
ligados direta ou indiretamente ao PT e ao governo da presidente Dilma
Rousseff, Entre eles, estão o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, o
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o presidente da Petrobras,
Aldemir Bendine. Os três não são alvos da operação. O conteúdo das
mensagens mostra que o executivo, condenado a 16 anos de prisão por
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema do
petrolão, atuou por interesses dos petistas em episódios distintos. No
caso de Wagner, há negociação de apoio financeiro ao candidato petista à
prefeitura de Salvador em 2012, Nelson Pellegrino, como também pedidos
de intermediação do então governador da Bahia com o governo federal a
favor de empreiteiros. Os diálogos foram obtidos pelos investigadores da
Lava Jato em Curitiba (PR) e remetidos à Procuradoria-Geral da
República (PGR) por haver menção ao nome do ministro - que possui foro
privilegiado. As mensagens de texto foram trocadas entre agosto de 2012 e
outubro de 2014. O ministro é identificado como "JW" e os
investigadores suspeitam que o apelido "Compositor" também seja uma
referência a ele, devido à semelhança com o maestro e compositor alemão
Richard Wagner. Já o candidato do PT à prefeitura de Salvador Nelson
Pellegrino é citado nas mensagens como "NP" ou "Andarilho", em alusão a
"peregrino", trocadilho com seu sobrenome.
No
primeiro turno daquela eleição, ele disputou o comando da capital
baiana com ACM Neto (DEM) e Mário Kertész (então PMDB), identificados
nas conversas como "Grampinho" e "MK", respectivamente. No segundo
turno, Kertész decidiu deixar o partido, que aderiu à campanha de ACM
Neto, e apoiar Pellegrino. Wagner aparece como intermediador das
conversas na negociação de apoio do PMDB ao candidato petista. No dia
seguinte, quando Kertész marcou coletiva para anunciar sua saída do
PMDB, Pinheiro enviou mensagem a Wagner. "Assunto MK, preciso lhe
falar." Um pouco mais cedo, Pinheiro havia enviado mensagem a Manuel
Ribeiro Filho. Investigadores suspeitam se tratar de possível código
para efetuar um pagamento. No texto, o executivo escreveu: "O endereço
que filho me forneceu foi M.K. Street 3.600". A suspeita dos
investigadores é de que o número se refira a um valor pago e a sigla
"MK" ao destinatário do dinheiro. Depois, os executivos da OAS comentam:
"O valor é muito alto", em referência ao número 3.600. Troca de
mensagens entre Léo Pinheiro e Cesar Mata Pires Filho, executivo da
empreiteira, mostra que "JW" estaria ciente do apoio a ser intermediado
ao candidato petista. Os diálogos interceptados dão ideia de proximidade
entre o ex-presidente da OAS e o então governador da Bahia mesmo após
as eleições municipais. O executivo relata encontros com "JW". Em uma
das mensagens, Léo Pinheiro escreve "Governador, desculpe a 'invasão'",
antes de enviar seu texto. Wagner responde: "Você é sempre bem vindo
JW". Em outra conversa, Pinheiro chama o governador de "nosso JW". Em
2014, Léo Pinheiro pede ajuda a Jaques Wagner para falar com o então
ministro dos Transportes para "liberar o recurso no valor de 41.760
milhões de reais" referente a um convênio assinado em 2013. "Ok, vou
fazê-lo abs domingo vamos ganhar com certeza", respondeu Jaques Wagner,
cinco dias antes do segundo turno da eleição presidencial de 2014.
Procurado, o ministro da Casa Civil não se manifestou sobre o caso. O
advogado Edward Carvalho, um dos responsáveis pela defesa de executivos
da OAS na Operação Lava Jato, afirmou que não iria comentar as
informações. A assessoria de imprensa de Pellegrino não retornou.Já
Mário Kertész afirmou que é amigo de Léo Pinheiro, mas que não
participou de arrecadação para campanha de Nelson Pelegrino no segundo
turno da disputa municipal em Salvador, tendo oferecido apenas apoio
político. Pelegrino foi procurado por meio de sua assessoria, mas não se
pronunciou. Outros nomes - Haddad é citado em uma conversa de Pinheiro
com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em 2013. Pinheiro menciona
Haddad para pedir a Cunha, então relator do projeto da rolagem da dívida
de Estados e de municípios com a União, que aprove a medida. Haddad
explicou que buscou Pinheiro por saber que ele era amigo de Eduardo
Cunha e que falou com mais de 100 pessoas para conseguir apoio ao
projeto. O prefeito destacou que não houve nenhuma irregularidade nas
negociações. No caso de Bendine, a Procuradoria-Geral da República vê
indícios de que ele tenha participado de suposto esquema ilícito de
compra de debêntures (títulos da dívida) da OAS quando comandava o Banco
do Brasil, em 2011 e 2014. Pinheiro é conhecido por ter mantido relação
próxima com o ex-presidente Lula, a quem se referia como "Brahma".
(Veja)
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