Alvo da Lava-Jato por envolvimento em desvios na Petrobras, a
Odebrecht teria realizado obras de reforma no sítio Santa Bárbara, em
Atibaia, usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por seus
parentes, revelou Patrícia Fabiana Melo Nunes, ex-dona de uma loja de
construção, à “Folha de S.Paulo”. O sítio, de 14,5 mil m², está registrado em nome dos empresários
Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís da Silva, filho
mais velho do ex-presidente.
A
reforma, que durou cerca de dois meses, teve início em outubro de 2010,
já no segundo mandato de Lula como presidente. Para isso, a empreiteira
gastou cerca de R$ 500 mil só em materiais de contrução, segundo
Patrícia, à época proprietária do Depósito Dias, que forneceu produtos
para as intervenções no sítio. Ela afirmou que, em certo período, a loja
trabalhou quase exclusivamente para a obra e que os pagamentos giravam
em torno de R$ 75 mil a R$ 90 mil por semana, pagos em dinheiro vivo.
“A gente diluía esse valor total em notas para várias empresas, mas para
mim todas elas eram Odebrecht” — disse ela à Folha. Patrícia afirmou
que os trabalhos no sítio foram coordenados pelo
engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa, que cuidou da construção do
Itaquerão, estádio do Corinthians.
Em
entrevista à Folha, o engenheiro da empresa confirmou que trabalhou no
local no período em que estava de férias e que fez o serviço de graça,
mas que não sabia que Lula tinha ligação com o sítio: “Para mim foi
surpresa. Para mim era uma obra comum. Eu prestei serviço para uma
empresa contratada pelo proprietário, mas não tem nada a ver com a
empresa (Odebrecht). Dei algum apoio, mas pouca coisa. Estava de férias,
em recesso de final de ano".
A ex-dona da loja disse que na ocasião abriu um cadastro no
estabelecimento em nome da construtora a pedido do engenheiro e que
notas foram emitidas em nome de outras companhias. Ela falou ainda ter
cedido uma mesa no depósito para Irigaray Neto, arquiteto responsável
pelo reforma, pois no sítio não havia sinal de internet.
O motorista e marceneiro Antônio Carlos Oliveira Santos também
afirmou que fez serviços de marcenaria no sítio, chefiados por um
engenheiro chamado Frederico. Informou que teve conhecimento de que a
obra era da Odebrecht, mas que o engenheiro nunca disse que o local
seria do ex-presidente — alvo de investigação do Ministério Publico do
Distrito Federal, que apura suposto tráfico de influência junto a
políticos de outros países.
De acordo com Patrícia, além da Odebrecht, várias empresas
participaram da construção. Em abril de 2015, a revista “Veja” informou
que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, também alvo da Lava-Jato e
amigo de Lula, pretendia contar, em delação premiada, que realizou uma
reforma no sítio. A partir disso, a Polícia Federal começou a investigar
se a OAS teria beneficiado o ex-presidente Lula. Procurado, o Instituto
Lula afirmou que não comentaria o assunto.
Ao GLOBO, a Odebrecht disse que “após apuração preliminar, a
Construtora Norberto Odebrecht não identificou relação da empresa com a
obra." O empresário Jonas Suassuna informou que a área que ele possui no
terreno não faz parte do sítio e não contém nenhuma benfeitoria citada
na reportagem. Já o empresário Fernando Bittar não retornou os contatos,
segundo a Folha. (O Globo)
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