MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O Brasil no fundo do poço


Artigo de Denis Rosenfield, publicado no jornal O Globo, critica a letargia política que mantém o país no impasse - que só será solucionado, falemos francamente, com o afastamento de Dilma e do PT:


A situação do país é de extrema gravidade e, no entanto, a maior parte dos atores políticos age como se nossos problemas fossem menores e facilmente equacionáveis. A política termina se reduzindo a uma equação medíocre dos maiores e menores benefícios que certos políticos e partidos possam obter, como se o Brasil pudesse suportar infinitamente a duração destas contendas. Acontece que, quanto mais decisões forem postergadas, maiores serão os seus efeitos perversos no futuro. Há limites que não deveriam ser ultrapassados, mas o jogo político é feito como se tudo fosse possível e permitido.

Parece tornar-se um consenso que o país não pode suportar mais três anos do atual governo, incapaz de reconhecer os seus erros e persistente no desconhecimento das causas que nos levaram a esse buraco. Ou seja, o país não aguenta esperar até o final de 2018, sob pena de que, neste longínquo futuro, os problemas a serem enfrentados se tornem ainda mais graves. Decisões corretas hoje tomadas certamente abreviarão o sofrimento futuro; decisões não tomadas ou equivocadas só aprofundarão a quebra de expectativas, a frustração e, mesmo, o enfraquecimento institucional do país. Crises sociais têm repercussões políticas e institucionais.

Contudo, paradoxalmente, os atores políticos agem como se o fundo do poço ainda não tivesse sido atingido. É como se dissessem: “O país ainda pode aguentar mais!”. A resposta sensata seria: “Até quando?” ou “Qual é o limite?”. Ou ainda, será que há um limite para a deterioração econômica e politica, a desagregação social e o enfraquecimento institucional?

Infelizmente, nossos vizinhos, nossos hermanos ou nossos “companheiros”, na linguagem petista e na de nossa diplomacia “terceiro mundista”, mostram que a decadência pode não ter limite. O lixo ideológico acompanha essa mentalidade atrasada.

A Argentina pode ser o símbolo do país amanhã. Economia totalmente desarrumada, indicadores econômicos falsificados, crise social, miséria, desrespeito ao Estado Democrático de Direito, censura, falta de liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral e um populismo esquerdista desenfreado. De próspero país no passado, tornou-se uma paródia de si mesmo. E isto com a total conivência dos governos petistas, que não cessaram de apoiar os Kirchner e, em particular, a atual presidente. Nossa presidente gosta de aparecer publicamente com Cristina Kirchner, mostrando uma afinidade para lá de eloquente.

A Venezuela, ícone de nosso esquerdismo decadente, é mais um símbolo da deterioração da esquerda e do populismo. Rico em petróleo, tornou-se um país de inflação descontrolada, desabastecimento e queda de renda da população em geral. O Estado apropriou-se do mercado e da sociedade. Mais especificamente, em uma política de fazer inveja aos Lenin e Stalin de antanho, o seu governo, “socialista”, se caracteriza por perseguir a oposição, usar milícias para aterrorizar a população e todos aqueles que dele ousam se demarcar. A violência e a mentira se tornaram meros instrumentos da “arte de governar”, como se assim a “promessa bolivariana” pudesse ser implementada.

O seu fracasso salta a olhos vistos. A democracia está lá em frangalhos, tornando-se, cada vez mais explicitamente, uma ditadura. E, no entanto, o atual governo brasileiro é conivente com flagrantes violações dos direitos humanos e dos processos democráticos. O ex-presidente Lula chegou a dizer, em seu apoio ao finado presidente Chávez, que havia “democracia demais”naquele país. Retrospectivamente, faz todo sentido!

Torna-se evidente que a atual mandatária já não mais governa, tendo abdicado de equacionar os problemas do país. O ajuste fiscal nada avançou, o PIB afunda cada vez mais, o desemprego desponta, a inflação já se aproxima de dois dígitos, e o governo permanece no total imobilismo. O discurso da ilusão, amplamente utilizado no marketing eleitoral do ano passado, já não mais funciona. A presidente já deu suficientemente mostras de que não mais consegue liderar o país e levá-lo a um porto seguro. Está perdida nos problemas comezinhos da política atual, incapaz de fazer um gesto que possa fazer o país sair de sua difícil situação.

Uma vez que é incapaz de fazer esse gesto, seja mediante uma nova política de unidade nacional, seja através de sua própria renúncia, coloca-se como uma saída do atual impasse que se inicie o processo de impeachment. A sua irresponsabilidade administrativa e fiscal é patente, além de sua omissão com todos os desmandos da Petrobras e de seu aparelhamento partidário. Tal processo sinalizaria que o Brasil já mais suporta permanecer em um poço sem fundo. O país poderia vislumbrar outro futuro.

Ocorre, porém, que a atual governante, seu Criador e o seu partido se aferram aos seus privilégios e interesses mais imediatos, como se os “trabalhadores” e os brasileiros em geral fossem sem nenhuma importância. São meros instrumentos de uma narrativa ideológica, como se apenas isto fosse uma garantia de alguma competitividade eleitoral para 2018. O país não suporta mais tal narrativa.

O início do processo de impeachment está, hoje, nas mãos do deputado Eduardo Cunha, que, por sua vez, tudo faz apenas para sobreviver, tentando conservar seu mandato. Todos os seus passos são calculados em função desta única finalidade. O país, também para ele, parece não ser o seu objetivo maior. As provas materiais de seu envolvimento com a corrupção parecem ser robustas, e as chances de preservação de sua atual posição se esvaem conforme transcorre o tempo. Queira ou não, termina, apesar de si, fazendo o jogo da presidente e do PT. O impasse continua, as posições ficam congeladas, e o país continua refém deste jogo.

Urge que o Brasil saia de tal impasse e que, em um gesto de grandeza, o deputado se coloque em sintonia com a imensa maioria da população deste país. Sairia por cima, como se diz em linguagem popular. Tiraria o foco de si e obrigaria o país a fazer um novo jogo, o de assegurar o seu futuro. 
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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