Artigo
de Denis Rosenfield, publicado no jornal O Globo, critica a letargia
política que mantém o país no impasse - que só será solucionado, falemos
francamente, com o afastamento de Dilma e do PT:
A
situação do país é de extrema gravidade e, no entanto, a maior parte
dos atores políticos age como se nossos problemas fossem menores e
facilmente equacionáveis. A política termina se reduzindo a uma equação
medíocre dos maiores e menores benefícios que certos políticos e
partidos possam obter, como se o Brasil pudesse suportar infinitamente a
duração destas contendas. Acontece que, quanto mais decisões forem
postergadas, maiores serão os seus efeitos perversos no futuro. Há
limites que não deveriam ser ultrapassados, mas o jogo político é feito
como se tudo fosse possível e permitido.
Parece
tornar-se um consenso que o país não pode suportar mais três anos do
atual governo, incapaz de reconhecer os seus erros e persistente no
desconhecimento das causas que nos levaram a esse buraco. Ou seja, o
país não aguenta esperar até o final de 2018, sob pena de que, neste
longínquo futuro, os problemas a serem enfrentados se tornem ainda mais
graves. Decisões corretas hoje tomadas certamente abreviarão o
sofrimento futuro; decisões não tomadas ou equivocadas só aprofundarão a
quebra de expectativas, a frustração e, mesmo, o enfraquecimento
institucional do país. Crises sociais têm repercussões políticas e
institucionais.
Contudo,
paradoxalmente, os atores políticos agem como se o fundo do poço ainda
não tivesse sido atingido. É como se dissessem: “O país ainda pode
aguentar mais!”. A resposta sensata seria: “Até quando?” ou “Qual é o
limite?”. Ou ainda, será que há um limite para a deterioração econômica e
politica, a desagregação social e o enfraquecimento institucional?
Infelizmente,
nossos vizinhos, nossos hermanos ou nossos “companheiros”, na linguagem
petista e na de nossa diplomacia “terceiro mundista”, mostram que a
decadência pode não ter limite. O lixo ideológico acompanha essa
mentalidade atrasada.
A
Argentina pode ser o símbolo do país amanhã. Economia totalmente
desarrumada, indicadores econômicos falsificados, crise social, miséria,
desrespeito ao Estado Democrático de Direito, censura, falta de
liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral e um populismo
esquerdista desenfreado. De próspero país no passado, tornou-se uma
paródia de si mesmo. E isto com a total conivência dos governos
petistas, que não cessaram de apoiar os Kirchner e, em particular, a
atual presidente. Nossa presidente gosta de aparecer publicamente com
Cristina Kirchner, mostrando uma afinidade para lá de eloquente.
A
Venezuela, ícone de nosso esquerdismo decadente, é mais um símbolo da
deterioração da esquerda e do populismo. Rico em petróleo, tornou-se um
país de inflação descontrolada, desabastecimento e queda de renda da
população em geral. O Estado apropriou-se do mercado e da sociedade.
Mais especificamente, em uma política de fazer inveja aos Lenin e Stalin
de antanho, o seu governo, “socialista”, se caracteriza por perseguir a
oposição, usar milícias para aterrorizar a população e todos aqueles
que dele ousam se demarcar. A violência e a mentira se tornaram meros
instrumentos da “arte de governar”, como se assim a “promessa
bolivariana” pudesse ser implementada.
O
seu fracasso salta a olhos vistos. A democracia está lá em frangalhos,
tornando-se, cada vez mais explicitamente, uma ditadura. E, no entanto, o
atual governo brasileiro é conivente com flagrantes violações dos
direitos humanos e dos processos democráticos. O ex-presidente Lula
chegou a dizer, em seu apoio ao finado presidente Chávez, que havia
“democracia demais”naquele país. Retrospectivamente, faz todo sentido!
Torna-se
evidente que a atual mandatária já não mais governa, tendo abdicado de
equacionar os problemas do país. O ajuste fiscal nada avançou, o PIB
afunda cada vez mais, o desemprego desponta, a inflação já se aproxima
de dois dígitos, e o governo permanece no total imobilismo. O discurso
da ilusão, amplamente utilizado no marketing eleitoral do ano passado,
já não mais funciona. A presidente já deu suficientemente mostras de que
não mais consegue liderar o país e levá-lo a um porto seguro. Está
perdida nos problemas comezinhos da política atual, incapaz de fazer um
gesto que possa fazer o país sair de sua difícil situação.
Uma
vez que é incapaz de fazer esse gesto, seja mediante uma nova política
de unidade nacional, seja através de sua própria renúncia, coloca-se
como uma saída do atual impasse que se inicie o processo de impeachment.
A sua irresponsabilidade administrativa e fiscal é patente, além de sua
omissão com todos os desmandos da Petrobras e de seu aparelhamento
partidário. Tal processo sinalizaria que o Brasil já mais suporta
permanecer em um poço sem fundo. O país poderia vislumbrar outro futuro.
Ocorre,
porém, que a atual governante, seu Criador e o seu partido se aferram
aos seus privilégios e interesses mais imediatos, como se os
“trabalhadores” e os brasileiros em geral fossem sem nenhuma
importância. São meros instrumentos de uma narrativa ideológica, como se
apenas isto fosse uma garantia de alguma competitividade eleitoral para
2018. O país não suporta mais tal narrativa.
O
início do processo de impeachment está, hoje, nas mãos do deputado
Eduardo Cunha, que, por sua vez, tudo faz apenas para sobreviver,
tentando conservar seu mandato. Todos os seus passos são calculados em
função desta única finalidade. O país, também para ele, parece não ser o
seu objetivo maior. As provas materiais de seu envolvimento com a
corrupção parecem ser robustas, e as chances de preservação de sua atual
posição se esvaem conforme transcorre o tempo. Queira ou não, termina,
apesar de si, fazendo o jogo da presidente e do PT. O impasse continua,
as posições ficam congeladas, e o país continua refém deste jogo.
Urge
que o Brasil saia de tal impasse e que, em um gesto de grandeza, o
deputado se coloque em sintonia com a imensa maioria da população deste
país. Sairia por cima, como se diz em linguagem popular. Tiraria o foco
de si e obrigaria o país a fazer um novo jogo, o de assegurar o seu
futuro.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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