'Não tem um dia que eu não lembre da minha filha', diz mãe.
Capela, que leva o nome da menina, foi construída em cemitério na capital.
Mãe montou capela com o nome da menina no cemitério São João Batista (Foto: Tácita Muniz/G1)
Para aplacar a dor de perder uma filha de 5 anos, a dona de casa
Shirlei Alves, de 41 anos, resolveu manter uma capela em cima do túmulo
de Juliana Gabrielle Alves Soares, que morreu há 15 anos em decorrência
de um tumor na cabeça. Em meio às sepulturas do Cemitério São João
Batista, em Rio Branco, é possível ver uma casa rosa, que mais parece de boneca.De acordo com a família, o sonho da menina que morreu aos 5 anos era ter uma casa rosada.
A mãe da criança, Shirleia Alves, explica que a ideia de erguer a capela "Santa Juliana" veio porque ela não queria um espaço triste para lembrar da filha. "Eu não queria chegar e me deparar com uma cruz, com um túmulo comum, que acaba nos trazendo tristeza. Eu queria vir e ter algo para me prender que não fosse um sentimento ruim", revela.
A família diz ainda que é uma espécie de tradição visitar e manter as orações aos entes que já se foram. Shirleia conta que por muitas vezes foi ao cemitério visitar o túmulo dos avós e após perder a filha, as visitas ao cemitério se tornaram ainda mais frequentes. Mesmo após 15 anos, ela visita a capela em homenagem à filha toda semana.
Mãe diz que capela é uma forma de amenizar a tristeza ao visitar a filha (Foto: Iryá Rodrigues/G1)
"Eu acho que isso [capela] aqui faz parte dela. Eu tenho que zelar,
cuidar. Por muito tempo, mesmo ela morta, eu comprava brinquedos para
ela, agora eu sempre trago mais velas e flores. Para mim, a visita é
normal, porque não tem um dia que não me lembre da minha filha", conta
emocionada.
Não tem um dia que não me lembre da minha filha"
Shirleia Alves, mãe
De acordo com a mãe, a ideia era deixar o espaço sempre aberto, porém chegaram a roubar por duas vezes e ela decidiu fazer grades e trancar a pequena casa rosada."A ideia era deixar aberto todos os dias, mas como roubaram duas vezes, tive que fechar com as grades. Mas, no Dia de Finados, eu deixo aberto para as pessoas visitarem", diz.
Sem a pequena em casa, a família teve que mudar algumas tradições, como o simples ato de cantar parabéns. "Desde a morte dela, não cantamos parabéns. Comemoramos, mas cantar a música não mais, porque lembra muito ela, que era sempre a dona da festa. Ela adorava cantar parabéns", relembra a avó.
No Dia das Crianças, Shirleia também costuma levar doces para a capela da filha e também faz lembranças com orações para entregar no Dia de Finados para os visitantes no cemitério.
"Deixo aberto neste dia e entrego lembranças que eu faço. Eu ainda tenho tudo dela, inclusive a chupeta, que fica em um pote dentro do congelador. Muita gente diz que eu tenho que dar as coisas dela, mas não consigo. O guarda roupa ainda está com tudo dela", ressalta.
Bonecas de fadas ficam suspensas no lado superior da capela (Foto: Iryá Rodrigues/G1)
Shirleia diz ainda que enquanto viver deve permanecer zelando e fazendo
visitas à sepultura da filha. "É tudo por ela. Eu sou mãe de mais dois
meninos, mas ela era a princesa da casa. Eu não sei se quando eu morrer
vão continuar cuidando, mas enquanto eu estiver aqui vai estar bem
cuidado", enfatiza.A psicóloga Daiane Murielle explica que esse tipo de reação após uma perda é comum. Ela ressalta ainda que se for uma tradição que não machuque e não traga sofrimento à família, é uma forma de enfretamento à falta que a menina faz.
"Isso é normal, muitas pessoas se apegam a algo que lembre o ente que se foi. Não há nada de estranho, se for algo que não cause sofrimento e nem atrapalhe a vida dela e nem de quem está ao redor. Ela tenta ficar lembrando e isso é uma forma de resiliência", finaliza.
Família mantém bonecas em local onde filha está enterrada (Foto: Iryá Rodrigues/G1)
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