MEDIÇÃO DE TERRA

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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Morte de Cristiano Araújo ainda causa comoção


Mais de quatro meses após o acidente, jazigo de cantor recebe de 20 a 30 visitantes por dia
JORNAL O HOJE - GO

Thiago Burigato

Já faz mais de quatro meses que o cantor Cristiano Araújo foi sepultado. Ainda assim, sua morte continua causando comoção entre fãs, amigos e familiares. A administração do cemitério Jardim das Palmeiras, onde o cantor foi enterrrado no dia 25 de junho deste ano, estima que de 20 a 30 pessoas visitem seu túmulo diariamente. Com a aproximação do feriado de Finados, o número tende a aumentar.
Segundo o administrador do cemitério, Carlos Roberto Martins, todo o preparativo para a data foi realizado com bastante antecedência. Ele espera que, no total, de 15 a 20 mil pessoas passem pelo local entre sábado, domingo e segunda-feira. “Fizemos uma preparação especial para o período, mas não há nada específico com relação ao Cristiano. Mas certamente o fluxo de visitação ao túmulo dele será bem maior”, pondera.
Na última sexta-feira, a paulistana Cíntia da Silva, de 30 anos, veio de São Paulo para Goiânia com o objetivo de conhecer o local onde o ídolo está enterrado. Ela chegou acompanhada de outra fã, Sheila Oliveira, de 40 anos, que conheceu pessoalmente naquele dia por conta dos fã clubes dedicados ao cantor dos quais as duas são integrantes. Em frente ao túmulo, sempre repleto de flores e faixas, as duas prestaram homenagens a Cristiano.
Cíntia justifica toda dedicação dos fãs como uma reciprocidade à atenção que Cristiano sempre dedicou a eles. “Ele era uma pessoa muito humilde, era a simplicidade em pessoa.” Sua reverência não se manifesta apenas nas palavras ditas, mas também nas escritas. Em seu braço, um trecho de uma música do cantor escancara o amor pelo trabalho do goiano.
Para Sheila, o carinho dos fãs será eterno. “A morte dele foi uma perda irreparável. Sempre vai haver essa comoção por ele.”
Explicação
Tendo em vista a quantidade de pessoas vêm a Goiânia para visitar o túmulo do cantor, realmente é difícil imaginar que a comoção vá acabar tão cedo. Mas o que explica tamanha dedicação de fãs, inclusive de outros estados, que depois de meses ainda percorrem grandes distâncias para homenagear um ídolo falecido?
O psicanalista Renato Mendonça Lucas explica que há duas formas de lidar com a perda, especialmente de alguém querido: a primeira é pelo luto, que seria uma forma da alma processar e aceitar a nova situação, e a segunda seria a patológica, que se manifesta por meio da melancolia e depressão. “No luto, a pessoa percebe que o mundo ficou mais pobre com a perda de alguém, mas aprende a lidar com a situação; na melancolia, a própria pessoa fica mais pobre, se sente mais vazia”, esclarece.
Segundo ele, com o processo de luto, conseguimos reconhecer que algo ou alguém que nos fazia sentir de uma determinada maneira se foi e não voltará. No entanto, podemos acessar todos aqueles sentimentos novamente por meio das memórias. “O luto é como um ritual de passagem. Por meio dele percebemos que a pessoa querida se foi, mas as lembranças acalentadoras ficam.”
O psicanalista ressalta que não é possível explicar o comportamento de tantos fãs de forma genérica e coletiva, sem conhecer a motivação pessoal de cada um, mas vê em rituais como a visita frequente a túmulos como uma dificuldade em lidar com o luto. “Aquela pessoa que faleceu não está ali, naquele túmulo. Ela pode estar em qualquer lugar, nas lembranças de como ela fazia as pessoas se sentirem. Ainda assim, aqueles que não conseguem lidar bem com a perda vão lá para poderem sentir que a pessoa está viva e ter de novo as sensações que ela trazia.” Ele compara a situação com o fato de pessoas terem a necessidade de irem a templos para se sentirem mais próximas de Deus.
O fato de ser alguém com quem as pessoas não tinham contato íntimo e cotidiano não é impedimento para que a dor da perda se manifeste de forma tão intensa. “As pessoas idealizaram esse ídolo, o viam todos os dias, o percebiam como alguém do relacionamento delas”, comenta. “O real está no psicológico.”
De acordo com Renato, os ídolos são tomados por seus fãs como referências. “É aquilo que eu gostaria de ser, mas não sou”, pontua. E isso faz com que esse processo de elaboração da perda se torne ainda mais complicado para alguns. A situação fica ainda mais difícil quando se trata de uma morte repentina, como foi o caso de Cristiano. “Foi um corte abrupto e isso faz com que para alguns seja ainda mais complicado superar.”

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