Artigo da neuropsiquiatra Marcia Rozenthal, professora da UFRJ, publicado no Instituto Liberal,
faz uma boa reflexão sobre as mudanças promovidas pela nefasta doutrina
politicamente correta (embora não a nomeie). Resume a autora: "Estamos
criando uma sociedade que privilegia o direito ao dever, a indolência
ao trabalho, a criminalidade ao respeito, a arrogância à humildade, o
autoritarismo à autoridade":
Não é a
primeira vez que tento escrever sobre esse tema, que tanto me intriga.
Não sou jurista, sou psiquiatra, e por isso minha preocupação é para com
o ser humano, com suas fontes de sofrimento dentro da visão
neurobiológica, mas no meu caso, também para além dela. Estou acostumada
a estudar horas sobre depressão, psicopatia, e tantas outras causas
endêmicas do mal e do mau, mas é comum que meu pensamento seja
catapultado para fora da minha zona de conforto.
Penso na
confusão que se faz entre os termos autoridade e autoritarismo,
humildade e humilhação. Esses termos, a princípio, aparentam não ter
qualquer relação com a questão básica deste texto, mas no fundo, são a
síntese do que vou escrever. Bastaria definir estes termos e associá-los
ao título, e pronto. Talvez um leitor que esteja afinado com minhas
intenções possa ter entendido onde quero chegar com meu raciocínio. Mas,
opto pelo trabalho de tocar em alguns outros pontos, porque assim o fiz
para desenvolver minhas ideias. Mesmo assim serei breve, pois admiro a
elegância do poder de síntese.
Não há
dia – e posso arbitrar um prazo de mais de uma década – em que não ouço
alguém falar em “meus direitos como cidadão” ou “como empregado”,
“comissão de direitos humanos”, “direitos dos LGBT”, “direito do menor” e
tantos outros exemplos, mas me falta um ímpeto para relembrar e
enumerá-los todos. Mas estes termos já preenchem nossos noticiários
diários, quando é narrado um desentendimento no elevador, um comentário
mal colocado, uma piada fora de hora, um crime, um atentado terrorista,
um entrevero num lugar público, e por aí vai.
Não…. O
mundo não era assim. Não posso explicar por que tudo está diferente,
embora tenha minhas hipóteses – mas, sou tomada por uma sensação de
estranheza no meu próprio planeta. Constato que a nossa civilização,
como a conheci, está qualitativamente mudando…. E, na minha opinião, não
é para um destino melhor.
No
judaísmo existe uma figura de linguagem interessante: o “pão da
vergonha”. Este termo designa aquela sensação ruim, de profundo
desconforto interno, que toma, desde criança, o ser-humano quando recebe
algo que sabe não merecer. Tenho muito respeito pela sabedoria, e aqui
me refiro ao judaísmo; e por favor não confundam este termo com
conhecimento. O judaísmo, cultura antiga, mas nunca antiquada, é uma
fonte inesgotável para quem quer um contato mais direto com a matéria
humana em toda a sua complexidade. Voltando ao “pão da vergonha”,
entendo este sentimento como algo universal, profundo, inerente à
condição humana na sua forma mais crua e essencial.
É mais do
que óbvio que pobreza, baixa escolaridade ou fome não podem tirar de
ninguém os seus direitos. Uso o verbo podem no sentido de ter o poder
de, literalmente. E, por esta ótica, também não podem tirar os seus
deveres. Um deve vir junto ao outro na conformação genética do homem
social. Mas, por algum motivo só se luta, fala e pensa nos direitos.
O
discurso que nos permeia é perverso, é nefasto, está corroendo e
destruindo a humanidade, e criando seres deformados, quase feras.
Todo homem tem o direito a ter deveres, assim como tem o dever de ter direitos!
Esse é o meu grito de alerta, que emito do fundo dos meus pulmões. Porque aí jaz o equilíbrio, a saúde e a justiça.
Uma sociedade que tem pena dos seus, apodrece.
Compaixão não é humilhação.
Pena é humilhação.
Compaixão
pressupõe julgar todos os cidadãos dignos de ter e de exercer seus
deveres, e não torná-los inferiores, incompetentes; é respeitar o
direito de todos os cidadãos de saberem-se capazes de ter atitudes
proativas, construtivas e criativas. Privar uma pessoa deste
conhecimento, através da sua infantilização assistencialista, fere dura e
ativamente sua dignidade. É humilhá-la. É trancá-la dentro de uma
padaria que fabrica pão da vergonha, é fazer com que ela pense que este é
o único alimento existente, é deixá-la morrer envenenada! Estão
maltratando e determinando a sentença de morte prematura da humanidade.
Não é o
aquecimento global que nos ameaça! É a fábrica de humilhados que estão
se tornando todas as comissões, ministérios, departamentos, governos,
órgãos internacionais que só falam em direitos humanos e que despejam
terroristas, assassinos, seres arrogantes e cínicos, treinados para se
entenderem merecedores do que não fizeram por. Seres que invejam aqueles
que têm deveres, que têm dignidade, e que, neles projetam seu profundo
sentimento de inferioridade, de desprezo e de ódio a si próprios. Essa é
a natureza humana expressa da forma mais estraçalhada possível.
Estamos
indo por um caminho totalmente equivocado. Estamos criando uma sociedade
que privilegia o direito ao dever, a indolência ao trabalho, a
criminalidade ao respeito, a arrogância à humildade, o autoritarismo à
autoridade.
A
humildade, ao meu ver, é uma grandeza advinda da lida corajosa com a
vida. A humilhação sim, é o resultado da arrogância e da pena.
Que sociedade é essa que estamos criando, meu Deus?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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