Escrevi
aqui ontem que a presidente Dilma Rousseff não está fazendo nem reforma
administrativa nem reforma ministerial. Ela se esforça apenas para se
livrar do impeachment. E o teatro de operações de suas manobras é o
PMDB. Acontece que, como diria um poeta de Minas, “o PMDB não há mais”. A
rigor, nunca houve. A máxima de que o partido é uma federação é
verdadeira. Há um núcleo de ideias comuns, alguns valores gerais que
unificam as correntes e só.
Os erros e
trapalhadas vão se acumulando. Toda ideia que vem para resolver um
problema logo se transforma em outro, aí inesperado. Pela ordem: 1)
Dilma jamais deveria ter anunciado um corte de ministérios sem saber o
que cortar; 2) Dilma jamais deveria ter atropelado instâncias
partidárias para oferecer pastas às bancadas da legenda; 3) Dilma jamais
deveria ter atrelado mudanças no governo à sua permanência no poder —
não desse modo desabrido, desmoralizante. 4) Dilma tem de saber que, da
forma como escolheu governar, vestir um santo corresponde a desvestir
outro.
As
evidências de degeneração estão em todo canto. Em tempos assim, até Sibá
Machado (PT-AC) ronca papo. Este incrível líder do PT na Câmara,
descontente com a perda de poder do seu partido numa eventual reforma —
deve ceder a Saúde para o PMDB e as Comunicações para o PDT e ver três
secretarias reduzidas a uma —, reuniu a bancada para pedir nada menos do
que as demissões de Joaquim Levy, Aloizio Mercadante e José Eduardo
Cardozo.
Por que os
três? Bem, querem Levy fora porque, na cabeça perturbada dos
companheiros, o ministro é causa da crise econômica, e não a sua
consequência. A Mercadante, de quem ninguém no PT gosta, atribuem as
trapalhadas políticas. E pedem que saia o também petista José Eduardo
Cardozo porque acham que ele não comanda a Polícia Federal a contento —
ou seja: livrando a cara de petistas.
Sejamos
objetivos: Sibá ser líder do principal partido do governo na Câmara é
sintoma de um tempo. Com todo o respeito, tenho, às vezes, a impressão
de que ele nem está inteiramente entre nós, se é que me entendem. Esse
líder pedir a defenestração do titular da Fazenda e de dois ministros
petistas quando o governo tenta não cair no abismo econômico e está
lutando para acomodar o PMDB para se livrar do impeachment, tudo isso é
evidência de uma necrose. Não tem retorno.
Não deixa de
ser emblemático que se tenha adiado para a semana que vem o anúncio da
reforma no dia em que o PMDB levou ao ar seu programa político com
críticas duríssimas ao governo, apresentando-se claramente como
alternativa de poder.
Escrevam aí:
ainda que se faça uma acomodação agora com alguns peemedebistas, haverá
os descontentes. Há ainda o risco de outros partidos da base se
sentirem injustiçados. A estabilidade, se vier, será de curto prazo.
Muito bem! Digamos que Dilma não caia… Ela fica pra quê, perguntaria
outro poeta. Que responderia: “Pra nada!”.
A crise é de
tal magnitude que imaginar que possa ser resolvida com um rearranjo de
interesses dos senhores da guerra do PMDB é certamente uma nova tolice.
Não é possível haver um governo cuja única meta seja não cair. Governo
assim já acabou faz tempo.
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