Na VEJA.com:
A análise das trocas de e-mails do empresário Marcelo Bahia Odebrecht e seus executivos revela a proximidade da maior empreiteira do País com Luiz Inácio Lula da Silva, durante seus dois mandatos (2003-2006 e 2007-2010), assessores e ministros do petista e as tratativas para atuação do ex-presidente em defesa dos interesses da construtora em negócios dentro e fora do Brasil, segundo reportagem da Agência Estado.
A análise das trocas de e-mails do empresário Marcelo Bahia Odebrecht e seus executivos revela a proximidade da maior empreiteira do País com Luiz Inácio Lula da Silva, durante seus dois mandatos (2003-2006 e 2007-2010), assessores e ministros do petista e as tratativas para atuação do ex-presidente em defesa dos interesses da construtora em negócios dentro e fora do Brasil, segundo reportagem da Agência Estado.
Em um
e-mail, segundo avaliação da PF, Odebrecht e dois executivos da
empreiteira, Marcos Wilson e Luiz Antonio Mameri, conversam com o então
ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel
Jorge. “Miguel Jorge afirma que esteve com os presidentes (do Brasil e
da Namíbia) e que ‘PR fez o lobby’, provável referência ao presidente
Lula”, registra análise prévia feita pela PF.
Na época, o
presidente do país africano era Hifikepunye Pohamba. Em 11 de fevereiro
de 2009, Lula o recebeu para um almoço no Itamaraty.
O primeiro
e-mail analisado da série é de 6 de fevereiro de 2009. Odebrecht e
executivos do grupo falam do convite do presidente Lula para almoço com o
presidente da Namíbia. “Marcelo, o Presidente Lula está lhe fazendo um
convite para participa de um almoço, com o Presidente da Namíbia, no dia
11/02 (quarta-feira), às 13h00, no Itamaraty, salão Brasília.”
No e-mail, o
executivo informa: “Entendo que pode ser uma boa oportunidade função de
nossa hidrelétrica. Seria importante eu enviar uma nota memória antes
via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por
nós”.
Alexandrino
Alencar, executivo ligado ao Grupo Odebrecht, o presidente da maior
empreiteira do País, Marcelo Odebrecht, e outros três ex-dirigentes da
companhia foram presos na Erga Omnes. Eles completaram 100 dias de
cárcere no último domingo, 27.
Eram 9h56 do
dia 11 de fevereiro de 2009, quando o executivo da Odebrecht Marcos
Wilson escreveu para o ministro. “Miguel, se você estiver com o
presidente Lula e o da Namíbia é importante que esteja informado sobre
esta negociação e, se houver oportunidade manifestar sua confiança na
capacidade desta multinacional brasileira chamada Odebrecht.”
O projeto em
questão, descrito no e-mail, é o de uma hidrelétrica, a Binacional
Baynes, que envolvia um consórcio brasileiro formado pela Odebrecht com a
Engevix – duas empreiteiras acusadas de corrupção na Lava Jato – e as
estatais Eletrobrás e Furnas, junto com a Namíbia e Angola. Investimento
de US$ 800 milhões.
Às 17h21, o
então ministro respondeu ao executivo. “Estive e o PR fez o lobby. Aliás
o PR da Namíbia é quem começou – disse que será licitação, mas que
torce muito para que os brasileiros ganhem, o que é meio caminho
andado.”
Para os
investigadores, a sigla “PR” é uma referência ao presidente da
República, usada em várias outras trocas de e-mails. A mensagem
eletrônica foi depois copiada a Marcelo Odebrecht.
Seminarista - Os
e-mails analisados pela PF, resultado da abertura de computadores e
caixas de mensagens recolhidos nas sedes da Odebrecht, alvo de buscas em
19 de junho, quando o empresário e outros cinco executivos do grupo
foram presos pela Lava Jato, revelam o monitoramento e as tentativas de
influir nas agendas do presidente Lula durante seu governo.
São
mensagens que começam em 2005 e seguem até o último ano de mandato do
presidente Lula, em 2010, convites de almoço, pedidos de encontro e
atuação do chefe da República em nome da empreiteira em países como
Venezuela, Peru, Angola e dentro do próprio governo.
Alexandrino, como se observa no corpos das mensagens seria um dos principais canais da empreiteira com o governo Lula.
No governo,
um dos alvos é uma pessoa identificada como “Seminarista” nas trocas de
mensagens, que para a PF é o ex-chefe de gabinete de Lula Gilberto
Carvalho. Em maio de 2005, por exemplo, a secretária de Odebrecht
encaminha documento para Alexandrino Alencar – executivo preso pela Lava
Jato. “Dr. Marcelo pede-lhe a gentileza de encaminhar ao Seminarista e
informar que o encontro com o Presidente está previsto para amanhã às
10h30″, informa.
Em setembro
de 2009, e-mail de Darci Luz encaminhou para funcionário da Odebrecht,
mensagem trocada entre Marcelo Odebrecht e executivos do grupo “sobre
investimentos e encontro com o Presidente do Peru, Alan Garcia, e
eventual mensagem ou orientação por parte do presidente Lula”.
“Seria
importante verificarmos com nosso amigo se existe alguma mensagem ou
orientação por parte do Pres. Lula para minha conversa com Alan Garcia.”
Em outra
mensagem aberta nos computadores apreendidos pela Lava Jato, Odebrecht
encaminha e-mail para outros executivos, em outubro de 2007, e na
conversa usa siglas e trata da agenda de Lula, que estava em visita a
Angola.
“Aparentemente,
os executivos da Odebrecht mantêm contatos com autoridades da embaixada
a fim de colocar em pauta, no encontro, assuntos de interesse da
construtora”, registra análise da PF.
Com o título
“Agenda Lula – URGENTE”, há citação a contatos no Itamaraty e o pedido
para inclusão de Emílio Odebrecht – pai de Marcelo – em agenda do
presidente “Rubio já fez os primeiros contatos junto ao Ita e me
informou que é tradição: cabe ao anfitrião a escolha dos 20 convidados.”
Na visita,
nos dias 17 e 18 de outubro, o empresário monitora a agenda do
presidente Lula, lembra que da última vez o pai, Emílio, foi um dos
convidados e reitera o pedido para incluir representante da empresa no
evento. “Importante incluir Emílio no almoço. Novamente, segundo o
Embaixador, é lado daí quem decide”.
No mesmo ano
de 2007, Odebrecht recorre ao “Seminarista” para resolver um problema
da empreiteira com um dos ministros do governo Lula. Marcelo pede a
Alexandrino que acione o “seminarista” para tratar de um leilão em que a
empresa participava e questiona a postura do então ministro de Minas e
Energia, Nelson Hubner.
“Alex, O
Hubner está querendo jogar o PR ainda mais contra nós. Importante você
fazer esta mensagem chegar no seminarista ainda hoje”.
Para a PF, a sigla “PR” é referência ao presidente e “seminarista”, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
Os
documentos analisados pela PF foram anexados na última sexta-feira, 25,
aos autos da Lava Jato pelo delegado Eduardo da Silva Mauat. São uma
pequena parte dos 392.842 mensagens abertas, sendo que nesse
levantamento foram analisados grupos específicos de mensagens de
interesse.
O que diz o Instituto Lula
Leia a nota da assessoria de imprensa do Instituto Lula:
“O e-mail é de autoria do ex-ministro Miguel Jorge, por isso cabe a ele falar sobre sua mensagem, que indica que o assunto foi levantado pelo presidente da Namíbia, dentro das relações entre os dois países. O Itamaraty detém as informações sobre o referido almoço e os presentes na recepção ao presidente da Namíbia. A visita oficial e o almoço do presidente da Namíbia fizeram parte da agenda do ex-presidente, publicamente divulgada para a imprensa naquele dia”.
Leia a nota da assessoria de imprensa do Instituto Lula:
“O e-mail é de autoria do ex-ministro Miguel Jorge, por isso cabe a ele falar sobre sua mensagem, que indica que o assunto foi levantado pelo presidente da Namíbia, dentro das relações entre os dois países. O Itamaraty detém as informações sobre o referido almoço e os presentes na recepção ao presidente da Namíbia. A visita oficial e o almoço do presidente da Namíbia fizeram parte da agenda do ex-presidente, publicamente divulgada para a imprensa naquele dia”.
O que diz Miguel Jorge
“Eu não me lembro desse episódio nem de como foi a reunião entre os dois presidentes, mas havia uma atuação institucional em favor de empresas brasileiras, sendo a Embraer uma espécie de cartão de visita da capacidade da indústria nacional. Em praticamente todas as viagens do presidente, havia reuniões com empresas, embora elas não viajassem com ele – mas, sempre, havia uma reunião pública e aberta, em que falavam o PR e ministros (das Relações Exteriores, ou do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ou da Agricultura (nessas duas regiões, havia um enorme interesse pelo trabalho de pesquisa da Embrapa). Nas reuniões do PR com outros presidentes, das quais participei, não havia a presença de empresas. Durante meu tempo no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, organizei mais de 10 missões comerciais, usando o Sucatão da Presidência, e cerca de mil empresas participaram dessas missões – empresas grandes, como Embraer, Sadia etc – e muitas médias e pequenas, que aliás, eram nossa prioridade.”
“Eu não me lembro desse episódio nem de como foi a reunião entre os dois presidentes, mas havia uma atuação institucional em favor de empresas brasileiras, sendo a Embraer uma espécie de cartão de visita da capacidade da indústria nacional. Em praticamente todas as viagens do presidente, havia reuniões com empresas, embora elas não viajassem com ele – mas, sempre, havia uma reunião pública e aberta, em que falavam o PR e ministros (das Relações Exteriores, ou do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ou da Agricultura (nessas duas regiões, havia um enorme interesse pelo trabalho de pesquisa da Embrapa). Nas reuniões do PR com outros presidentes, das quais participei, não havia a presença de empresas. Durante meu tempo no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, organizei mais de 10 missões comerciais, usando o Sucatão da Presidência, e cerca de mil empresas participaram dessas missões – empresas grandes, como Embraer, Sadia etc – e muitas médias e pequenas, que aliás, eram nossa prioridade.”
O que diz a Odebrecht:
“A Odebrecht esclarece que os trechos de mensagens eletrônicas divulgados apenas registram uma atuação institucional legítima e natural da empresa e sua participação nos debates de projetos estratégicos para o País – nos quais atua, em especial como investidora. A empresa lamenta, no entanto, a divulgação e interpretações equivocadas sobre mensagens sem qualquer relação com o processo em curso”.
“A Odebrecht esclarece que os trechos de mensagens eletrônicas divulgados apenas registram uma atuação institucional legítima e natural da empresa e sua participação nos debates de projetos estratégicos para o País – nos quais atua, em especial como investidora. A empresa lamenta, no entanto, a divulgação e interpretações equivocadas sobre mensagens sem qualquer relação com o processo em curso”.
O
ex-ministro Gilberto Carvalho negou ter recebido diretamente de Marcelo
Odebrecht ou Alexandrino Alencar qualquer sugestão para discursos em
agendas internacionais ou assuntos relativos à Odebrecht.
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