MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

'Problema da sociedade está no individualismo', diz voluntário de PE


Engenheiro Josemario Lucena dá curso de eletricista predial na periferia.
Dia Nacional do Voluntariado é comemorado nesta sexta-feira (28).

Katherine Coutinho Do G1 PE
Engenheiro ambiental Josemario Lucena decidiu se unir ao eletricista Arlindo de Freitas para criar um curso para ajudar moradores de uma comunidade do Recife (Foto: Katherine Coutinho/G1)Engenheiro ambiental Josemario Lucena (camisa lilás) decidiu se unir ao eletricista Arlindo de Freitas para criar um curso para ajudar moradores de uma comunidade do Recife (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Às vezes, basta você dar um pequeno incentivo para que uma pessoa consiga mudar a própria vida. É nisso que acredita o engenheiro Josemario Lucena, que tenta modificar a realidade de moradores da periferia do Recife por meio de um curso de eletricista predial. "Eu acho que o grande problema da sociedade está no individualismo, está na condição de você querer estar bem, na vantagem, mas não pensar na hipótese de compartilhar um pouco o que tem. Um pouco pode ajudar muita gente", afirma.
A gente tem uma sociedade com uma desigualdade enorme de renda e condições. Se cada um pensar ajudar o outro, a gente vai viver uma vida mais equilibrada"
Josemario Lucena
O Dia Nacional do Voluntariado é comemorado nesta sexta-feira (28) e foi instituído em 1985. Para Lucena, ajudar os outros é também buscar uma vida melhor para si mesmo. "Quando você apenas concentra poder e renda, deixa pessoas sem condições, sem futuro e você vira escravo. Você tem que pôr cerca elétrica, muro alto. A gente tem uma sociedade com uma desigualdade enorme de renda e condições. Se cada um pensar e ajudar o outro, a gente vai viver uma vida mais equilibrada", defende o engenheiro.
Nascido em Cupira, no Agreste de Pernambuco, Lucena só conheceu uma escola formal aos 10 anos. Atualmente, é engenheiro ambiental e mestre em ciências florestais. Foi da experiência pessoal  que tirou a inspiração para, há quatro anos, se unir ao eletricista Arlindo de Freitas e criar um curso para ajudar moradores de uma comunidade da capital. A única parceria é a organização não governamental Instituto Verde, que emite o certificado dado aos alunos.
Duas noites por semana, o engenheiro se dedica às aulas. "A gente percebe, morando em periferia, que tem pessoas boas, que querem ter uma vida, constituir uma família, mas não tem oportunidade. Gente com boa cabeça, inteligente, que não era aproveitada. Percebíamos que algumas dessas pessoas iam para um caminho sem esperança e para a malandragem", explica.
Duas noites por semana, o engenheiro se dedica às aulas para formar eletricistas (Foto: Katherine Coutinho/G1)Duas noites por semana, o engenheiro se dedica às aulas para formar eletricistas (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Ver um ex-aluno trabalhando, conseguindo pagar as contas, é uma das coisas que mais alegra Lucena. "É um sentimento grandioso, só quem tem esse desejo de ajudar é que compreende. Você observar um jovem desempregado, sem oportunidade e no fim do curso ele dizer que está trabalhando, não tem dinheiro que pague. É aquele sentimento de que você ajudou essa pessoa a pescar, a buscar o próprio alimento. Hoje ele tem uma independência e não precisa de ajuda de governo, do Lucena, de ninguém", conta.
O espaço ao lado da casa de Arlindo de Freitas ganhou o nome de Centro Educativo Lucena. A corrente de solidariedade iniciada pelos professores volta através dos alunos. "A gente compra os materiais, mas recebe doações também. Tem alunos que trazem quando sobra do serviço que fez ou doa mesmo para a escola", diz o eletricista, que faz planos para reformar o local e comportar mais alunos.
Rogério Holanda trabalhou como voluntário nas Copas das Confederações e do Mundo em Pernambuco (Foto: Rogério Holanda / Acervo pessoal)Rogério Holanda trabalhou como voluntário nas Copas das Confederações e do Mundo em Pernambuco (Foto: Rogério Holanda / Acervo pessoal)
Crescimento pessoal
O estudante Rogério Holanda, 22 anos, trabalha há quatro fazendo trabalho voluntário. De eventos a pesquisas da faculdade, ele sempre faz questão de participar pelo simples prazer de poder ajudar. "Tem aquela questão das pessoas criticarem o trabalho voluntário sem saber o que te leva a fazer, fica dizendo que você trabalha de graça. O retorno para a gente é em longo prazo. É experiência de vida que você ganha naquele tempo", explica Rogério.
Além de eventos em Olinda, onde mora, o estudante já trabalhou como voluntário na Copa das Confederações e na Copa do Mundo. O sonho agora é poder ser voluntário nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. "Eu gosto de trabalhar com o público. Você aprende a ter paciência principalmente, a saber como abordar as pessoas. Tem trabalho voluntário para todas as áreas. Falta interesse, as pessoas se apegam a bens materiais, dinheiro, remuneração e esquecem o resto", aponta.
Tem trabalho voluntário para todas as áreas. Falta interesse"
Rogério Holanda
Uma das experiências que marcou Rogério como voluntário foi encontrar uma turista japonesa perdida durante a Copa das Confederações em um ônibus. "Ela tentava falar com o cobrador e ele não entendia nem japonês nem inglês. Ela vinha pegar o ingresso em Boa Viagem. Eu me identifiquei, estava fardado e a ajudei. Não é apenas porque estava como voluntário, é questão de cidadania. Você dentro do ônibus, vê que alguém está perdido, não custa ajudar", afirma o estudante.
Encarar o trabalho voluntário como parte do papel do cidadão é uma questão também de educação. "Através da educação, você pode mostrar o que é o trabalho e mudar a cabeça das pessoas. Acho que é o que está faltando no mundo hoje, as pessoas serem mais voluntárias e menos egoístas. É preciso fazer o trabalho voluntário por prazer, eu quero fazer porque quero ajudar, dar o meu melhor como se estivesse sendo pago. Isso é interessante, porque quando você leva isso pro trabalho, esse espírito, o dinheiro é consequência", acredita Rogério.
Conhecer pessoas, como os torcedores japoneses, foi um bônus do trabalho voluntário, afirma Rogério [segundo da direita para esquerda] (Foto: Rogério Holanda / Acervo pessoal)Conhecer pessoas, como os torcedores japoneses, foi um bônus do trabalho voluntário, afirma Rogério [segundo, da direita para esquerda] (Foto: Rogério Holanda / Acervo pessoal)
Programação voluntária
O Dia do Voluntariado conta com exames gratuitos de ultrassonografias e mamografias para mulheres de comunidades de Olinda nesta sexta, das 13h às 17h. O atendimento é feito na Unidade Móvel de Saúde da Mulher estacionada no Centro de Convenções de Pernambuco.
No Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), no Recife,  acontece um um café da manhã com apresentações de dança, rap e show do grupo Doutores da Felicidade a partir das 8h. Às 10h, uma missa campal vai ser celebrada em ação de graças pela presença do voluntariado no HCP, sendo finalizada com um coral das voluntárias.
No sábado (29), acontece a formatura de 85 voluntários que vão trabalhar como contadores de história no Recife e em Caruaru. O evento acontece das 8h30 às 12h, no Centro de Formação de Educadores Professor Paulo Freire, no Recife, e comemora também os 12 anos de atividades do Instituto Viva História.
O Bairro do Recife é palco do Show do Bem, no domingo (10), em que 10 voluntários vão ser homenageados por suas contribuições. A abertura da festa fica conta do Coral de Voluntários da AACD, e em seguida sobem ao palco as cantoras Adriana B, Cristina Amaral e Polyana Resende. O coco também entra na programação, com apresentação da ONG Sempre Viva.
Vagas de voluntariado
Quem tem interesse em fazer trabalho voluntário, na capital, pode contar com a plataforma Transforma Recife, que une instituições e voluntários numa só rede. Ao todo, 340 instituições estão cadastradas no site, com vagas para diversos profissionais que querem ser voluntários.
Entre elas, há uma vaga para dentista, no bairro do Torreão, com disponibilidade para trabalhar duas horas por semana. Já no bairro da Boa Vista, por exemplo, há vaga para professor de capoeira, para atuar semanalmente, por uma hora.

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