É preciso mudar também o famigerado Estatuto da Criança e do Adolescente
Eu
sempre fico muito impressionado quando me lembro de que o líder do
governo na Câmara é o deputado José Guimarães (PT-CE). Ele tem uma visão
de mundo que é, como dizer?, simplória… Reagindo à afirmação do
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, segundo quem a
Casa vota até meados de junho a PEC que baixa a maioridade penal de
18 para 16 anos, o valente afirmou o seguinte:
“Se tem
uma matéria que nós precisamos ouvir bem os especialistas e as
entidades, é a da maioridade. Não dá para votar à queima-roupa. Vamos
com calma”.
Como? Ele
falou “à queima-roupa”??? Eis Guimarães. Os únicos que continuam a atuar
à queima-roupa no Brasil são os assassinos — agora, agem também “à
fura-roupa”. E as pessoas morrem, assim, bestamente. O que se quer é só o
fim da garantia da impunidade.
Dilma, que
não perde a chance de atravessar a rua para comprar uma briga inútil e…
perdê-la, voltou a se manifestar contra a proposta por intermédio de
Edinho Silva, ministro da Comunicação Social: “A presidente Dilma
Rousseff pediu para que a Casa Civil coordene grupo ministerial, para
que, além do que já tem sido pensado, a gente possa pensar outras
medidas para combater a impunidade, aumentar a pena dos adultos que se
utilizam dos adolescentes para a prática criminosa e pensar outras
medidas no sentido de melhorar o ambiente social”.
Coordenar o
quê? Por que o governo tem de se meter nisso? Aliás, por que Dilma faz
questão de ter uma opinião sobre qualquer assunto? Deixe isso para os
Reinaldos Azevedos, presidente, que não têm a obrigação de governar a
sociedade brasileira. Para que se meter no Congresso, como se ela,
Dilma, fosse mais guardiã dos interesses dos menores, e os deputados e
senadores, seus algozes?
Cunha já
afirmou que a “Câmara não vai interromper seu processo legislativo para o
governo formar grupo”. Nem deve. Até porque a gente já sabe que,
infelizmente, o Planalto entrou nesse debate com dados errados e com uma
tese furada. Dilma sustenta, por exemplo, sabe-se lá com base em quais
informações, que apenas 1% dos homicídios é praticado por adolescentes
de 16 e 17 anos.
Esse dado
não existe. É contabilidade mais criativa do que a de Guido Mantega. Se a
polícia chega à autoria de menos de 10% dos assassinatos, como Dilma
sabe a idade dos assassinos? Ainda que fosse verdade, já escrevi aqui,
cumpre lembrar: houve mais de 53 mil homicídios em 2013. Um por cento
desse total corresponde a 530. Qual é a proposta do governo? Deixar 530
assassinos impunes a cada ano?
Mais: o
governo diz que a mudança da maioridade “não resolve”. Não resolve o
quê? Um assassino preso será sempre uma solução para a sociedade em
relação ao crime que ele cometeu. Ninguém está a chamar a proposta de
política de segurança pública.
Ah, é
claro que o governo poderia ter se mexido nesse tempo. Poderia, por
exemplo, ter encaminhado mudanças no Estatuto da Criança e do
Adolescente, ampliando o tempo de internação compulsória de menores que
praticam crimes hediondos. Não o fez. Pretende, como de hábito, agir em
cima da hora, quando o Congresso decide fazer o que lhe compete:
legislar.
Infelizmente,
o governo entra nesse embate movido apenas por ideologia, sem nenhum
pragmatismo, esgrimindo dados falsos para vender fantasias. Dilma
deveria voltar para o seu lado de calçada, ocupar-se das tarefas do
Executivo, deixando que o Congresso exerça as suas funções e
prerrogativas.
De resto,
insisto, a única coisa à queima-roupa nesse debate são os assassinatos. A
sociedade brasileira há muito amadureceu a sua opinião e há muito fez a
sua escolha: quer o fim da impunidade.
Só para
encerrar: eu defendo, sim, a redução porque é o possível. De fato, eu
sou contra o estabelecimento de linha de corte para punir crimes
hediondos, inexistente em boa parte das democracias do mundo. Mais: a
PEC, se aprovada, dirá respeito apenas aos assassinos de 16 e 17 anos.
Isso não impede que se altere o tempo máximo de internação permitido
pelo ECA. Não vejo por que um assassino de 14 anos deva ficar retido, no
máximo, três anos.
Apenas a PEC é pouco. A sociedade quer mais do que isso.
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