Para realizar sonho de filha, mãe faz campanha para comprar câmera

Campanha #UmaCâmeraParaAnaCássia ganha força nas redes sociais.
Amigos se mobilizaram para ajudar na campanha.

Aline Nascimento Do G1 AC

Ana Cássia tem 12 anos e ama fotografar
(Foto: Arquivo Pessoal)

Uma paixão incomum pela fotografia faz Ana Cássia, de 12 anos, se destacar em seu meio. Com deficiência bilateral, ou seja, ela só ouve com a ajuda de um aparelho auditivo, astigmatismo, imperfeição na curvatura do olho e cardiopatia congênita, uma anormalidade na estrutura do coração, a jovem sonha em expressar a forma de ver o mundo através da lente de uma câmera fotográfica. Para realizar o sonho da filha, a mãe, então, resolveu fazer a campanha #UmaCâmeraParaAnaCássia.
A jornalista Golby Pullig resolveu fazer uma campanha na internet para arrecadar dinheiro e comprar o presente para a filha. Ela conta que a ideia surgiu depois que Ana viu uma câmera semiprofissional na internet. Golby estava procurando alguns materiais de trabalho, quando parou em uma página que aparecia uma câmera fotográfica. Ela disse que no mesmo momento a filha se apaixonou pelo equipamento e ficou pedindo uma.

"Eu estava vendo umas câmeras para mim e ela viu uma Nikon D 3.200 e disse que queria uma. Eu falei para ela que nem eu podia ter uma daquelas. Depois, ela estava conversando com  o pai e disse  que gostava de fotografia. Ele disse que quando ela crescesse poderia trabalhar como fotógrafa. Ela disse que já estava trabalhando como fotógrafa. Então, foi a partir dessa conversa que eu fiz uma postagem no Facebook e uma amiga veio com a ideia de fazer a campanha", explica.
A mãe postou na rede social a conversa da filha com o pai. Explicou que Ana era apaixonada por fotografias, que desde pequena pegava o celular dos pais e fotografava tudo que encontrava pela frente.

De acordo com a mãe, Ana gosta de fotografar tudo o que ver pela frente e tem um olhar aguçado (Foto: Arquivo Pessoal)

Com o incentivo da amiga, a jornalista criou uma página na internet com a hastag #UmaCâmeraParaAnaCassia. Ela explica que estipulou o valor de R$ 1mil para comprar o equipamento com o prazo de até 15 de maio. De acordo com Golby, em três dias a campanha já tinha arrecadado a metade do dinheiro.
"Arrecadei a metade em três ou quatro dias de campanha. Estipulei um prazo até 15 de maio, porque eu achei que ia demorar, nunca tinha feito isso. Procuro não expor meus filhos, como eu trabalho com mídia, eu evito julgamentos. Fiquei com medo de que pensassem que eu queria me promover ou estivesse me aproveitando", revela.
Segundo a jornalista, a paixão da filha pela fotografia existe desde pequena. Na época da rede social Orkut, Golby revela que o pai da menina criou um álbum chamado 'O olhar da Ana Cássia' e publicou as fotos tiradas por ela na rede social. A mãe revela que a filha gosta de fotografar todos os tipos de paisagens, animais, pessoas e os mais diversos ambientes.
"A Cássia sempre gostou de fotografar desde pequeninha. Ela tem essa coisa com a imagem, gosta muito de interagir, é natural para ela. Ela fotografa de tudo, quando a gente está em algum evento que tem os nossos colegas, ela já pega a câmera. Não é uma coisa comum para uma criança, pegar uma câmera daquele tamanho e querer sair fotografando", avalia.
Ajuda dos amigos
A ideia de comprar a câmera para a pequena Ana Cássia não atraiu só os amigos da família, mas os amigos de profissão de Golby. Logo que criou a página com a campanha na internet, jornalistas, fotógrafos, amigos do trabalho e aqueles que conhecem Ana Cássia, adotaram a campanha fazendo doações e ajudaram a divulgar.
Um desses amigos, o fotógrafo Diego Gurgel, gravou um vídeo, em que convida os amigos a fazerem suas doações, e postou em sua página pessoal. Ele conta que em menos de dois dias, as doações aumentaram significativamente.

Página da campanha criada na internet já arrecadou metade do dinheiro estipulado (Foto: Reprodução Vakinha Online)

"Em dois dias foi bem acessado e, inclusive, ajudou bastante nas doações. Quando a Golby lançou a campanha, eu vi que não tinha nada na conta. Eu decidi gravar o vídeo e foi aumentando as doações. Eu sempre incentivei os filhos da Golby, o Ariel fez um livro agora e eu fiz questão de fazer a foto da capa do livro. Ela já tinha me falado que a filha tem esse olhar diferenciado e que adora fotografar as coisas. Acho legal incentivar esse lado dela", contou.
Outro amigo que está ajudando a realizar o sonho de Ana Cássia é o diretor de fotografia do Instituto Acreano de Imagem, Marcos Vicentti. O fotógrafo doou uma bolsa de curso de fotografia para Ana. De acordo com Vicentti, o curso está previsto para começar no mês de maio e Ana vai aprender sobre as técnicas fotográficas, a manusear o equipamento e aprimorar o olhar aguçado que já tem.
"A Cássia sempre gostou de fotografias, dos equipamentos. Esses dias ela estava falando comigo que queria aprender a fotografar, aí nós, os amigos da Golby, resolvemos entrar na campanha, arrecadar um dinheirinho e comprar um bom equipamento para ela", esclarece. Vicentti explica ainda que durante as aulas uma intérprete vai ajudar na comunicação com a Ana Cássia.
Segundo a mãe da criança, a ideia inicial era comprar um equipamento simples, só para satisfazer os desejos da filha. Porém, com a insistência do amigo fotógrafo, ela decidiu comprar uma câmera semiprofissional. "Eu queria comprar qualquer câmera, só para satisfazer a vontade dela. Mas, o Marcão disse para gente comprar uma câmera boa. Ele já doou uma bolsa para ela e acredita que até lá a gente já tenha comprado uma câmera boa para ela", diz entusiasmada.

Como ainda não tem câmera, Ana Cássia tira suas fotos pelo celular (Foto: Arquivo Pessoal)

Problemas de saúde
Ana Cássia nasceu com três problemas de saúde. Com um ano de idade, passou pela primeira cirurgia no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para tentar corrigir o primeiro problema, a cardiopatia congênita.
Aos 2 anos e 6 meses, a mãe percebeu que a filha não ouvia os pequenos barulhos e desconfiou que ela tivesse algum problema auditivo. Durante um retorno médico na cidade de São Paulo, Golby confirmou as suspeitas e descobriu que a filha tinha uma deficiência auditiva bilateral, ou seja, sem o aparelho auditivo, Ana não ouve os pequenos barulhos e nem a voz humana.  Foi durante outra visita ao Incor que Golby descobriu o terceiro problema da filha. Ana tem uma imperfeição da curvatura dos olhos, conhecido como astigmatismo.
"Em 2003 viajei com ela para tratar do problema do coração, foi quando fez a primeira cirurgia, ela tinha 1 ano de idade. Com quase três anos, voltei a São Paulo para um retorno cardíaco, aproveitei e levei em outras especialidades. Fiz os primeiros exames e confirmaram o problema auditivo. Já com sete anos, também enquanto estava lá em São Paulo, percebi que a Ana lia muito próximo dos objetos. Ela gosta muito de gibi da turma da Mônica, então, comecei a perceber que olhava de pertinho, levei ao oftalmologista e ele confirmou", relembra a mãe.
Apesar de todos esses problemas de saúde, Golby explica que a filha é uma criança que supera as limitações impostas com muita energia e entusiasmo. "Estimulo a Cássia a ser quem ela é, e não ter pena de si. Agora como é adolescente, já sente a dor do preconceito vindo dos colegas, mas eu ensinei pra ela a dizer, pensar e sentir que o problema é deles", argumenta.