Fé: homem distribui quadros de missionário no interior do Acre

Missionário ficou conhecido pela população entre as décadas de 60 a 70.
‘Eu me sinto feliz por ver que as pessoas ainda têm fé nos dias de hoje’, diz.

Taís Nascimento Do G1 AC

Aldemir encomenda e distribui quadros de missionário irmão José (Foto: Taís Nascimento/G1)

Conhecido pela fé e devoção, Aldemir da Silva Santos, de 68 anos, encomenda e distribui há dois anos quadros de uma lenda da região do Juruá, o irmão José.  O missionário passou por Cruzeiro do Sul, distante 648 quilômetros de Rio Branco, entre as décadas de 60 e 70, passeava pelas redondezas levando fé e contando histórias. Aldemir conta que o missionário reunia as pessoas para ensiná-las o amor. A ideia de distribuir os quadros com fotos de irmão José, segundo ele, começou quando viu muitas coisas que o religioso falava acontecer.
“Não sei quando vou parar de distribuir os quadros, pois tudo que ele disse antes eu vejo hoje. As doenças desconhecidas, o amor que já se foi, o respeito que não existe mais. O amor ao qual me refiro é o amor pelo irmão, pelo próximo, de não se tirar a vida de ninguém. Então, eu deixo esses quadros com as pessoas para que elas tenham mais fé e amor”, explica.
Aldemir conta que conheceu o missionário quando o pai mandou que comprasse uma medicação para um corte no pé. Segundo ele, quando chegou ao local, viu o religioso deitado em uma rede e pediu a benção. Desde então, passou a acompanhá-lo em todas as suas missões.
“Cheguei lá e vi irmão José deitado naquela redinha. Eu tive um respeito muito grande. Pedi a benção a ele, e ele me abençoou,” conta.

Aldemir acompanhou o missionários em missões pelo interior do Acre (Foto: Taís Nascimento/G1)

Aldemir da Silva diz que o religioso contava histórias sobre o que ia acontecer. Em uma de suas andanças com o missionário, Aldemir diz que ouviu de sua boca que o Rio Japiim, localizado em Mâncio Lima, distante 36 quilômetros de Cruzeiro do Sul, jamais iria secar.
“Um dia, o irmão José pediu ao povo para que trouxesse água para benzer, então, as pessoas levaram a água. Então ele disse, 'meus irmãos podem trazer água por que não vai faltar'. Após cinco anos, o rio Japiim não secou mais,  quando as pessoas chegavam na beira se admiravam porque ele estava cheio demais.  Aí os mais idosos lembravam do que o irmão José falou, que não ia mais faltar água”, relembra.
Na época, segundo ele, o irmão José chegou a dizer que Cruzeiro do Sul, por ser uma terra abençoada, as pessoas um dia iriam atravessar o Rio Juruá a pé. Aldemir conta que a população chegou a achar que o manancial iria secar, mas, ele diz que a visão do missionário se concretizou com a construção da Ponte da União, que liga o primeiro e segundo distrito da cidade.

“O irmão José disse que Cruzeiro do Sul era abençoado e que chegaria o dia em que as pessoas atravessariam o Rio Juruá a pé. Elas achavam que o rio ia secar, mas na verdade era a ponte apenas”, diz.
Movido pelas histórias, pela fé, pela experiência de vida ao lado do missionário irmão José, Aldemir diz sentir satisfação no que faz hoje, distribuir os quadros às pessoas, e ver que  a fé ainda existe o faz se sentir alegre. “Eu me sinto feliz por ver que as pessoas ainda têm fé nos dias de hoje. Fico muito grato quando alguém me pede ou quando recebe com felicidade um quadro do irmão José”.
A jovem Camila Almeida, de 18 anos, conta que se sente gratificada ao receber um quadr com a imagem do missionário. Segundo ela, é uma prova de que a sua fé é reconhecida. “É algo muito gratificante, principalmente, para quem acompanha com admiração sua história. Creio em todos os seus feitos, e receber um quadro seu é uma honra imensa, uma prova de que minha devoção e fé no irmão José é reconhecida. Sinto-me muito lisonjeada.”
'A igreja não desfaz da fé dos antigos', diz padre
O representante administrativo da catedral de Cruzeiro do Sul, padre Francisco, diz desconhecer a fundo a história do irmão José, mas que a igreja não se incomoda do conhecimento e fé dos populares antigos da região que seguem o missionário.
“Eu e a igreja não sabemos bem da história do irmão. Os populares antigos que têm uma fé muito grande nele. A igreja não desfaz da fé dos antigos”, destacou.

Homem diz que distribui quadros para que as pessoas reforcem sua fé (Foto: Taís Nascimento/G1)