Alex Rosa diz que preparar corpo vai além da higienização e da maquiagem.
'Já tive até que reconstruir bigode', relembra profissional.
Na tanatopraxia, cuidado com o corpo vai muito além do caixão (Foto: Cristiane Paião/ G1)
Cemitérios de todo o país ficarão lotados neste sábado (2), quando é
celebrado o Dia de Finados. Apesar da morte ainda ser vista como tabu
por muita gente, há profissionais que fazem deste assunto uma carreira
para toda a vida. Como o tanatopraxista, que tem uma das funções mais
"nobres" deste mercado. É ele o responsável por deixar o corpo com a
melhor aparência possível para o último adeus dos entes queridos.
Alex Rosa aprendeu com o pai a trabalhar como
agente funerário (Foto: Cristiane Paião/ G1)
"É muito gratificante comparar o estado em que alguns corpos chegam com
o resultado de quando eles são entregues para as famílias. Arrumo o
cabelo, faço maquiagem, lixo as unhas, disfarço os machucados. Já tive
até que reconstruir bigode usando cabelo da parte de trás da cabeça.
Faço todo o possível para o caixão não ser lacrado. As pessoas não veem
esse trabalho, mas é importante. Para mim, é um dom", diz Alex Rosa, de
38 anos, coordenador de agentes funerários de uma empresa do ramo em
Sorocaba (SP).agente funerário (Foto: Cristiane Paião/ G1)
Há quase 20 anos na área, Alex conta que a "vocação" para lidar com os mortos veio ainda criança, por influência do pai, que tinha a mesma profissão. "Eu pedi para trabalhar na funerária e ele me colocou no café, porque não queria que eu fizesse esse trabalho. Mas eu queria descer pra fazer o serviço de auxiliar, e fui ficando. Passei de auxiliar para motorista, e depois participei do treinamento. Das três pessoas que fizeram o curso comigo, só eu fiquei, os outros desistiram”, destaca.
Alex lembra das dificuldades que enfrentou no começo da carreira, tanto por causa das técnicas da época quanto pela falta de experiência. "Hoje usamos uma máquina para extrair o sangue e injetar o líquido conservante, antigamente era tudo com seringa. A química que usamos já vem pronta do laboratório. Quando comecei tinha que misturar os produtos manualmente, por isso algumas vezes acabei deixando o corpo com uma cor diferente da que era pra ficar", relata.
Ao contrário de Alex, Rodrigo de Oliveira Andrade, de 28 anos, entrou no ramo por acaso. “Eu trabalhava na construção civil quando um amigo me indicou a vaga e eu aceitei. Foi fácil a minha adaptação, não tive dificuldade para dormir, para comer, para nada. No segundo dia do teste eu já fui aprovado", conta ele, que trabalha na área há 10 anos.
Tanatofluídos têm soluções químicas diferentes
para fazer a cor da pele voltar ao normal
(Foto: Cristiane Paião/ G1)
Preços variados e formação profissionalpara fazer a cor da pele voltar ao normal
(Foto: Cristiane Paião/ G1)
Os preços para quem pede o serviço de tanatopraxia variam de acordo com o grau de dificuldade e o tempo necessário para a preparação do cadáver. Para finalizar uma reconstrução facial depois de um acidente, por exemplo, um tanatopraxista pode levar até quatro horas. “A preparação do corpo com a tanatopraxia custa em média R$ 550 e inclui o processo de formalização [injeção de formol] e de maquiagem. Quando um moço sofreu um acidente de carro e teve afundamento de face, por exemplo, foi cobrado R$ 1.500. Mas quando é um corte no rosto ou um ferimento à bala, já está incluso”, conta Alex.
Para trabalhar na área da tanatopraxia o interessado deve fazer cursos voltados a profisisonais que já trabalham como agente funerário ou enfermeiro. As duas funerárias de Sorocaba oferecem o curso aos funcionários em parceria com uma empresa que produz os produtos utilizados na conservação dos corpos. As aulas são ministradas por professores de anatomia aposentados do Instituto de Biociências da Unesp, do Campus de Botucatu (SP), e incluem noções básicas de anatomia humana, dissecação, drenagem, injeção arterial, noções de biossegurança, entre outras informações. O curso dura em média cinco dias e é dividido em conteúdos teóricos e práticos.
O salário gira, em média, em torno de R$ 2 mil, contando com os benefícios, a insalubridade e a comissão por cada tratamento realizado durante as 12 horas de cada plantão.
Segundo Alex, este não é um serviço difícil, é delicado. “Você tem que saber lidar com a situação e entrar na casa da família nesse momento difícil. Ajudar a confortar e tentar ser o mais breve possível”, finaliza.
Segundo Alex, caixões de times também são uma forma de confortar a família (Foto: Bárbara Góes/ G1)
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