MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Venezuela passa por escassez de produtos da sua cesta básica


FOLHA DE SÃO PAULO
ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
A incerteza sobre o futuro político do país, por si só, já seria preocupação suficiente para os venezuelanos. Mas o problema está longe de ser apenas o real estado de saúde de Hugo Chávez.
Para a grande maioria da população, a preocupação de hoje é encontrar todos os produtos de que necessita nos supermercados.
O desabastecimento é o maior no país ao menos desde 2009, quando o Banco Central da Venezuela começou a mapear a "escassez" de produtos da cesta básica no país. Em janeiro, o índice bateu o recorde de 20,4%, isto é, de cada cem produtos procurados, 20 não estão disponíveis para compra.
Os mais escassos são justamente os produtos do dia a dia do venezuelano: açúcar, leite, farinha de milho, frango e azeite.
"Se não estão em falta os produtos, há apenas uma marca disponível. Para conseguir comprar tudo, tenho que ir em até quatro supermercados", conta a dona de casa Maria González, 42, com poucas sacolas na mão.
Para a também dona de casa Angela Almán, 60, outro problema é o limite de quantidade que os supermercados têm imposto à venda de determinados produtos.
"Não podemos mais fazer compras para o mês todo. É preciso sair todo dia à rua para ver o que se consegue comprar", reclama.
Ontem, partidos de oposição convocaram uma manifestação contra o chamado "pacotão vermelho" do governo, que inclui a desvalorização da moeda. O protesto reuniu cerca de 300 pessoas pela manhã na praça Brión, em Chacaíto, ao lado do coração financeiro de Caracas.
"Com todo o dinheiro que tem esse país, não era preciso adotar essas medidas que vão contra o povo venezuelano", disse o vigilante noturno Jesus Pinto, 62.
"É mentira atrás de mentira. Disseram que não iam desvalorizar a moeda nem aumentar a gasolina e vão fazer os dois", protestou a dona de casa Ivone de Aroca, 30.
A política de controle de preços, aplicada pelo governo venezuelano, é apontada como a grande vilã do desabastecimento.
O preço tabelado leva tanto a um aumento na procura por parte dos consumidores, que querem aproveitar os preços mais baixos, como a uma indisposição dos produtores e comerciantes de colocar produtos no mercado nesses valores.
"Além do controle de preços, outro fator que agrava o desabastecimento é a política de restrições do governo para importar produtos que são matérias-primas para a produção dos produtos", aponta o economista José Guerra, da Universidade Central da Venezuela.
Cenas de tentativas de saque e de disputa por alimentos em supermercados têm se multiplicado em todo o país, muitas delas, gravadas em celulares, vão parar nas redes sociais.
Os consumidores acusam proprietários de estocarem os produtos e não abastecerem as prateleiras por causa dos preços controlados.
Só que o desabastecimento não afeta mais somente os supermercados privados, mas também os subsidiados pelo governo, uma vez que a falta de estímulo à venda começa já entre os produtores.
O cenário tende a ficar ainda pior com a decisão do governo de desvalorizar o bolívar em mais de 30%, tomada há dez dias. O primeiro impacto já foi sentido no bolso: segundo o governo, o salário mínimo, que antes equivalia a US$ 476,15 (no câmbio oficial anterior de 4,3 bolívares fortes por dólar), passou a valer US$ 325, com a taxa a 6,3.
Para Guerra, outra consequência direta da desvalorização da moeda será o aumento da inflação, que em janeiro cresceu 3,3%, o maior aumento desde 2009.

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