MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Aos 25 anos, 'Tarados da Sé' só farão desfile na semana pré-carnavalesca


Saída pelas ruas de Olinda está cada vez mais complicada, diz organização.
"Tarado era mistura de ‘enxerido’ com ‘pegador'", explica um dos fundadores.

Do G1 PE

Tarados da Sé (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)Como muitos blocos brasileiros, o "Tarados da Sé" nasceu da brincadeira entre amigos e terminou virando uma das músicas mais famosas do carnaval pernambucano (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)
Um grupo de amigos estava em uma festa no Alto da Sé, em Olinda, no fim dos anos 1980. Eram músicos e compositores, jovens, com seus copos na mão, apenas observando as mulheres que passavam. Lourenço Gato, Luciano Padilha e João Sales resolveram fazer música dessa história, criando assim o hino ‘Tarado da Sé’, que traz no refrão o costume que eles mesmos tinham, ‘de copo na mão e procurando mulher’. Pouco tempo depois, os amigos acabaram criando a Troça Carnavalesca Mista Tarados da Sé, que completa 25 anos de folia em 2013.
Músico e um dos fundadores do Tarados, Gato lembra que a troça surgiu do pedido de amigos mesmo. “Quando começamos a cantar a música nas festas, o pessoal dizia que queria sair no bloco, perguntava quando era”, conta o fundador. A brincadeira tomou proporções que os amigos sequer imaginavam ser possível. “Nós nunca imaginávamos que teríamos milhares de pessoas cantando a música e brincando nas ladeiras com a gente”, confessa.
Assim como o público da troça cresceu, o número de pessoas nas ladeiras durante o reinado de Momo também não ficou para trás. Com isso, os fundadores resolveram que, em 2013, os Tarados da Sé vão sair apenas no dia 3 de fevereiro, uma semana antes da data costumeira do desfile. “A gente desistiu de sair no domingo de carnaval por que não tem condições, é muita gente e a troça acaba se desfazendo pelo caminho, as pessoas não conseguem acompanhar. Além disso, são 25 anos de Tarados... A gente não tem mais 25 anos, temos 50, 60. Não tem condições”, reconhece Gato.
Tarados da Sé (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)Organizadores dizem que bloco sempre protegeu
as foliãs e que os tarados não agarram ninguém
à força (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)
O fundador conta ainda que a troça tem apenas uma sede provisória, no Alto da Sé. “A gente não usa isso para ganhar dinheiro. Somos todos músicos e artistas, também trabalhamos no carnaval. É uma brincadeira entre amigos, o boneco sai só a convite de alguém ou quando sai a troça”, diz. Por isso, o desfile do dia 3 vai sair do Largo do Amparo, às 16h.
Boneco
Independentemente do dia do desfile, à frente da troça vem sempre um boneco gigante, de cabelos cacheados e a faixa ‘Tarado da Sé’, levemente inspirado em um dos fundadores, Luciano Padilha. “Ele é o tarado da Sé e eu que levo a fama”, brinca Lourenço Gato. “Todos nós éramos os tarados da Sé”, acrescenta Padilha, lembrando que a palavra ganhou outra conotação com o tempo. “A gente não agarrava ninguém a força”, ressalta. “A ideia da gente de tarado, nessa época, era mais uma mistura de ‘enxerido’ com ‘pegador’, não tinha essa de agarrar à força. A gente até protegia as nossas amigas”, conta Gato.
O boneco do Tarado tem uma história à parte, que reflete o espírito despachado que marca o grupo: originalmente, ele pertencia a uma troça de Olinda. “Aproveitamos um boneco que tinha sido roubado lá em Bairro Novo. Os componentes de uma troça brigaram entre si, roubaram o boneco e esconderam na casa de Luciano Padilha. Arrancamos a cabeça e fizemos o nosso boneco, que sai até hoje”, explica Gato.
A troça saía também com dois estandartes, feitos por vizinhos e amigos, mas os dois acabaram roubados ao longo dos anos e nunca foram substituídos, conta Lourenço. “A gente queria mesmo era brincar, não ligamos tanto. Você imagine, uma multidão de amigos pintando e bordando na Ladeira da Sé, é isso que importa para a gente”, destaca.
E o Tarado é um boneco muito ‘treloso’, entrega o músico, ao dizer que ele gosta de brincadeiras e também de aprontar por aí. “Teve um carnaval em que ele, literalmente, agarrou a boneca da [ex-prefeita] Luciana Santos em plena folia”, conta, relembrando o encontro entre os bonecos no meio do carnaval, que virou motivo para ainda mais brincadeira na troça.
Lourenço Gato e Luciano Padilha, fundadores do Tarados da Sé (Foto: Katherine Coutinho / G1)Lourenço Gato e Luciano Padilha, fundadores do Tarados da Sé (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Malícia
O nome ‘tarado’ por vezes gera comentários maldosos de algumas pessoas na rua, mas nada que ofenda Gato. “Hoje as coisas são levadas muito a sério, provavelmente não teríamos a troça com esse nome se fosse criada agora. A música do ‘Tarado’ pode ser escutada sem problema até por criança, temos essa preocupação”, ressalta.
No troça, quem tentava agarrar as mulheres à força era logo afastado do grupo. “A gente não queria e não quer essas coisas. Quem sai no Tarados sai porque tem uma identificação com o boneco, com a ideia da brincadeira, quer conhecer uma ou várias pessoas. A gente está ali para se divertir”, afirma Gato.

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