MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Anos de prática ajudam carregadores a levar bonecos gigantes por Olinda


Maioria dos carregadores começa ainda na adolescência a levar gigantes.
Resistência física, equilíbrio e passo de dança são pré-requisitos.

Katherine Coutinho Do G1 PE

Na terça-feira de carnaval, aproximadamente 100 bonecos gigantes desfilam por Olinda. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Na terça-feira de carnaval, aproximadamente 100 bonecos gigantes desfilam por Olinda. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Os bonecos gigantes fazem parte da tradição do carnaval de Olinda, encantando foliões tanto pernambucanos quanto de fora do estado, principalmente na terça-feira de carnaval, quando eles saem em cortejo pela cidade. Pesando de 12 a 50 quilos, eles são carregados nos ombros e equilibrados na cabeça dos carregadores, ou ‘bonequeiros’, como às vezes também são chamados, por quase duas horas nos dias de folia. Um desafio para a resistência física, mas nada que anos de prática não ajudem a enfrentar, garantem.
Paulo, Castelo e Ericson carregam bonecos gigantes desde a infância. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Paulo, Castelo e Ericson carregam bonecos gigantes
desde a infância. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Ericson de Oliveira, de 22 anos, começou a carregar bonecos com sete anos de idade. “Todo mundo começa com os bonecos mirins, passa para os maiores com 17, 18 anos”, conta Oliveira. Durante o ano, trabalha com construção civil, mas sem esquecer os preparativos para o que realmente gosta: dar vida aos bonecos gigantes durante a folia. “Você tem que dar uma malhadinha e tem que comer bem, para não ter fraqueza”, avisa.
Preparo físico, resistência, equilíbrio e passo de dança, mas não qualquer passo. É um passo de ‘gigante’, para dar vida aos bonecos gigantes, uma das marcas do carnaval de Olinda. Esses são os pré-requisitos para conseguir carregar os bonecos durante a folia, acredita o artista plástico Silvio Botelho. “O passo é três vezes maior que um normal para o boneco parecer de verdade”, exemplifica.
Castelo não troca os bonecos por profissão alguma. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Castelo não troca os bonecos por profissão
alguma. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Perto da folia, vêm também os treinos, para não perder a prática. Williamis Idelfonso da Silva, mais conhecido como Castelo, admite já ter caído três vezes com um boneco sobre os ombros, mas nada que o desanime. “Minha vida é isso aqui. Quando não estou carregando, estou reformando um dos bonecos. Só gosto de trabalhar com isso”, explica Castelo, que é também um dos assistentes de Botelho.
O peso do boneco parece dobrar ao longo do percurso. “A primeira meia hora é tranqüila, mas depois parece que o boneco pesa uns 40 quilos em vez de 15”, conta Castelo. As ladeiras de Olinda, históricas e feitas de pedras, podem parecer um desafio a mais, porém não preocupam os carregadores. “Qualquer ladeira a gente enfrenta, sabemos onde estão as pedras, é tranqüilo”, conta Oliveira.
Além de agüentar o peso dos gigantes, é preciso estar sempre atento, principalmente com as crianças. “A mão do boneco é pesada. Quando a gente está no meio da multidão, tem que ficar girando, porque senão o pessoal puxa e o boneco fica ainda mais pesado. Só que tem uns pais que põem o filho no ombro e chega perto da gente, não para pra pensar. A gente fica preocupado, nem sempre dá para ver”, alerta Castelo.
Paulo inventou uma história para realizar o sonho de carregar o Homem da Meia-noite. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Paulo inventou uma história para realizar o sonho de levar
o Homem da Meia-noite. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Homem da Meia-noite
O trabalho exige dedicação e também gosto pelo que se faz. Aos 27 anos, Paulo César Santos fazia bonecos de caixote quando criança. “Eu via passar e também queria levar um”, lembra Santos, que depois passou a carregar os bonecos mirins, mas sempre atrás de um sonho: carregar o Homem da Meia-noite, o gigante mais ilustre da cidade. Até que surgiu a oportunidade. “O terceiro carregador passou mal e eles precisavam de alguém. Eu menti, disse que já tinha carregado, fizeram um teste comigo e me chamaram”, lembra orgulhoso.
Santos acabou sendo o terceiro carregador do calunga durante dois anos. “São cinco horas de desfile, ninguém agüenta tanto tempo, por isso são três. Ainda mais que ele é o mais pesado de todos, pesa uns 50 quilos”, explica o carregador. E além do peso, há diferença? “Com certeza, quando ele sai da sede, não dá para explicar, é uma emoção muito grande. Não tem como você não se envolver”, acredita.

Há alguns anos, Santos sofreu um acidente de moto e ficou com a perna machucada. Não pode mais participar da tradicional corrida de bonecos, pois a perna não aguenta, mas não deixa de carregar um dos gigantes na folia. "Tem que ter resistência física, eu tenho. Estou acostumado, só não dá para correr", garante Santos, que trabalha também como artista plástico em Olinda.
Depois de uma hora carregando qualquer boneco, independente do peso, a sensação é a mesma. “A gente fica com o pescoço duro, parecendo o Robocop. Tem que beber muita água para aguentar, é puxado, mas vale a pena. A gente dá vida a eles, você vê que a galera até esquece que tem alguém ali carregando”, diz Santos.
Quando as pessoas seguram ou puxam as mãos, boneco parece mais pesado. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Quando as pessoas seguram ou puxam as mãos, boneco parece mais pesado. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário