O Estado de S.Paulo
Cenário: Márcia Vieira Tão forte quanto a paixão de Oscar Niemeyer pela "curva livre e sensual" era sua resistência a andar de avião. Tinha pavor. Fugia sempre que possível. Não era nada racional, como costumava dizer. Era só medo mesmo de andar nas alturas. Quando não tinha jeito, procurava coragem em doses generosas de uísque antes de embarcar. Também mantinha distância de celebrações religiosas. Mesmo tendo crescido numa família muito católica, daquelas que mandavam rezar missa em casa todos os domingos, Niemeyer deixou de acreditar em Deus quando se converteu ao comunismo aos 20 e poucos anos. Achava o mundo injusto demais para aceitar a existência divina.
Ontem, por decisão da família, seu corpo foi colocado duas vezes em um avião no percurso Rio-Brasília-Rio. Antes disso, também por vontade da viúva e dos netos, uma missa em sua homenagem foi celebrada na capela do hospital, onde ficou seus últimos 33 dias de vida. Niemeyer era ateu, mas gostava de projetar igrejas, catedrais e templos. "Ao desenhar uma igreja, o arquiteto sente, surpreso, como esta é generosa como tema arquitetural", explica na apresentação do livro que reúne estes trabalhos. Niemeyer admirava quem tinha fé. "O prazer que sinto em ver uma obra bem realizada é muito menor do que a importância que lhe dão aqueles que vão frequentá-la, pois ali acreditam estar perto de Deus."
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