MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

'Parei em mais de 50 comandos', diz dono de Brasília que viajou 11 mil km


Viagem com carro de 1978, batizado de 'Velhoster', terminou em Araraquara.
Aventureiro percorreu seis países da América do Sul com o veículo antigo.

Felipe Turioni Do G1 São Carlos e Araraquara

O aventureiro no Salar de Yuni, na Bolívia (Foto: Arquivo Pessoal)O aventureiro e seu 'Velhoster' no Salar de Yuni, na
Bolívia (Foto: Arquivo Pessoal)
Após 31 dias e 11,5 mil quilômetros rodados em seis países com uma Brasília 1978, o agente de viagens Ney Mello Júnior, de 31 anos, retornou ao seu ponto de partida, em Araraquara (SP). “Parei em mais de 50 comandos policiais. Eles vinham conversar para saber o que eu estava fazendo, sem deixar de fazer piadas”, relata o aventureiro que sabe dos riscos que corria a com o carro de mais de 30 anos pelas estradas.
Na bagagem, além das roupas reforçadas para o frio que enfrentou, kits de alimentos e uma bicicleta, o araraquarense trouxe experiências acumuladas durante os dias de viagem pelo Brasil, Bolívia, Peru, Chile, Argentina e Paraguai, lugares onde chamou atenção com seu carro, apelidado de "Velhoster".

"Nós éramos atração por onde passávamos, todo mundo via e se aproximava para conversar”, relembra Júnior em entrevista ao G1. Na cidade de Potossí, na Bolívia, chegou a ser seguido por um morador que tinha um carro idêntico ao dele. “Ele viu a Brasília na estrada, pegou a moto e foi atrás de mim porque queria conversar, depois fomos à casa da namorada dele, me mostrou o carro e tiramos fotos das duas”, conta. “Ainda me disse que quer fazer o mesmo em breve, dou todo apoio”, diz Mello Júnior.
Segundo o araraquarense, até mesmo os policiais que faziam fiscalização dos carros o paravam porque ficaram curiosos, afinal, o carro era bem antigo para tantas pistas sinuosas. “A estrada era bem pior do que eu imaginava e em muitos momentos pensei que o carro fosse quebrar, mas ela é resistente” comemora. Por isso, o apelido "Velhoster" dado ao carro, uma brincadeira com sua Brasília e o potente carro sul-coreano.
Mecânica
Durante todo o percurso, a 'companheira' de viagem apresentou problema em apenas três situações, que acabaram proporcionando bons momentos ao aventureiro. “Depois da subida na Cordilheira dos Andes o carro esquentou e a bomba de combustível quebrou. O incrível é que o carro só parou quando eu cheguei em uma rua na frente da casa de um senhor, que curiosamente se chamava Angel [anjo, em inglês], que me levou no mecânico e me ajudou muito em Arequipa”, celebra o araraquarense.
Pela estrada peruana, uma das mais íngremes por onde passou na viagem, Júnior saiu dos 100 metros de altitude aos 2,4 mil metros em duas horas. A chegada foi no dia do aniversário de 472 anos da cidade no Peru. “Tinha muitas festas e apresentações em diversos lugares e teatros, e com o carro quebrado pude conhecer outra Arequipa”, justifica.
Um das estradas por onde o agente de viagens encontrou desafios para a passagem (Foto: Arquivo Pessoal)Um das estradas por onde o agente de viagens encontrou desafios para a passagem (Foto: Arquivo Pessoal)
Apesar dessa experiência positiva, o araraquarense ficou preocupado quando se perdeu em uma pista entre Santa Cruz de la Sierra e Sucre, na Bolívia. “A estrada era bem pior do que eu imaginava e tive que rodar em primeira marcha a 30 quilômetros por hora durante um dia inteiro para chegar a lugar nenhum e perceber que estava perdido”, lembra. Ele acabou indo para o vilarejo de Pojo. “Não estava na rota, mas valeu à pena, conheci gente muito receptiva, que me ajudou a resolver um problema no freio”, explica.

Além desses dois casos, o cabo de embreagem da Brasília quebrou em Aiquile, também na Bolívia. Todos os problemas mecânicos foram considerados pequenos pelo aventureiro. “Ela é minha queridinha e se comportou muito bem durante a viagem”, comemora.
Estrada da morte foi um dos percursos mais temidos pelo viajante de Araraquara, SP (Foto: Arquivo Pessoal)Estrada da morte foi um dos percursos mais temidos pelo viajante de Araraquara, SP (Foto: Arquivo Pessoal)
Estrada da Morte
A passagem pela Estrada da Morte, uma das mais temidas na rota montada com antecedência, foi um dos momentos mais inesquecíveis para Júnior. A descida de La Paz a Coroíco foi feita com a bicicleta que Júnior levou no bagageiro do carro. “Subimos de van por uma estrada paralela e descemos sob duas rodas e foi inesquecível pelas paisagens”, afirma.

Durante a descida, a velocidade da bicicleta chegou aos 70 quilômetros por hora, segundo ele. “Em uma curva, quando reduzi a velocidade, os pneus derreteram e perdi praticamente as duas rodas”, comenta.
Júnior com crianças bolivianas, no início da viagem (Foto: Arquivo Pessoal)Júnior com crianças bolivianas, no início da viagem
(Foto: Arquivo Pessoal)
Desânimo
Além dessa experiência e das outras vividas na Bolívia, o agente de viagens conta que não se esquece da primeira impressão que teve quando chegou ao país que o fez pensar em desistir da viagem em alguns momentos. “A situação social da Bolívia é muito pior que a nossa e me deu desânimo em ver aquelas cidades tão sujas”, lamenta.
Contribuiu para seu abatimento, logo nos primeiros dias de viagem, o fato de ter perdido sua carteira de habilitação. “Cheguei na fronteira e na hora de apresentar os documentos não tinha a CNH, mas tinha uma autorização internacional que me permitiu passar”, explica. O documento foi encontrado logo depois. Tinha caído entre os bancos do carro.
Impressões
Dos outros países por onde Júnior passou, a Argentina também chamou sua atenção. “Os argentinos me surpreenderam e fui muito bem recebido, coisa que não imaginei que aconteceria, é um pessoal simpático, apesar da fama”, comenta.

Entre as paisagens, destaca o Salar de Yuni, considerado o maior deserto de sal do mundo, o Deserto do Atacama, Machu Pichu e as linhas de Nazca. “É um dos enigmas da natureza e é impressionante de se ver.” A atração turística, um conjunto de figuras, foi visualizada de um monomotor.

Das comidas que experimentou, o viajante diz que enjoou das tradições bolivianas e gostou da carne de lhama, servida no Peru. “Na Bolívia, eles comem muito arroz e frango e gostam de misturar tudo com ketchup e maionese, não é gostoso. Mas no Peru, a carne de lhama é muito saborosa”, relembra.
O diário da viagem feita por ele está na internet, em um blog que foi atualizado durante o percurso.

Próximos desafios
Segundo Júnior, o próximo desafio com a Brasília será uma espécie de rally. “Quero juntar carros antigos para fazermos rotas e viagens juntos”, diz. Sobre repetir o trajeto, o aventureiro diz que quer passar por uma nova experiência, mas com mais tempo. “Preciso de pelo menos um ano em cada país para aproveitar tudo o que têm a oferecer”.

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